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Governo encarrega Polícia Federal de investigar incêndio na Chapada dos Veadeiros

Responsáveis pelo Parque temem que sejam necessários no mínimo 10 anos para recuperar a área afetada

Homem combate o foto no cerrado, na Chapada dos Veadeiros.
Homem combate o foto no cerrado, na Chapada dos Veadeiros.FERNANDO TATAGIBA (AFP)
Xosé Hermida
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A Polícia Federal vai abrir uma investigação oficial sobre o grande incêndio que já arrasou 65.000 hectares no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, segundo informou o Ministério da Justiça. Como primeiro passo, a polícia já entrou em contato com o Instituto Chico Mendes para a Biodiversidade (ICMBio) com a finalidade de estabelecer o alcance das perícias e da investigação. “Certamente o incêndio foi causado pelo homem”, insistiu nesta quinta-feira o diretor do Parque, Fernando Tatagiba.

O fogo começou no dia 10, rapidamente conseguiu atravessar a estrada GO-118 e, favorecido pela força do vento, se propagou a tal velocidade que em poucas horas havia queimado 7.000 hectares. Ninguém viu nenhuma pessoa nos arredores nem há rastro de presença humana, admite o diretor do Parque, mas ainda assim Tatagiba não tem dúvidas. “Todas as evidências técnicas, científicas e empíricas coincidem em que um fogo no cerrado nesta época só pode ser causado por um raio”, explicou Tatagiba. E naquele dia não houve nenhuma tempestade na região, onde não chove há muitas semanas. O tempo incomumente seco – a temporada de chuvas costuma começar em setembro nesta zona do norte de Goiás – tinha contribuído para encher o cerrado de vegetação que poderia atuar facilmente como combustível, o que acabou por criar as condições para o desastre ecológico.

Tatagiba reconhece que a investigação não será fácil e ainda pode demorar muito tempo em busca de indícios sólidos. Mas a opinião do diretor do Parque é amplamente compartilhada por moradores das cidades próximas à Chapada e nas equipes que combatem o fogo. “Não tenho nenhuma dúvida. Foi causado pelo homem”, diz Rodrigo Amaral, chefe dos brigadistas da ONG Grupo Ambientalista do Torto (GAT) deslocados para a Chapada. Com 20 anos de experiência apagando incêndios por todo o Brasil e outros países da América do Sul, Amaral afirma: “E acredito que estes dias havia pessoas que continuaram colocando fogo. Nesta quarta-feira mesmo estávamos apagando um foco e, de repente, a vários quilômetros de distância vimos que estava começando outro de uma maneira que só pode ter sido intencional.”

A situação melhorou bastante nos três últimos dias e somente resta um foco fora de controle, embora ainda de dimensões consideráveis, uma linha de fogo que, com descontinuidades, abarca 60 quilômetros. O diretor do Parque começa a ser mais otimista e acredita que, talvez no fim de semana, o incêndio possa estar controlado, ou seja, que o fogo não avance mais. A extinção total, reconheceu Tatagiba, vai depender da chuva. As primeiras gotas começaram a cair na região na tarde desta quinta-feira.

Área de queimada na Chapada dos Veadeiros
Área de queimada na Chapada dos VeadeirosFERNANDO TATAGIBA (EFE)

“Quanto tempo levará para a zona afetada se regenerar? Dez anos?”, perguntaram os jornalistas ao diretor do Parque durante uma entrevista coletiva na base de operações, no aeroporto de Alto Paraíso. “Dez anos ou mais”, respondeu. “Dependerá de muitos fatores. O cerrado é como um mosaico de diversas variedades vegetais, campestres, florestais e savânicas. Teremos de ver sua capacidade de regeneração.”

Outra boa notícia é que tudo indica que a fauna maior não sofreu grandes danos. Não foram encontrados cadáveres de animais como onças, lobos, cachorros do cerrado ou veados. As mais afetadas são espécies pequenas como répteis e roedores. Mas Tatagiba alertou que um dano colateral pode ser o aumento dos atropelamentos de animais, já habituais na região, porque se supõe que ao ficarem desorientados se aventurarão a cruzar as estradas.

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