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Conheça o significado do ‘haka’, a dança tribal maori que virou símbolo dos All Blacks

A equipe de rúgbi neozelandesa há mais de 100 anos realiza a dança no começo de suas partidas

Pablo Cantó
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Quando o ator Jason Momoa fez o teste de elenco para interpretar Khal Drogo, o rude cavaleiro de Game of Thrones, precisava mostrar a ferocidade de um personagem que não tem diálogos. Ganhou o papel fazendo um haka. Essa dança bélica de origem maori faz parte agora da cultura pop, e os responsáveis por sua popularidade são os All Blacks. A equipe de rúgbi neozelandesa há mais de 100 anos a realiza no começo de suas partidas, e a transformou em sua marca registrada.

Haka é o nome genérico pelo qual é conhecida toda a dança dos maoris, uma etnia procedente da Polinésia. Os All Blacks (e muitas outras equipes neozelandesas) a utilizam em suas partidas para mostrar sua força e unidade. A seleção é considerada um exemplo de integração racial e cultural, que contribui à unidade de neozelandeses de diferentes origens, simbolizado na haka.

Das tribos maoris aos Originals All Blacks

O Ka Mate, o haka que os All Blacks praticam há mais de um século, foi criada em 1820 pelo chefe maori Te Rauparaha. Como explica o site dos All Blacks dedicado à história dessa dança, a canção comemora a vida sobre a morte, escrita após Te Rauparaha conseguir escapar de uma tribo rival. Apesar da dança não ter um caráter intimidatório, seu nome, Ka Mate, significa “é a morte”.

Maoris realizando uma haka em foto de 1900.
Maoris realizando uma haka em foto de 1900.Universal History Archive (Getty)

A primeira vez que foi realizada antes de uma partida de rúgbi foi no século XIX, e longe da Nova Zelândia. Foi feita por uma equipe formada por jogadores de origem maori em excursão pelo Reino Unido, em 1888. Essa equipe, germe dos All Blacks, foi pioneira tanto em utilizar a haka antes da partida como em utilizar o clássico uniforme negro. Os que a popularizaram na Europa, entretanto, foram os Original All Blacks, a equipe que fez história no rúgbi com sua excursão de 1905.

A equipe, formada por sapateiros, ferreiros, operários, agricultores e mineiros, tal como mostra essa reportagem do EL PAÍS, quase não era conhecida antes daquela excursão. Eles se transformaram em um fenômeno após ganharem todas as partidas com exceção de uma. “A Nova Zelândia sempre teve uma certa insegurança sobre seu lugar no mundo”, conta o historiador neozelandês Jock Philips ao The Guardian. “Essa turnê deu aos neozelandeses a sensação de que tinham um papel no Império”.

Os All Blacks e seu próprio haka

Desde os Originals, o haka se transformou na marca registrada da equipe sempre que realizava uma excursão por outros países. Mas não era praticada nas partidas jogadas na Nova Zelândia e não se parecia muito com a dança que pode ser vista hoje no começo de uma partida dos All Blacks: apesar de ser ensaiada pelos jogadores, não era a dança precisa e enérgica vista atualmente.

Os All Blacks, fazendo sua haka antes de uma partida contra a Inglaterra em 1926.
Os All Blacks, fazendo sua haka antes de uma partida contra a Inglaterra em 1926.E. Bacon/Topical Press (Getty)

Foram dois jogadores, em 1987, que se propuseram a aperfeiçoá-la e institucionalizá-la: “Wayne Shelford e Hika Reid [ambos de origem maori] foram fundamentais para introduzir o Ka Mate em todas as partidas, assegurando-se de que fosse realizada com a precisão e a intensidade que não existia até então”, conta a instituição.

O Ka Mate foi, até o ano 2005, o haka feita pelos All Blacks. Nesse ano, acrescentaram uma nova dança ao repertório: o Kapa O Pango. Foi escrita para a equipe por um especialista em cultura maori, e seu título pode ser traduzido como “a equipe de negro”. Desde então, costumam realizar ambas antes das partidas.

Do campo de rúgbi à rede

Graças à difusão feita pelos All Blacks, o haka se transformou em um fenômeno global, protagonista de muitos vídeos virais. Algumas não têm nada a ver com o rúgbi, como a gravada em um casamento em 2016 que superou 32 milhões de reproduções no Facebook em 48 horas.

Também existem com os próprios All Blacks como protagonistas, como a realizada em 2015 no funeral de um de seus jogadores mais famosos, Jonah Lomu, e que está no começo desse artigo.

Outra que foi popularizada nos últimos anos foi a interpretada por um colégio neozelandês, o flashmob dos torcedores dos All Blacks durante a Copa do Mundo de Auckland, a versão do futebol do A.C. Milan... Hoje em dia, já existem mais buscas no Google sobre essa dança do que sobre a macarena.

O 'Ka Mate' e seu significado

Essa é a letra – em língua maori – do Ka Mate, o haka tradicional dos All Blacks:

Ka mate, ka mate! ka ora! ka ora!

Ka mate! ka mate! ka ora! ka ora!

Tēnei te tangata pūhuruhuru

Nāna nei i tiki mai whakawhiti te rā

Ā, upane! ka upane!

Ā, upane, ka upane, whiti te ra!

Essa é sua tradução ao português (adaptada de uma tradução ao inglês do Telegraph):

É a morte! É a morte! É a vida! É a vida!

É a morte! É a morte! É a vida! É a vida!

Esse é o homem feroz e poderoso

Que fez com que o sol brilhasse de novo para mim

Suba a escada! Suba até o topo!

O sol brilha!

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