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Namorada do atirador de Las Vegas: “O homem que conheci era bondoso e calmo”

Investigadores ouvem companheira de Stephen Paddock para tentar solucionar mistério da motivação do massacre

Pablo Ximénez de Sandoval
Memorial em homenagem às vítimas
Memorial em homenagem às vítimasMARK RALSTON (AFP)

O diretor interino do FBI, Andrew McCabe, admitiu nesta quarta-feira a existência de um sentimento de perplexidade, nos Estados Unidos, diante do caso do massacre de Las Vegas, pois “esse sujeito não deixou nenhuma das pistas imediatas que se detectam em ataques desse tipo”. “É surpreendente”, admitiu à CNN, que três dias depois do maior massacre a tiros da história do país ainda não se saiba quais foram os motivos que levaram Stephen Paddock a metralhar durante nove minutos seguidos uma multidão de 22.000 pessoas que assistiam a um show de música. Morreram 58 pessoas [as autoridades chegaram a falar em 59 mortos, mas incluindo o próprio Paddock], e mais de 500 ficaram feridas.

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Os investigadores estão “literalmente reconstruindo a vida e o comportamento” desse indivíduo, um homem de 64 anos que aparentemente vivia jogando pôquer em Las Vegas (o que não é algo raro na cidade), tinha dinheiro e não registrara nenhum antecedente criminal em sua vida. Era, aparentemente, aquilo que se chama na cidade de um high-roller, um jogador profissional frequentador dos cassinos, que está sempre nos hotéis e faz apostas elevadas. A polícia encontrou 47 armas de fogo no quarto do hotel Mandalay Bay de onde ele cometeu o crime e em suas duas casas, em Mesquite e em Reno (Nevada). Somente no quarto do hotel havia 23 armas, sendo pelo menos 12 espingardas alteradas para disparar como se fossem armas automáticas. Segundo a polícia de Las Vegas, Paddock vinha comprando armas havia algumas décadas e planejava sobreviver e fugir depois do massacre.

O atirador, oficialmente o maior assassino em série a tiros dos EUA, não se encaixa em nenhum estereótipo de assassino em série, no país que mais experiência tem no estudo desses perfis. Nessa reconstituição, se apegam na pessoa de Marilou Danley, sua companheira. Danley é cidadã australiana de origem filipina. Segundo o irmão de Paddock, seria a pessoa que mais conhecia o assassino desde que se conheceram em um cassino de Las Vegas onde ela trabalhava.

“O Stephen Paddock que eu conheci era um homem bondoso, carinhoso e calmo”, afirmou Danley nesta quarta-feira em uma nota lida por seu advogado. “Nunca me disse nada nem fez qualquer coisa que sinalizasse que uma coisa horrível como essa pudesse acontecer”, acrescentou.

Quando o massacre ocorreu, Danley estava nas Filipinas. Ela desembarcou em Los Angeles nesta terça-feira à noite e foi abordada por agentes federais. Não está detida, mas é considerada uma pessoa que interessa à investigação. Ela morava na casa onde o assassino acumulou 19 armas de fogo e uma abundante quantidade de munição.

As irmãs de Danley, que vivem na Austrália, disseram também a uma rede de televisão local que ela “não sabia de nada” e que se encontra tão chocada quanto o mundo inteiro. “(Paddock) a mandou para longe para que ela não interferisse naquilo que ele vinha planejando”. As irmãs deram declarações sem revelar seus nomes e com os rostos encobertos. Segundo elas, Danley “nem sequer sabia que ia para as Filipinas”. Ela teria viajado por ordem de Paddock, que lhe comprou a passagem, como se quisesse tirá-la do país. Segundo a imprensa, nos dias que antecederam o massacre Paddock enviou 100.000 dólares para as Filipinas; os investigadores não quiseram confirmar essa informação.

Um agente da imigração das Filipinas disse à agência Reuters que Danley chegou a Manila no último dia 15 de setembro, voou para Hong Kong no dia 22 e retornou a Manila no dia 25. Paddock se registrou no hotel de Las Vegas no dia 28. O festival de música country contra o qual dirigiu sua munição começou no dia seguinte. Paddock desencadeou a carnificina no começo da última apresentação do terceiro dia do festival, às 22h do domingo.

Na quarta-feira, o jornal local Las Vegas Review-Journal noticiou que um médico receitou ansiolíticos para Paddock em junho passado, segundo informação de um programa de monitoramento de prescrições do Estado de Nevada.

O jornal Bild publicou fotografias que mostram a suíte de Paddock no 32º andar do Mandalay Bay cheia de armas espalhadas pelo chão. Embora a motivação do crime ainda seja desconhecida, os investigadores afirmam que ele foi premeditado conscientemente. Paddock transportou todas essas armas para o quarto do hotel ao longo dos quatro dias em que esteve ali. Ele instalou câmeras dentro e fora do local, aparentemente prevendo a possibilidade de uma ação policial. Segundo a polícia, ele cometeu suicídio. O xerife local, Joe Lombardo, afirmou: “garanto que esta investigação não se encerra com a morte de Paddock”. Falta saber a motivação. Ou seja: tudo.

Uma conspiração percorre Las Vegas

Na última segunda-feira, enquanto anunciava detalhes da investigação em curso, o auxiliar do xerife Todd Fasulo se viu obrigado a fazer uma afirmação surpreendente: insistir em que Stephen Paddock foi o único atirador no caso do último domingo. Ele o fez diante da onda de rumores que percorria os corredores dos cassinos de Las Vegas sobre a possibilidade de haver outros atiradores. Na terça-feira, um homem gritava para os jornalistas que se agrupavam na esquina do local do massacre que havia uma conspiração cujo objetivo seria esconder que tiros também haviam sido dados a partir de um outro andar do Mandalay Bay, sobre o que não há nenhuma evidência. Nas horas iniciais de nervosismo, a polícia, de fato, recebeu telefonemas sobre possíveis atiradores em outros hotéis, onde houve correria de clientes. A informação era falsa, mas o terror e o nervosismo do domingo fizeram dessa eventual conspiração uma ferida a mais nas ruas de Las Vegas.

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