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Ministério Público quer irmãos da JBS no banco dos réus por usar delação para lucrar

Procuradoria diz que eles usaram dados privilegiados para negociar no mercado de câmbio Justiça negou nesta segunda pedido para soltar Joesley e Wesley, presos na sede da PF

Joesley Bastista, na sede da PF.
Joesley Bastista, na sede da PF.(Rovena Rosa/Agência Brasil)

A novela da monumental delação da JBS teve mais um capítulo nesta terça-feira. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, que de delatores-bomba passaram a detidos e acusados no mês passado, agora caminham para se tornar réus. O Ministério Público Federal em São Paulo acusa os dois de usarem o próprio acordo de delação premiada fechado com as autoridades em maio para lucrar no mercado de câmbio e minimizar os prejuízos do grupo J&F, dono da JBS, com a compra e venda de ações. Joesley e Wesley são acusados dos crimes de uso indevido de informações privilegiadas e manipulação de mercado e caberá à Justiça decidir se aceita ou não a denúncia. "Não houve boa fé. Eles quiseram lucrar em cima da Justiça", disse uma das procuradoras do caso, Thaméa Danelon Valiengo.

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Em 17 de maio, um dia depois da existência do acordo de delação de Joesley Batista ter sido publicada pelo jornal O Globo, o mercado financeiro brasileiro vivia um tsunami. A Bolsa de Valores de São Paulo chegou a acionar o circuit breaker, uma espécie de parada emergencial nas negociações após uma queda brusca no valor das papéis, algo inusual e só usado outras 11 vezes na história. O dólar alcançou sua maior marca em um único dia desde 1999. Uma operação, no entanto, havia chamado atenção: a grande compra de dólares realizada pela própria JBS um dia antes.

A movimentação, que agora se transformou numa denúncia formal, já estava no radar da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia pública responsável por fiscalizar o mercado de ações já havia aberto investigação sobre o caso. Mais: já vinha desconfiando, desde abril, da intensidade de movimentos da empresa no mercado acionário. Além da operação de câmbio, que rendeu um lucro estimado em 100 milhões de reais para o grupo J&F, também é alvo da denúncia a venda de quase 40 mil ações do grupo dias antes da delação, o que minimizaria os prejuízos da J&F, e economizou, de acordo com a denúncia, 138 milhões para o grupo.

Joesley e Wesley Batista assinaram um dos maiores acordos de delação premiada da Operação Lava Jato em maio, acusando de corrupção o alto escalão político da República, incluindo o presidente, Michel Temer. Em troca de gravações e depoimentos, ganharam o benefício de imunidade ante outras seis operações de investigação em curso contra eles e suas empresas até então. Se a operação no mercado financeiro já havia lançado uma sombra sobre o acordo, as gravações divulgadas em agosto, nas quais Joesley sugere ter omitido provas das autoridades, colocou em xeque de vez tanto a delação quanto os benefícios legais obtidos.

Joesley e Wesley Batista estão presos desde setembro na carceragem da Polícia Federal, em São Paulo. Nesta segunda, a Justiça negou um pedido de habeas corpus da defesa dos empresários. Se condenados pelos crimes dos quais são acusados pelo Ministério Público, Joesley pode pegar entre 2 a 13 anos de prisão e Wesley, de 3 a 18 anos de prisão.

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