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Ex-assessor de Trump confessa que mentiu ao FBI sobre contato com a Rússia

Michael Flynn, ex-assessor de Segurança, negociou com embaixador de Putin após expulsão de diplomatas

Jan Martínez Ahrens
Michael Flynn antes de ser destituído de seu cargo na Casa Branca
Michael Flynn antes de ser destituído de seu cargo na Casa BrancaJim Bourg (Reuters)
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O cerco a Donald Trump se fecha. O antigo assessor de Segurança Nacional, Michael Flynn, aceitou as acusações de falso testemunho ao FBI apresentadas pelo promotor especial da influência russa nas eleições dos EUA  Robert Mueller. Esse passo, que pode causar uma pena de cinco anos, significa um claro indício de que Flynn começou a cooperar com a Justiça. Um fato importantíssimo que coloca a Casa Branca contra as cordas em um explosivo caso que já tem outros três acusados: um assessor eleitoral que deu falso testemunho sobre suas conexões com a Rússia, assim como o antigo chefe de campanha Paul Manafort e seu sócio Rick Gates, por fraude e crimes fiscais.

O ponto central da acusação são duas conversas mantidas por Flynn com o embaixador russo, Sergey Kislyak, no ano passado. A mais grave ocorreu em 29 de dezembro e aconteceu no mesmo dia em que Obama anunciou a expulsão de 35 diplomatas russos por ingerência do Kremlin durante a campanha eleitoral. Seu objetivo era acomodar a resposta de Vladimir Putin a essas sanções. Flynn, no Governo e em segredo, deu a entender ao embaixador que se Moscou moderasse seus atos, seria mais fácil para que eles reequilibrassem as relações após a posse de Trump em 20 de janeiro. Após essa conversa, o Kremlin decidiu não realizar nenhuma represália contra os Estados Unidos.

Quatro dias depois da posse do presidente, Flynn, já nomeado assessor de Segurança Nacional, foi interrogado pelo FBI e negou formalmente ter discutido com o embaixador russo as sanções ao Kremlin. Essa versão caiu quando os agentes federais receberam as gravações obtidas pelos serviços de contraespionagem norte-americanos. As escutas, em poder da promotora geral interina, Sally Yates, abriram uma profunda crise.

Flynn não só havia negado as conversas com Kislyak ao FBI, como também ao vice-presidente, Mike Pence, e à opinião pública. Essa mentira lhe fazia suscetível, segundo o Departamento de Justiça, de chantagem por parte do Kremlin. Yates pediu por isso sua destituição imediata. O perigo, no seu entendimento, era extremo: um dos principais responsáveis pela segurança dos Estados Unidos estava faltando com a verdade e dançava conforme a música do Kremlin. Trump não respondeu. Deixou o tempo passar e só depois que o Washington Post revelou duas semanas depois as conversas com Kislyak, se desfez de Flynn. O general durou apenas 24 dias no cargo.

Acabava assim a carreira de um dos militares que mais brilhou na última década. Sob o mandato de Barack Obama, Flynn foi uma das estrelas ascendentes do Exército. Brilhante e disruptivo no campo de batalha, esteve encarregado das operações de inteligência de unidades de elite como os SEAL e a Delta Force, e em 2012 passou a dirigir a Agência de Inteligência Militar. Nesse posto, sua carreira teve o primeiro percalço. Sua incapacidade para o diálogo, suas contínuas agressões verbais a subordinados e chefes e sua acentuada islamofobia quebraram sua liderança. Em 2014 foi destituído por “insubordinação”.

Após deixar o emprego militar, o general abriu uma consultoria, a Flynn Intel Group. Um negócio de influência que não demorou a cair na órbita da Rússia e da Turquia. Como assessor recebeu pagamentos da empresa de cibersegurança Kaspersky e da empresa aérea Volga-Dnepr. Trabalhou também para o grupo midiático estatal russo RT, considerado pela CIA como um dos elos da campanha de intoxicação contra Hillary Clinton. Mimado pela Rússia, em 2015 chegou a participar de um jantar público em que se sentou na mesma mesa de Putin.

Desse universo, foi um dos primeiros militares de alto escalão que partiu em apoio à candidatura de Trump. Respaldou seus ataques à comunidade islâmica e chegou a dizer que “o medo aos muçulmanos é racional”. Radicalizado, pediu a prisão de Hillary Clinton pelo caso dos e-mails e não teve dúvidas em seguir o republicano em seus flertes com Moscou. Tudo isso o situou na esfera mais próxima ao futuro presidente. E também, passados os meses, no centro da investigação pela trama russa.

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