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Iraque anuncia retomada de região dominada por curdos desde 2014

As forças milicianas curdas abandonaram área rica em petróleo que estava ocupada há três anos

Ángeles Espinosa
Soldados iraquianos festejam sobre seu veículo ao entrarem em Kirkuk nesta terça-feira
Soldados iraquianos festejam sobre seu veículo ao entrarem em Kirkuk nesta terça-feiraAHMAD AL-RUBAYE (AFP)

O Exército do Iraque anunciou nesta quarta-feira o fim de sua campanha para recuperar os territórios disputados que estavam sob controle das tropas curdas, conhecidas como Peshmerga, por mais de três anos. Mas a ausência de enfrentamentos significativos não evitou uma guerra de propaganda que levou muitos curdos a fugirem de Kirkuk, território rico em petróleo, ante o temor de represálias das milícias xiitas que apoiam as forças federais. Em uma tentativa de reduzir a tensão, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al Abadi, ordenou a retirada desses paramilitares.

“O primeiro-ministro reitera que a segurança de Kirkuk está sob controle da polícia local com o apoio do Serviço Antiterrorista e lhes ordena que impeçam a presença de qualquer outro grupo armado na província”, afirmou um comunicado difundido por seu gabinete.

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Órgãos da mídia e porta-vozes curdos tinham informado que membros de sua comunidade estavam fugindo de Kirkuk em razão do temor de abusos por parte das Unidades de Mobilização Popular, o nome oficial das milícias eminentemente xiitas. Alguns entrevistados denunciavam o desaparecimento de familiares que trabalhavam para os serviços de segurança curdos.

“Queimaram o edifício Plaza de Kirkuk com o pretexto de que havia mulheres no ginásio e na piscina, o que dizem não ser permitido pela religião”, afirmava Kawyar Omer, da assessoria de imprensa do primeiro-ministro curdo, em uma mensagem enviada a esta correspondente. Na sua alegação, Omer acrescentou imagens de moradias incendiadas.

“Estão divulgando rumores para conquistar a simpatia da comunidade internacional”, dizia um analista iraquiano em Bagdá, que reconhecia que os curdos se encontram “sob uma forte pressão pela perda de Kirkuk”. Na véspera, os dirigentes militares curdos disseram que seus soldados voltariam às posições prévias a junho de 2014, quando a ofensiva para expulsar o Estado Islâmico lhes permitiu expandir seu enclave.

Um comunicado do Comando de Operações Conjuntas do Iraque enumera as localidades que voltaram à supervisão do Governo Central. Além de recuperar a província-chave de Kirkuk, com seus campos de petróleo, as forças federais – uma aliança de soldados, policiais e milícias – se apoderaram também de diversas regiões nas províncias de Diyala e Saladino que os curdos ocuparam durante os últimos três anos. O regresso à demarcação de 2014 se completou à última hora de terça-feira, quando os Peshmerga entregaram seus postos na província de Nínive.

Entre os territórios recuperados por Bagdá se encontra o distrito de Makhmur, que o Curdistão iraquiano perdeu quando Saddam Hussein redesenhou os limites da província de Erbil e o incorporou à vizinha Nínive, nos anos noventa. No entanto, não está claro o que aconteceu com o campo de petróleo de Khurmala, que se localiza nessa zona e está em mãos curdas desde 2008. Seu nome não está na lista dos que o Governo central recuperou (Avana, Bai Hasan, Baba, Jambur e Khabbaz).

A surpreendente entrega de território, que tanto os dirigentes políticos como os militares curdos haviam garantido que nunca devolveriam a Bagdá, evitou uma nova guerra interna no Iraque, mas abriu uma grave cisão entre os curdos. Na realidade, a crise reavivou a tensão entre o Partido Democrata do Curdistão, do presidente Massud Barzani, e seu rival político, a União Patriótica do Curdistão, do recentemente morto Jalal Talabani, e já se traduziu na suspensão das eleições legislativas e presidenciais que a região autônoma iria realizar em 1 de novembro.

A campanha militar, formalmente para “impor a segurança” no nordeste do Iraque, foi uma represália pelo referendo de independência que o Governo do Curdistão iraquiano organizou no mês passado. A consulta, que além da região autônoma incluiu os territórios em disputa entre ambas as administrações, foi rechaçada por Bagdá e declarada nula pelo Tribunal Supremo.

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