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Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie denunciam Harvey Weinstein por assédio

Enxurrada de acusações contra produtor de Hollywood cresce, em meio a denúncias de cumplicidade Três mulheres asseguram que o produtor as estuprou

Pablo Ximénez de Sandoval

O escândalo envolvendo as denúncias de abuso sexual por parte do produtor Harvey Weinstein deu um salto nesta terça-feira quando a revista The New Yorker publicou que ao menos três mulheres afirmam ter sido abusadas nos encontros com o magnata. Ao todo, a informação cita até 13 casos de agressões sexuais de um dos produtores mais poderosos de Hollywood. Em uma estremecedora gravação, Weinstein admite que tocou sem consentimento uma modelo e diz que “está acostumado a fazer isso”. À lista de acusações se somaram ainda dois dos nomes mais conhecidos de Hollywood: Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie.

Harvey Weinstein, em uma estreia em 2013.
Harvey Weinstein, em uma estreia em 2013.AFP

A lista de acusações sórdidas contra Weinstein cresce a cada minuto. Das mulheres contatadas pela revista, quatro afirmam que Weinstein as tocou sem consentimento e outras quatro que ele se masturbou diante delas. Entre as primeiras, o modelo italiana Ambra Battiliana foi à policia. O caso não foi para frente e Weinstein assegurou que tudo era uma chantagem. The New Yorker publicou nesta terça-feira uma gravação em que se ouve claramente Weinstein reconhecer que a tocou sem seu consentimento e a pressionou repetidamente para que se aproximasse enquanto ela dava desculpas para ir embora.

O comportamento de Weinstein parece seguir sempre o mesmo padrão. Reuniões de trabalho em quartos de hotel, preferivelmente o hotel Península, em Beverly Hills, nas quais o produtor se insinua insistentemente ou sugere à mulher que o acompanhe até a cama para que sejam feitas massagens mútuas.

Asia Argento, diretora e atriz italiana, afirma que Weinstein a forçou a fazer sexo oral nele. Não o denunciou publicamente até agora, assegura, porque temia que o produtor prejudicasse sua carreira, como já havia feito “com muitas pessoas antes”. Os fatos denunciados por Argento aconteceram há duas décadas.

Agora, várias atrizes conhecidas decidiram denunciar publicamente o comportamento de Weinstein. Mira Sorvino e Rosanna Arquette afirmam na The New Yorker que não contaram antes porque temiam que o poderoso produtor e distribuidor (que com suas empresas acumula mais de 80 oscars) poderia vetá-las para futuros projetos e tinha fama de arruinar a imagem de pessoas na imprensa plantando histórias negativas.

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Menos de duas horas após aparecer a explosiva informação na The New Yorker (assinada por Ronan Farrow, filho de Mia Farrow e Woody Allen, que afirma no Twitter que sua reportagem é o resultado de 10 meses de investigação) o jornal The New York Times publicou em seu site que as atrizes Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie, duas das mais cotadas de Hollywood, também sofreram assédio do produtor no início de suas carreiras.

Angelina Jolie descreve o mesmo comportamento de Weinstein: insinuaciones sexuais em uma reunião de trabalho em um hotel, quando estava negociando sua participação no filme Corações Apaixonados (1998). Ela tinha 21 anos.

Paltrow, por sua vez, descreve uma cena muito similar no hotel Península de Beverly Hills quando  tinha 22 anos e Weinstein acabava de contratá-la para ser a protagonista de Emma (1996). "Era uma criança. Fiquei petrificada". Ela afirma que contou a Brad Pitt, seu namorado da época, e que ele enfrentou Weinstein. Pouco depois, o produtor a ameaçou para que não dissesse nada a ninguém.

Uma porta-voz de Weinstein respondeu ao artigo desta terça-feira dizendo que o produtor nega qualquer acusação de sexo não consentido ou que alguma vez tenha feito represálias contra alguém que não aceitou suas propostas sexuais.

Entre as revelações na The New Yorker está a experiência vivida em 2004 por Lucia Stoller, aspirante à atriz que hoje se chama Lucia Evans. Quando Weinstein descobriu seu número de telefone, começou a ligar pelas noites e tentou marcar um encontro. Ela se recusou, mas quis fazer um teste para um papel com um executivo da produtora dele. Quando chegou ao encontro, em Nova York, o executivo era uma mulher, o que a tranquilizou. No entanto, após a reunião, ela foi levada a um quarto nos escritórios da produtora Miramax onde estava apenas Weinstein.

Ali, o produtor a obrigou a fazer sexo oral. Weinstein retirou o pênis e forçou a cabeça dela em direção ao órgão. “Eu disse várias vezes ‘não quero fazer isso, para, não”, assegura Evans. “Tentei me afastar, mas talvez não o bastante. Não queria atingir ele ou brigar”. Em um momento, “me rendi. Esta é a parte mais horrível. E é por isso que ele conseguiu fazer isto durante tanto tempo, com tantas mulheres: a gente se rende e, depois, pensam que foi sua culpa”.

Sobre o assédio sexual contínuo, Weinstein já o reconheceu implicitamente em sua resposta ao The New York Times na última quinta-feira, quando se abriu a enxurrada de acusações. Seu porta-voz voltou a dizer nesta última terça-feira que Weinstein está tentando mudar e que espera “uma segunda oportunidade”.

A revista The Hollywood Reporter informou na segunda-feira que, durante o fim de semana, Weinstein pediu ajuda desesperadamente a outros executivos de Hollywood, entre eles altos executivos da Dreamworks e da NBCUniversal. Todos se recusaram a sair em sua defesa. Weinstein foi demitido de sua própria companhia, The Weinstein Company, no domingo.

Além do comportamento de Weinstein, as novas revelações colocam foco na possível cultura de cumplicidade da Miramax e da The Weinstein Company, as duas produtoras fundadas por ele. The New Yorker assegura ter entrevistado até 16 executivos e assistentes, empregados e ex-funcionários de Weinstein, que afirmam que conheciam ou, até, que foram testemunhas do comportamento de Weinstein.

Outros empregados descrevem situações nas quais mulheres da companhia eram utilizadas como isca para dar confiança às possíveis vítimas dos abusos. Uma executiva descreve cenas em que mulheres assistentes de Weinstein participavam de uma reunião de trabalho para depois sair e deixar o produtor sozinho com a atriz.

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