“Meghan Markle? Melhor se fosse a amante”: as derrapadas racistas e classistas da imprensa britânica
Críticas fortes são feitas a alguns meios de comunicação britânicos por causa da cobertura do anúncio do casamento na família real
“’Divorciada. Americana. Atriz’, escreve o Daily Mail, ao mesmo tempo em que se pode ouvir como vomitam por todos os lados horrorizados”. A escritora e colunista Hadley Freeman não estava fora de si quando tuitou na terça-feira a respeito da cobertura do anúncio do casamento entre Meghan Markle e o príncipe Harry pelos tabloides britânicos.
E não foi a única. Durante todo o dia, jornalistas e diversos veículos criticaram a cobertura sobre o anúncio do casamento por parte de alguns setores da imprensa. Tampouco foi a primeira vez que isso se deu. Já em 2016, por meio de seu setor de comunicação, o príncipe Harry emitiu uma nota definida por ele mesmo como “incomum” em que denunciava o “racismo e sexismo” presentes nas informações sobre sua namorada e se mostrava preocupado com o “abuso e assédio” em relação a Markle na cobertura da mídia sobre sua relação. Os mesmos modelos criticados nessa nota parecem continuar se reproduzindo nos tabloides britânicos ao noticiarem o noivado, não tanto pela notícia pertinente de que uma casa real bastante presa ao passado se modernize, mas sim pelo tom e os sinais supostamente irônicos de algumas publicações e que, para muitos, escondem uma mentalidade racista, classista e sexista e com um certo antiamericanismo em relação à futura integrante da família real britânica.
BREAKING: Prince Harry's fiance Meghan Markle says early press focus on her mixed-race background 'disheartening.'
— The Associated Press (@AP) November 27, 2017
A jornalista Lisa Ryan reuniu em The Cut alguns dos casos. Dentre eles, está “as americanas pegam os britânicos porque chupam bem”, tal como insinuou Tatler em um texto sobre o casal (“as garotas americanas sempre fazem sexo oral muito antes do que as britânicas porque não veem isso como sexo”). Ou: “em outras épocas ela seria a amante”, como escreveu The Spectator (“alguém precisa dizer isso: 70 anos atrás Meghan Markle seria o tipo de mulher que o príncipe teria como amante, não como esposa”); ou, ainda: “não é uma Kate Middleton!”. Nessa mesma linha vai um texto do The Sun em que se descrevem as diferenças entre as duas, exaltando a “rosa britânica Kate” por sua classe ante a “família divorciada” ou desabonando o estilo de Markle (“saias de couro justas” e “camisetas largas de algodão”) ante o estilo de Middleton, que “irradia sofisticação”.
The @spectator publishes thinly veiled racist criticism of the talented and beautiful Meghan Markle. What a joyless, unpleasant and mean piece! So much for your magazine being for thoughtful, literate conservatives. This was sub-par Daily Mail twaddle. pic.twitter.com/IKqa9N2rHV
— Snigdha/Aethelthryth (@snigskitchen) November 27, 2017
Meghan Markle aproveitou o anúncio do noivado, na segunda-feira, para dizer que se sente afetada por esse tipo de cobertura. Segundo declarou, quando a imprensa focou a questão de sua raça nas primeiras coberturas sobre o relacionamento (ela é filha de mãe negra e pai branco), sentiu esse fato como algo “desanimador”. Não se sabe se continuará tendo esse sentimento, no momento em que esse aspecto continua sendo priorizado quando se fala dela.