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Equador x Argentina: Messi foi três vezes Messi

Atacante do Barcelona marca os três gols e garante a participação do time de Sampaoli na Copa

Ramon Besa
Messi comemora um gol.
Messi comemora um gol.EDGARD GARRIDO (REUTERS)

Não há jogador no mundo como Lionel Messi. Os jogos da Argentina se resumem aos gols do camisa 10. Contra o Equador, em partida disputada na noite desta terça-feira no Estádio Olímpico Atahualpa, a equipe alviceleste conseguiu armar apenas três jogadas, e todas resultaram em gols do atacante de Rosário (o placar final foi 3 x 1 para os visitantes). Com isso, na última rodada das Eliminatórias para a Copa de 2018, na Rússia, a Argentina se juntou ao Brasil (3 x 0 sobre o Chile), Uruguai (4 x 2 contra a Bolívia) e Colômbia (1 x 1 contra o Peru) no rol de seleções sul-americanas já classificadas. O Peru terminou o torneio em quinto lugar e disputará uma repescagem contra a Nova Zelândia. Os chilenos, atuais campeões das Américas, foram eliminados.

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Messi faz as coisas de um jeito tão fácil que elas nem parecem épicas, e sim algo corriqueiro, dada a sua frequência e simplicidade, repetidas mil e uma vezes, tanto nas rodadas banais como nos dias de máxima exigência, como era o caso na noite desta terça em Quito. Ninguém metaboliza melhor o futebol do que Messi, corpo e alma da Alviceleste, enfim ganhadora em um confronto que teve o mesmo tom que tantos jogos empatados – a diferença é que desta vez Messi resolveu.

Haverá quem maliciosamente continue a criticá-lo, sem levar em conta a altitude do Equador. Nunca será tampouco um caudilho como Pasarella. Nem tem por que se parecer todos os dias com Maradona. Messi é Messi. Um jogador único, a quem a Argentina se agarra para caminhar de torneio em torneio até chegar às finais, e perder até quatro à espera de ver o que acontece na Copa da Rússia. Os gols do 10 com a Alviceleste por enquanto não valeram títulos, nem ocorrem nos momentos mais dramáticos dos confrontos, tampouco são sempre geniais, mas chegam nos minutos mais inesperados, de forma quase instantânea, quando a torcida o acusa de não dar o sangue pela camisa, de não merecer o tratamento de rei que o mundo inteiro lhe dispensa desde que passou a triunfar de forma continuada no Barcelona.

Messi apareceu em Quito depois que a Argentina amaldiçoou Mascherano por medir mal o salto com Roberto Ordóñez enquanto reclamava de um impedimento, dando assim continuidade a uma jogada que acabou com um arremate cruzado de Romario Ibarra. Mal havia soado o apito inicial, e a Argentina já estava com um gol a menos no Atahualpa. Então apareceu Messi para virar rapidamente o placar com dois gols inapeláveis, após duas jogadas com a participação de Di María e Enzo Pérez. O 10 tabelou com o atacante do PSG para chegar à pequena área e empatar o jogo, e logo em seguida recuperou uma bola que colocou no ângulo esquerdo de Banguera, abrindo 2 x 1 para os visitantes.

Não havia outro jogador em campo além de Messi. A Argentina não precisava jogar para encontrar o 10. O Equador tampouco sabia como marcar o atacante do Barça. Messi era indetectável para a retaguarda local e um farol para a Alviceleste. Nenhum apreciador do futebol diria que a Argentina já somava quatro jogos sem marcar um só tento, excetuando-se o gol contra no confronto com a Venezuela. Os argentinos despertaram do seu pesadelo num piscar de olhos, oito minutos, o tempo que Messi levou para encontrar o caminho das redes e disparar duas bombas impossíveis para o arqueiro equatoriano, desprotegido por sua zaga, num momento em que os 11 jogadores de Célico já estavam rendidos à aura do atacante de Rosario.

A pegada de Messi fez a diferença, para sorte de um time carente de variações de ritmo e profundidade, com um futebol pobre, superado quando Mercado e Otamendi saíam para cobrir as laterais e deixavam Mascherano sozinho na defesa de três homens desenhada por Sampaoli. Para garantir a vaga na Rússia, bastaram à Alviceleste duas acelerações do Messi – tão contundente ao nível do mar quanto nos 2.850 metros de altitude da capital equatoriana. Os gols do 10 permitiram que a torcida argentina voltasse a olhar para o placar dos outros jogos para saber se a classificação seria direta ou via repescagem, enquanto os equatorianos se distraíam com o Bruxo Manuel [aparentemente, um bruxo de verdade], enviado pela Argentina.

O jogo a partir daí não tinha mais nenhum interesse, nem sequer para Messi, que descansava à espera dos acontecimentos, sem saber se precisaria se reativar ou se os gols já marcados bastariam. Para o rival, era peso demais, dizimado que estava o Equador por ausências, sem chances de ir à Rússia e entregue a um técnico interino (e argentino). A única incógnita que restava no confronto já havia sido precocemente resolvida quando Messi marcou o 2 x 1. O 10 havia se reencontrado com o gol, depois de marcar pela última vez pela Argentina numa cobrança de pênalti contra o Chile, e isso em Quito foi suficiente para o time – que somava apenas 16 tentos nos 17 jogos anteriores das Eliminatórias.

Diante do silêncio de Messi, o Equador chegou a pensar que tinha chances de empatar. Uma falsa ilusão, porque o craque do Barça respondeu a essa mobilização marcando o 3 x 1. O 10 recolheu uma bola perdida no meio de campo, deu meia-volta e só parou ao pisar na área e chutar para as redes de Banguera. Um gol esplêndido, mas que não passará para a história, pois são tantos e tão iguais que acabam minimizados pela repetição, mesmo quando representam a classificação direta da Argentina para a Copa. A paralisia da Alviceleste, morta de medo, assustada com a altitude de Quito e por uma rodada cheia de armadilhas, teve como antídoto o seu camisa 10, com três gols como três sóis: 3 x 1.

Ninguém vai se lembrar deste como um jogo ruim, mas será difícil esquecer a atuação de Messi, pela magnífica apresentação numa noite em que a Argentina temia ficar fora de uma Copa pela primeira vez em quase meio século. O futebol de Messi, por mais conhecidos e repetidos que sejam seus gols, não podia faltar em 2018. O problema do 10 é justamente que seus gols parecem tão naturais que, quando não saem, ele se torna alvo de cobranças na Alviceleste e no Barça.

RESULTADOS E CLASSIFICAÇÕES

Brasil 3 x 0 Chile

Equador 1 x 3 Argentina

Paraguai 0 x 1 Venezuela

Peru 1 x 1 Colômbia

Uruguai 4 x 2 Bolívia

Classificação final:

Brasil, 41 pontos.

Uruguai, 31

Argentina, 28

Colômbia, 27.

Peru, 26. Jogará a repescagem

Chile, 26. Eliminado

Paraguai, 24

Equador, 20

Bolívia, 14

Venezuela, 12

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