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Maradona, ex-jogador há 20 anos, em 20 momentos únicos

O astro argentino completa duas décadas de aposentadoria Neste tempo, lutou contra o vício em cocaína, sobreviveu à morte e foi treinador da seleção

Maradona em seu último jogo, um River x Boca no Monumental, em 25 de outubro de 1997.
Maradona em seu último jogo, um River x Boca no Monumental, em 25 de outubro de 1997.Reuters
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Em 25 de outubro de 1997, há 20 anos, Diego Maradona entrou no vestiário do Monumental com sua equipe, o Boca Juniors, perdendo por 1 a 0 do River Plate. Antes de o treinador dar instruções, Maradona ordenou sua própria saída: "Eu saio e entra [Claudio] Caniggia, sai [Nelson] Vivas e entra [Juan Román] Riquelme". As mudanças deram resultado. Com Maradona fora de campo, o Boca ganhou o superclássico argentino por 2 a 1, uma felicidade que o levou a dizer "me dá vontade de continuar até os 40 (anos)". Estava prestes a completar 37. No entanto, muito mal treinado, corroído pelas lesões e perseguido pelo fantasma do controle antidoping (ele tinha testado positivo havia dois meses e jogava com a autorização de um juiz federal), apenas dois dias depois anunciou a aposentadoria. E desta vez cumpriu.

Se na época o jornalista Jorge Göttling o descreveu no jornal Clarín como "dono da grande pirueta gramatical: Maradona deixou de ser um simples substantivo para se tornar um adjetivo", sua vida como ex-jogador também mereceria um adjetivo similar: 20 anos maradonianos, exagerados, apaixonados, contraditórios, muitas vezes no limite. Aqui estão 20 momentos de um artista no campo de jogo que virou equilibrista fora dele.

1) Entre 1998 e 2000, no que costuma ser uma situação traumática para qualquer atleta (as anos posteriores à aposentadoria), Maradona confessou várias vezes sua luta desesperada contra a cocaína. Entre outras coisas, disse: "Eu quero parar, mas não existe nenhum comprimido, nenhuma injeção, que cure essa doença incrível", ou "Você entra na droga em um segundo e não sai em toda a vida".

2) Em janeiro de 2000, foi internado em uma emergência de Punta del Este, no Uruguai. O médico que salvou sua vida, Jorge Romero, diria vários anos depois: "Ficou 40 minutos à beira da morte, em coma".

3) Viajou para Cuba para iniciar um tratamento de reabilitação e fez amizade com Fidel Castro, a quem deu de presente uma tampa de assento de vaso sanitário com uma foto de George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos.

4) Em dezembro de 2000, foi escolhido pela FIFA, juntamente com Pelé, jogador do século XX. O brasileiro ganhou a votação dos funcionários, mas o argentino foi o mais votado pelos torcedores na internet. "Quando abracei Pelé em Roma antes de receber o prêmio, quase perguntei o que ele sentiu por ter ficado em segundo lugar, mas teria dado confusão", disse, durante uma das suas disputas com o brasileiro.

5) Em novembro de 2001 disputou na Bombonera seu jogo de despedida e imortalizou uma de suas grandes frases: "Eu estava errado e paguei, mas a bola não se mancha".

6) Em abril de 2004 foi hospitalizado de novo, desta vez em uma clínica em Buenos Aires. Como revelaria mais tarde, "eu estava por um fiozinho, entre a vida e a morte". Também comparou sua vida com uma luta de boxe muito desfavorável: "Estou perdendo por nocaute".

7) Em maio daquele ano foi internado em uma clínica psiquiátrica nos arredores de Buenos Aires para iniciar outro tratamento de desintoxicação. Três confissões dessa experiência extrema: "Eles tiveram que me amarrar na cama para me acalmar", "Na clínica tem um que acha que é Robinson Crusoe e não acreditam que sou o Maradona", e "A loucura é uma coisa tremenda. Na clínica, senti como Jack Nicholson em Um Estranho no Ninho".

8) No final de 2004 informou que tinha começado a superar seu vício em drogas. "Não uso cocaína há cinco meses e estou decidido a sair do túnel da droga. Tenho 44 anos e estou mais perto do final da minha vida que do meu começo", comemorou.

9) Em março de 2005, foi submetido a um bypass gástrico em Cartagena de Indias, na Colômbia, e perdeu 50 quilos em poucos meses. Tinha chegado aos 120. "Pareço uma bola de praia", e "não posso mais jogar futebol, estou feito uma bola", disse.

