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Turquia recebe feridos do atentado na Somália, o maior desde 11 de setembro

País envia 33 médicos à nação onde mantém sua maior base militar no exterior

Médicos turcos transportam um somali ferido
Médicos turcos transportam um somali feridoFarah Abdi Warsameh (AP)
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A Turquia foi o primeiro país a enviar profissionais e equipamento médico à capital da Somália para socorrer as mais de 300 vítimas do pior atentado desde que começou a insurgência do Al Shabab em 2007 - foi também o maior atentado no mundo depois do 11 de setembro. O ministro da Saúde turco, Ahmet Demircan, aterrissou na segunda-feira em Mogadíscio acompanhado de uma delegação de 33 pessoas. Entre eles, uma equipe de médicos, enfermeiros e socorristas. Depois de reunir-se com o primeiro-ministro somali, Hassan Ali Khayre, Demircan visitou os feridos no hospital Recep Tayyip Erdogan, administrado conjuntamente pelos dois países e que recebe pessoal médico do Ministério da Saúde turco.

“Dois cirurgiões, dois traumatologistas e dois cirurgiões plásticos se deslocaram para garantir a reabilitação e compensar a falta de profissionais”, diz a nota divulgada pelo Governo de Ancara. O Crescente Vermelho turco (organismo equivalente à Cruz Vermelha) distribuiu à população itens de ajuda humanitária como alimentos, cobertores e barracas. Uma equipe da agência pública para os desastres AFAD também foi enviada para os trabalhos de resgate. Pelo menos 40 somalis feridos foram levados de avião para Ancara. Lá receberão tratamento na rede de hospitais públicos de Polatli, no sudoeste da capital, que contam com novos recursos para atender aos traumatismos e queimaduras causados pelo atentado. “Seguindo instruções do presidente Erdogan (…), trabalhamos para oferecer assistência, apoio médico e transporte dos feridos à Turquia”, enfatizou Demircan.

A pronta resposta de Ancara depois da pior agressão sofrida pela Somália é fruto das boas relações bilaterais construídas nos últimos anos. Depois de uma visita pessoal de Erdogan às vítimas da fome e da seca de 2011, o Governo turco desenvolveu uma política humanitária que permitiu expandir sua influência no continente africano. A partir daquele ano, agências públicas turcas, como AFAD, TIKA (Agência de Cooperação) e Diyanet (o ministério de Assuntos Religiosos), bem como empresas privadas participaram de projetos de reconstrução de infraestrutura e investimento nos setores de saúde e educação. A reforma do aeroporto da capital, a edificação de hospitais e a perfuração de poços artesianos em um país assolado pelas secas são exemplos de ações que consolidaram as relações entre ambos os países.

“A Turquia manterá sua solidariedade com o Governo e o povo da Somália contra o terrorismo”, declarou o presidente Erdogan após condenar publicamente os ataques. O líder turco destacou em diversas ocasiões os esforços de seu Governo para manter a segurança e erradicar o terrorismo no país. No fim de setembro, o chefe do Estado Maior turco, Hulusi Akar, viajou a Mogadíscio para assistir à inauguração da maior base militar turca no exterior, uma escola militar em que 10.000 soldados somalis receberão treinamento. As autoridades locais agradeceram os esforços da Turquia para “reconstruir” as forças armadas, “para que não sejam controladas por clãs, ou por regiões, mas por militares bem treinados que representem o povo da Somália”, declarou o primeiro-ministro Hassan Ali Khayre, referindo-se a milícias armadas como o grupo terrorista Al Shabab, que reivindicou a autoria do atentado de sábado.

A consolidação da Turquia como doador emergente em assuntos humanitários, de reconstrução e segurança também trouxe lucros vultosos para economia. Desde 2010, as exportações turcas para a Somália cresceram de 4,8 milhões de dólares em 2010 para 123 milhões de dólares em 2016, segundo a agência Reuters. A Turquia é hoje o quinto maior fornecedor e concentra sua atividade em produtos de consumo como alimentação, químicos e materiais de construção. Além disso, o litoral somali abriga importantes reservas de petróleo, gás e recursos minerais. A área agricultável e a costa mais extensa da região fazem da Somália um parceiro-chave para a construção de relações bilaterais que sirvam de entrada para o mercado africano.

O investimento da Turquia em ajuda humanitária

A Turquia é um doador emergente no setor humanitário que já prestou assistência a refugiados muçulmanos de diferentes nacionalidades e contribuiu para a construção de acampamentos de acolhimento. Uma de suas últimas contribuições foi o envio de material de construção para levantar acampamentos para os refugiados rohingya em Bangladesh. Dentro de suas fronteiras, a agência estatal elaborou um programa para os refugiados sírios nas cidades de barracas próximas à fronteira. Segundo a AFAD, a Turquia investiu 6 bilhões de dólares em ajuda humanitária, uma cifra que quase dobrou nos últimos dois anos. Em 2015, os principais países beneficiados foram Síria, Somália, Quirguistão, Albânia e Afeganistão. Além do apoio humanitário, foram enviados recursos para a sociedade civil, Governo, saúde e educação.

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