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Neste Black Friday, lembre-se: investir em experiências te faz mais feliz do que comprar objetos

Estudos apontam que viver bons momentos têm mais efeito sobre o bem estar do que adquirir coisas

Jaime Rubio Hancock
Compradores da Black Friday em São Paulo
Compradores da Black Friday em São PauloPaulo Whitaker / Reuters
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É quase impossível fugir das ofertas da Black Friday: vemos em cartazes pela rua, nos anúncios de qualquer página na internet e chegam até nós por e-mail e até por mensagem no celular. Ao final, é difícil não comprar nada. E depois é possível que nos sintamos bem. Mas também pode ser que acabemos com a sensação de ter comprado algo de que não precisávamos e que acabará esquecido em alguma gaveta.

Há duas formas de evitar esse sentimento: a primeira, obviamente, é não comprar nada; a segunda consiste em gastar dinheiro em experiências (como viagens, jantares ou shows, por exemplo), em vez de objetos. “E por que isso?”, você se pergunta enquanto segura o cartão de crédito na mão.

1. Os objetos perdem a novidade, mas as lembranças melhoram. “Nossa memória das experiências se distorce com o tempo: você esquece a viagem horrível de avião e só relembra os momentos de felicidade relaxando na praia”, escreve o psicólogo Richard Wiseman em seu livro 59 segundos, citando estudos dos também psicólogos Leaf Van Boven e Thomas Gilovich. Os objetos, por sua vez, logo se tornam “velhos, gastos e defasados”. Esse novo celular será pouco mais do que um tijolo em um ou dois anos e esses sapatos acabarão com buracos nas solas em alguns meses.

2. Os objetos não cobrem nossas necessidades psicológicas. O psicólogo Juan Castilla, especialista em psicologia positiva, explica que com frequência compramos com a intenção de suprir outras necessidades. De fato, a publicidade com frequência joga com essa ideia. “Por exemplo, alguns carros são divulgados com a ideia de liberdade”. No entanto, os objetos costumam ser “um reforço relativamente imediato”, mas menos duradouro.

“As experiências, se você acerta, podem ajudar mais”, afirma Castilla. Por exemplo, uma viagem ou um tempo no spa podem nos ajudar a nos livrar do estresse, e um jantar romântico com nosso cônjuge (que pode ser em casa) talvez reforce nossa autoestima.

3. Dar é melhor do que receber. Parece um clichê, mas é sustentado por estudos: “Quem gasta uma porcentagem maior de sua receita com os outros é mais feliz do que quem gasta consigo mesmo”, escreve Wiseman, citando um trabalho da psicóloga Elizabeth Dunn, que pesquisou britânicos e lhes perguntou de que maneira avaliam sua felicidade, além dos dados de quanto ganham e do dinheiro que gastavam consigo mesmos, em presentes e donativos para ONGs.

Wiseman também explica como o neuroeconomista William Harbaugh deu 100 dólares (virtuais) aos participantes de um de seus experimentos e fez uma ressonância magnética do cérebro deles enquanto perguntava se queriam doar parte de seu dinheiro a uma ONG. Quando o fizeram, ativaram-se as mesmas regiões que entram em funcionamento quando satisfazemos nossas necessidades mais básicas, como comer alimentos saborosos ou nos sentirmos valorizados pelos demais.

Castilla concorda: “Há muitos estudos que mostram que dar sem esperar nada em troca aumenta a felicidade”. Ou seja, é ainda melhor para nossa satisfação pessoal dar um presente (que pode ser uma experiência a compartilhar) ou, simplesmente, não comprar nada e doar esse dinheiro.

4. Nem precisa gastar dinheiro. Castilla acrescenta que, além de presentear, também aumentam nossa felicidade “os atos de amabilidade, a gratidão e lembrar duas ou três coisas prazerosas que tenhamos feito no mesmo dia”. Este último porque “nos ensina a valorizar o presente”.

O que Castilla comenta está de acordo com as pesquisas de Sonja Lyubomisky, também citadas no livro de Wiseman. Os participantes em seu experimento tinham que executar cinco ações agradáveis (e gratuitas) toda semana durante seis semanas. Por exemplo, enviar uma mensagem de agradecimento, doar sangue ou dar uma mão a um amigo. Essas ações aumentaram a sensação de felicidade dos participantes, especialmente se tivessem sido realizadas no mesmo dia. Que pode ser uma sexta-feira qualquer, para dar um exemplo ao acaso.

5. As experiências são feitas com outras pessoas. Sim, você pode ir viajar sozinho (e não é má ideia) ou assistir a nova TV em família, mas muitos objetos são usados a sós, enquanto que é muito habitual que as experiências sejam desfrutadas em companhia de outras pessoas. Isso, segundo Wiseman, “é um dos comportamentos mais efetivos na hora de provocar felicidade”.

Castilla lembra que quando vamos viajar ou jantar, o fazemos (em geral) com pessoas que são importantes para nós: o casal, a família, os amigos... Comentar, conversar e compartilhar ajuda a reforçar tanto a própria experiência como sua lembrança posterior. Inclusive o planejamento pode contribuir para que a experiência seja ainda mais positiva.

Talvez tenhamos arruinado seus planos para esta “Black Friday”, mas se ouvimos todos esses psicólogos é em prol de mais benefícios de longo prazo.

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