10) Magro e longe das drogas, Maradona mudou o semblante em tempo recorde. Em julho de 2005, apresentou um programa de televisão, La Noche del Diez, fenômeno de audiência em que recebeu a visita de Pelé, Mike Tyson e Roberto Gómez Bolaños, entre outras figuras internacionais.

Maradona em sua última aparição pública, na segunda-feira, em Londres, na cerimônia do ‘The Best’.
Maradona em sua última aparição pública, na segunda-feira, em Londres, na cerimônia do ‘The Best’.FIFA

11) Em novembro daquele ano, se tornou –ao lado de Hugo Chávez e Evo Morales– um dos rostos visíveis da Cúpula dos Povos, uma manifestação da oposição à Quarta Cúpula das Américas realizada naqueles dias em Mar del Plata, na Argentina, com a presença de Bush.

12) Entre março e abril de 2007 foi novamente internado várias semanas, neste caso por excessos com bebidas alcoólicas. Em meio a rumores trágicos, uma das clínicas em que recebeu tratamento teve de vir a público para desmentir sua morte.

13) Em outubro de 2008 assumiu o cargo de treinador da seleção argentina. No início de sua gestão, a alvi-celeste alternou vitórias meritórias, como contra a França em Paris, com derrotas históricas, como o 6 a 1 sofrido diante da Bolívia, em La Paz.

14) A vida de Maradona virou filme em maio de 2008 graças a um documentário do cineasta sérvio Emir Kusturica, Maradona por Kusturica. O jogador e o diretor desfilaram pelo tapete vermelho no Festival de Cinema de Cannes.

15) Na classificação dramática da Argentina de Maradona para a Copa do Mundo de 2010, ficaram duas imagens icônicas: a comemoração de peixinho depois do gol de Martín Palermo contra o Peru e a maneira desbocada de festejar a vitória contra o Uruguai. "Para aqueles que não acreditavam, com o perdão das damas, que chupem e continuem chupando", disse a jornalistas. A FIFA o suspendeu por dois meses.

16) Em sua volta às Copas do Mundo, e com uma equipe hiperofensiva (Lionel Messi, Sergio Agüero, Gonzalo Higuaín e Carlos Tevez), a equipe de Maradona começou com quatro vitórias contra Nigéria, Coréia do Sul, Grécia e México. Antes do jogo de quartas de final contra a Alemanha, que acabara de golear a Inglaterra, o treinador disse: "Não vamos engolir a farsa alemã". A Alemanha venceu por 4 x 0.

17) "Daria um braço para voltar a ser técnico da seleção", afirmou em setembro de 2010.

18) Em maio de 2011 foi apresentado como técnico do Al Wasl, um clube de Dubai, Emirados Árabes. "Éramos um grupo de músicos e o melhor te devolvia com o joelho", disse alguns meses depois de assumir. Apesar de ter assinado um contrato de dois anos, foi demitido em julho de 2012, depois que sua equipe não obteve os resultados esperados.

19) Em fevereiro de 2013 nasceu Diego Fernando, seu quinto filho (de quatro mulheres diferentes). Desde 2009 já era avô, depois do nascimento de Benjamín, filho de uma de suas filhas, Giannina, com "Kun" Agüero. No início de 2018, será avô pela segunda vez (Diego Armando Junior acaba de informar que sua mulher está grávida), tudo no meio de uma disputa familiar. Depois de se divorciar em 2003, Maradona e sua ex-mulher, Claudia Villafañe, entraram em uma escalada que chegou à Justiça dos Estados Unidos e da Argentina em 2015. O ex-jogador de futebol iniciou um julgamento por suposta fraude e malversação de patrimônio, enquanto Villafañe o processou por supostos insultos e calúnia. Até as camisetas que Maradona usou em sua carreira estiveram em litígio, embora nesse caso a Justiça não tenha dado ganho de causa a Villafañe.

20) Em julho de 2017 voltou a assumir como diretor técnico de um clube, o Al Fujairah, da Segunda Divisão dos Emirados Árabes. Sua estreia oficial foi na semana passada. Maradona completou duas décadas como ex-jogador, uma vida tão agitada que contraria até um dos tangos mais famosos de Carlos Gardel, Volver, aquele que diz que "20 anos não é nada".

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