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Xi Jinping vira ‘Tio Xi’, o novo imperador da China

A propaganda se concentra no presidente uma semana antes de seu discurso no Congresso do partido

Macarena Vidal Liy
Recepcionistas chinesas na praça Tiananmen
Recepcionistas chinesas na praça TiananmenNICOLAS ASFOURI (AFP)

Aplaudir o presidente Xi Jinping até arrebentar. Este é o objetivo do aplicativo que a Tencent, a gigante da tecnologia chinesa, projetou para os telefones dos cidadãos que quiserem demonstrar seu entusiasmo pelo homem mais poderoso da China, e que muitos conhecem simplesmente como Xi Dada (Tio Xi).

O funcionamento é simples: o aplicativo mostra mãos sobrepostas ao anfiteatro do Grande Palácio do Povo, onde Xi pronunciou na semana passada o discurso de inauguração do Congresso do partido, que durou três horas e meia. Pode-se escutar um trecho de 19 segundos do discurso e pressionar várias vezes sobre as mãos, que começam a aplaudir. Um contador mede o nível de profusão do aplauso.

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De acordo com o site What's on Weibo, que analisa as tendências do Twitter chinês, no primeiro dia de lançamento os cidadãos já brincaram mais de 400 milhões de vezes com esse aplicativo.

É mais uma amostra da adulação, ou do entusiasmo sincero, que cerca Xi. Um homem que, ao contrário de seu antecessor imediato, Hu Jintao – uma pessoa distante e de pouco carisma –, cultivou desde o primeiro momento uma imagem de homem afável e de gostos populares. Um homem que, mediante sua campanha contra a corrupção e a defesa do papel protagonista da China no mundo, conquistou uma grande popularidade entre a população.

“Eu me alegro muito que seu pensamento tenha sido incluído na Constituição do partido. Depois de cinco anos de sucesso é um modo de reconhecer suas conquistas”, afirmava nesta quarta-feira (horário na China), Li Wanjun, um delegado ao Congresso pela província de Jilin e funcionário de uma fábrica de trens de alta velocidade. “Não somente nós, os chineses, apoiamos que seu pensamento seja incluído, mas os povos de todo o mundo que foram favorecidos pela ajuda da China.”

Esta popularidade vem reforçada por declarações públicas de lealdade para com o presidente e o partido, praticamente desaparecidas durante o mandato de Hu, mas cada vez mais frequentes na era de Xi. Enquanto o presidente pronunciava o discurso na semana passada, as redes sociais chinesas se enchiam de imagens de hospitais, presídios ou até creches em que todos – doentes, presos ou crianças – acompanhavam absortos pela televisão a apresentação de Xi sobre o “Pensamento sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era”.

Todas as redes de televisão chinesas, nacionais e provinciais, estavam então sintonizadas no Grande Palácio do Povo. A única exceção, a televisão da cidade de Xiamen, na costa.

Durante esses dias, as ruas foram cobertas de cartazes e faixas com a imagem de Xi e lemas como Continuar conquistando os sucessos do socialismo... com o camarada Xi Jinping como núcleo.

Os louvores a Xi são especialmente visíveis na exposição Cinco Anos de Conquistas, instalada em um enorme complexo construído nos anos de amizade soviética, no oeste de Pequim, e inaugurada como parte dos preparativos para o Congresso.

Sala após sala, a exposição passa em revista os avanços da China nos últimos anos – o trem de alta velocidade mais rápido do mundo, o maior telescópio, um submarino de águas profundas – para deixar claro que são êxitos resultantes da liderança de Xi. A sala dedicada à remodelação do Exército – que inclui uma área de simulação de lançamento de lança-granadas – abrange nada menos que nove fotografias em grande tamanho do presidente, que prometeu transformar as forças armadas em um instrumento capaz de ganhar guerras. No vestíbulo, uma enorme estante exibe as obras completas do presidente.

A exposição também deixa clara uma tendência na propaganda sobre Xi. Se nos primeiros anos se inclinava a apresentar uma imagem mais humana do líder, agora a ênfase está em expor os benefícios que gerou à nação e descrevê-lo como um homem de Estado.

No entanto, quase desapareceram dos mercados de rua os artigos de lembranças – pingentes, copos – com a imagem de Xi, só ou acompanhado da esposa, a cantora clássica Peng Liyuan. Aparentemente, o partido não viu com agrado que se começasse a falar em um culto à personalidade semelhante ao de Mao, e as quinquilharias desapareceram com a mesma rapidez com que haviam chegado.

Os elogios desmedidos, porém, ainda estão muito longe dos tempos de Mao e da Revolução Cultural. Aqueles tempos em que Mao dava de presente uma caixa de mangas a uma fábrica e a manga se transformava em um objeto de culto a ser conservado em formol, reproduzida em cera ou plástico ou até venerada em altares.

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