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Maioria dos catalães e os demais espanhóis concordam com antecipação das eleições regionais

Tanto na Catalunha (69%) como na Espanha (76%), são maioria os que aprovam a ida às urnas o quanto antes, mostra sondagem do instituto Metroscopia feita para o EL PAÍS

Rafa de Miguel
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O primeiro ministro da Espanha, Mariano Rajoy, visitou a Catalunha para participar do ato de apresentação das candidaturas do Partido Popular para as eleições regionais, convocadas para 21 de dezembro. "Queremos que haja uma votação massiva para iniciar uma nova etapa, que dê a todos segurança e certeza que é o que as pessoas querem". Os catalães e o restante dos espanhóis têm discrepâncias sobre a decisão do Rajoy de aplicar o artigo 155, que permitiu a intervenção na Catalunha, mas estão de acordo em um ponto: a convocação imediata de eleições nessa comunidade autônoma.

Tanto na Catalunha (69%) como em toda a Espanha (76%), são maioria os que aprovam a ida às urnas o quanto antes para restaurar assim a normalidade legal e institucional, segundo uma pesquisa do instituto Metroscopia feita para o EL PAÍS. A sondagem aponta que 54% dos espanhóis consideram que, diferentemente de um mês atrás, o Governo está administrando de forma adequada a situação na Catalunha.

Rajoy defendeu a democracia espanhola, contestada pelos separatistas, especialmente após a prisão dos ex-conselheiros do Governo Catalão. "Na Espanha é possível defender qualquer idéia, você pode até ser um independentista, mas os independentes também estão sujeitos à lei, como outros. É urgente retornar a normalidade à Catalunha, e fazê-lo o mais rápido possível", afirmou.

Milhares de pessoas foram às ruas de Barcelona neste sábado pedir a liberdade dos ex-conselheiros e líderes independentistas, Jordi Sànchez e Jordi Cuixart, que são chamados de presos políticos pelos manifestantes.

Em 18 de outubro, mais de duas semanas depois da realização do referendo na Catalunha, Rajoy já havia ameaçado ativar o mecanismo de coerção constitucional do artigo 155 da Constituição espanhola e esperava que o então presidente da Generalitat (Governo regional catalão), Carles Puigdemont, esclarecesse se tinha declarado ou não a independência da Catalunha. Centenas de empresas já haviam abandonado essa comunidade, temerosas quanto à possível secessão, e o independentismo parecia encorajado em seu desafio. A pesquisa do Metroscopia feita naquele dia mostrava que 59% dos espanhóis não estavam nada satisfeitos com o modo como Rajoy estava administrando a situação. Menos de um mês depois, com a fulminante dissolução do Governo e do Parlamento da Catalunha e a surpreendente convocação eleições na comunidade autônoma para uma data tão próxima como 21 de dezembro, a percepção dos cidadãos teve uma reviravolta. A maioria dos espanhóis, 54%, considera agora, segundo a nova pesquisa do Metroscopia, que o Governo está tratando a crise da Catalunha de um modo adequado.

O aspecto relevante dessa mudança é que a valorização da atuação do Governo é transversal entre os votantes das principais formações políticas, exceto os do Podemos. Nada menos que 84% dos seguidores do Partido Popular (PP) apoiam a gestão, e o mesmo ocorre com 70% dos partidários do Cidadãos, mas o notável é que também são maioria (56%) os eleitores socialistas que se mostram satisfeitos com a decisão de Rajoy. Dá a impressão de que um adversário comum − o separatismo − e uma mesma ideia de país (a da Constituição de 1978) foram capazes de diluir a polarização política de anos recentes.

O mal-estar na Catalunha

Na Catalunha, o começo da resolução desta crise não se vive do mesmo modo que no restante da Espanha. A intervenção nas instituições autônomas pela via do 155 descontentou muitos dos cidadãos dessa comunidade, que em sua maioria (69%) diferem do resto de seus compatriotas e desaprovam a gestão de Rajoy. Se são maioria os espanhóis que apoiam a forma como está sendo posto em prática esse método de autodefesa previsto na Constituição (61%), na Catalunha a percepção é oposta: 63% desaprovam a maneira como está sendo aplicando o artigo 155.

É provável, entretanto, que se tenha conseguido reduzir a tensão vivida nos últimos meses graças, em parte, ao efeito de alívio produzido pela única medida apoiada tanto pela maioria dos catalães como pela maior parte dos demais espanhóis: a convocação imediata de eleições, que reduz drasticamente as incertezas que uma intervenção na comunidade autônoma que se prolongasse no tempo despertaria. Segundo a pesquisa, 76% dos espanhóis aplaudem a decisão, que ajuda a limpar o horizonte imediato, e esse respaldo está claramente estendido entre todos os votantes dos principais partidos, sem exceção. Na Catalunha, uma cifra um pouco menor que no restante da Espanha, mas também muito elevada (69%), reflete a satisfação com a ideia de que as urnas resolvam o quanto antes a situação.

A forma vertiginosa como se agravou a crise da Catalunha a partir do referendo ilegal de 1.º de outubro se refletiu no estado de ânimo de todos os cidadãos e em sua esperança de que ainda seja possível um acordo que permita a permanência dessa comunidade na Espanha. Isso era visto como algo muito difícil, quase impossível, por 56% dos catalães e 50% dos demais espanhóis. Agora, esse desânimo generalizado começou a se atenuar na Catalunha e a melhorar notavelmente no restante do país. Hoje chegam a 60% os espanhóis que começam a ver a situação com relativo otimismo e admitem a ideia de que ainda é possível que as águas voltem para seu leito. Já para os catalães, o caminho para a normalidade será mais complicado, segundo a pesquisa: 49% deles continuam acreditando que o que ocorreu é muito grave e dificilmente terá remédio. Outros 49% acreditam que ainda há esperança.

Peso da responsabilidade pela crise recai no Governo catalão

As responsabilidades estão mais divididas, mas a maior culpa pela crise separatista recai fundamentalmente no Governo catalão. Como em tudo que aconteceu durante os últimos anos, as percepções na Catalunha são diferentes das do restante da Espanha.

Entre os espanhóis, 52% atribuem exclusivamente ao Executivo liderado por Carles Puigdemont a responsabilidade pelo ocorrido, enquanto 28% consideram que o Governo espanhol, com sua falta de resposta política ao mal-estar que estava crescendo na Catalunha, é o principal responsável. Das pessoas ouvidas pelo Metroscopia, 19% responsabilizam do mesmo modo os dois lados. Quando a mesma pergunta foi feita aos cidadãos da Catalunha, houve uma resposta óbvia, mas com um matiz muito relevante. São maioria (44%) os que atribuem a culpa ao Governo de Mariano Rajoy, mas a soma dos que culpam exclusivamente o Governo catalão (32%) e dos que a dividem em partes iguais (24%) chega a 56%.

Considerando o sentimento concreto dos eleitores dos principais partidos, é relevante o fato de que os do PSOE são um pouco mais moderados (55%) que os do PP (74%) e os do Cidadãos (73%) ao culpar o Governo catalão.

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