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Aécio derruba Tasso e recupera o poder para amarrar o PSDB a Temer

Senador do Ceará é afastado da presidência interina da legenda e “cabeças-pretas” reagem

Os senadores Tasso e Aécio, em 2016.
Os senadores Tasso e Aécio, em 2016.George Gianni (PSDB)

Tasso Jereissati se aproxima dos jornalistas e inicia sua entrevista coletiva dizendo, em tom de brincadeira: “estou desempregado”. Senador pelo Ceará, fazia pouco mais de uma hora que ele havia sido oficialmente destituído do cargo de presidente interino do PSDB. Com uma simples canetada, Aécio Neves, senador por Minas Gerais e presidente que estava licenciado da legenda havia seis meses, tentou dar três golpes políticos: 1) amenizar as críticas que parte do tucanato faz constantemente contra o Governo Michel Temer (PMDB); 2) interferir no processo sucessório do partido, que em um mês elege sua nova diretoria e; 3) garantir que ao menos dois dos quatro ministros do partido sigam em seus cargos. Ele quer defender principalmente os ministros Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades).

Pressionado por Temer e pela facção governista do PSDB, Aécio indicou o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman para suceder Tasso. A justificativa oficial para o afastamento foi de que era necessário haver um equilíbrio de armas entre os dois candidatos ao cargo de presidente da legenda, Tasso e o governador de Goiás, Marconi Perillo. A eleição interna ocorrerá no dia 9 de dezembro. “O meu papel será exatamente esse, o de garantir a isonomia, o equilíbrio da disputa”, disse Goldman, replicando o discurso de Aécio. O novo interino diz que foi surpreendido pela missão. Baseado em São Paulo, ele veio às pressas na manhã desta quinta-feira para Brasília para se reunir com Aécio e preparar a virada de mesa na legenda.

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Indagado sobre a razão de ter sido substituído, Tasso diz que havia “divergências profundas” entre ele e Aécio e que, claramente, o senador mineiro não é favorável à sua candidatura. Tasso também afirmou que Aécio estava sendo pressionado e que pediu para ele renunciar ao cargo interino. O que se negou a fazer. “Ele não me queira como candidato. Portanto, eu preferia que ele me afastasse, do que eu pedir, para ficar bem nítida as nossas diferenças. Foi então, que ele me mandou o ofício, me afastando”, afirmou o senador cearense.

Tasso assumiu interinamente o PSDB em maio porque Aécio foi flagrado em uma investigação em que negociava o recebimento de 2 milhões de reais com o delator e réu confesso do crime de corrupção, Joesley Batista, da JBS. O senador chegou a ser afastado das funções parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal, mas conseguiu reverter essa decisão. O curioso é que o próprio Tasso foi um dos que se empenharam no plenário do Senado para ajudar a salvar o mandato de Aécio.

Desde que assumiu a direção interinamente em maio, Tasso defendia o rompimento do partido com o Governo Temer. Em mais de uma ocasião, dizia que o “PSDB desses caras, não é o meu PSDB”. Em agosto ele assumiu a produção de um programa político em rede de TV aberta no qual escancarou as críticas mostrando que o Brasil vivia um “presidencialismo de cooptação”. Foi a primeira ferida aberta entre os grupos pró e contra Temer.

De lá para cá os embates se ampliaram. Houve interferência nos diretórios do PSDB de Pernambuco, do Maranhão e da Bahia. Na Câmara, o racha se evidenciou quando metade da bancada votou a favor da abertura de investigação criminal contra Temer e a metade foi contrária. Isso, em duas votações.

Essa é a terceira vez que o senador mineiro interfere no diretório nacional. Em dezembro do ano passado, ele conseguiu obter votos da Executiva para prorrogar o seu mandato na presidência da legenda até maio de 2018 – seu mandato acabaria em maio de 2017. A segunda intervenção ocorreu há seis meses, quando Aécio indicou Tasso para a função.

Membros de grupos que pregam o rompimento com o Governo e são apelidados de “cabeças-pretas”, criticaram Aécio e disseram que ele cedeu ao fisiologismo. “Rasgaram e jogaram no lixo a história do PSDB. Tenho certeza que haverá resistências interna e externa”, afirmou o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE). “Esse partido foi construído sobre o lema: longe das benesses do poder e próximo do pulsar das ruas. Hoje com essa decisão de Aécio e de Temer, o que se vê é longe do pulsar das ruas, mas bem próximo da ‘nhaca’ do poder”.

Aliados de Aécio reagiram. Um deles, Marcus Pestana (PSDB-MG), disse que se esperava que o senador Tasso fosse líder de todos os tucanos, não de uma facção. “É totalmente legítima a decisão. Goldman tem autoridade por durante 30 dias coordenar a legítima disputa entre Marconi Perillo e Tasso Jereissati”.

Apesar de ter provocado um terremoto entre seus correligionários, Aécio se negou a responder aos questionamentos de jornalistas. Indagado sobre a decisão, ele se limitou a fazer um pronunciamento no qual sintetizou o ofício que enviou a Tasso o informando sobre o afastamento dele e a assunção de Goldman.

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