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Rei da Espanha acusa Catalunha de deslealdade e de quebrar a unidade do país

Pronunciamento foi feito em meio à greve geral em protesto contra uso de violência no referendo

Multidão protesta na Plaza Universidad de Barcelona nesta terça-feira
Multidão protesta na Plaza Universidad de Barcelona nesta terça-feiraSanti Donaire (EFE)

Dois dias após o referendo pela independência da Catalunha, o rei Felipe VI fez, nesta terça-feira, um pronunciamento nas redes de televisão espanholas no qual acusou a Generalitat (Governo local catalão) de agir fora da legalidade e da democracia e de tentar "quebrar a unidade da Espanha". Segundo o rei espanhol, as autoridades catalãs tomaram decisões que "violaram sistematicamente as regras, provando uma deslealdade inadmissível aos poderes do Estado, os quais representam na Catalunha. Ameaçaram a harmonia e a convivência na sociedade catalã”, afirmou.

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O pronunciamento foi feito em meio a uma greve geral apoiada pelo governo catalão. Menos da metade das empresas da região funcionam nesta terça-feira em protesto contra a violência policial durante o pleito no último domingo. Quase todas as escolas fecharam por falta de estudantes, 75% dos trabalhadores da saúde pública não foram trabalhar, os portos de Barcelona e Tarragona estão paralisados e há problemas nas estradas, com congestionamentos quilométricos. O presidente da Generalitat (governo regional catalão), Carles Puigdemont, pediu à população que não fosse "levada por provocações" e que realizasse um "protesto cívico". Enquanto isso, a pressão se estende para a polícia e a Guarda Civil em muitos pontos na Catalunha e milhares de pessoas tomaram as ruas.

De acordo com o sindicato patronal de pequenas e médias empresas, o Pimec, a adesão também foi muito grande entre os comerciários. Cerca de 85% das lojas da cidade amanheceram com as portas fechadas. Muitas lojas e bares de bairros de Barcelona, como Sant Antoni, Eixample e Sants, estão fechados. Também se juntaram à paralisação cadeias de supermercados como o Bon Preu e Condis e até mesmo escritórios de entidades financeiras. Piquetes informativos percorreram ruas pedindo aos comércios abertos que fechassem. No Passeio de Gràcia, onde as grandes lojas decidiram abrir, estabelecimentos como a Uniqlo e a Zara foram obrigados a fechar. De fato, clientes da empresa Inditex precisaram sair pela porta dos fundos, na rua Casp, após a loja aderir ao fechamento.

O rei Felipe VI, durante pronunciamento sobre o referendo catalão, nesta terça-feira.
O rei Felipe VI, durante pronunciamento sobre o referendo catalão, nesta terça-feira.REUTERS

Outros piquetes se concentraram, por exemplo, diante de estabelecimentos da rede de supermercados Mercadona no bairro do Poblenou de Barcelona e Reus (Tarragona). O estabelecimento da rua Nàpols, no bairro do Eixample, precisou fechar as portas. Um porta-voz do Mercadona afirmou que a empresa não está vivenciando mais episódios de piquetes do que em qualquer outra greve geral e afirmou que quase todos os seus mais de 200 estabelecimentos continuam abertos. A empresa lembrou que acertou na segunda-feira uma paralisação de duas horas com seus funcionários após se tornar público o comunicado dos sindicatos CC OO e UGT e os sindicatos patronais Pimec e Cecot apoiando a chamada “paralisação de país”. Os funcionários combinaram parar entre 14h e 16h para criticar a ação policial de domingo sem que, de acordo com essas fontes, em nenhum caso isso repercuta em suas folhas de pagamento.

O comércio de bairro se uniu majoritariamente à paralisação convocada. No bairro de Sant Antoni, a movimentada rua Urgell amanheceu como se fosse domingo. Nessa rua, a cafeteria da rede Bracafé colocou um cartaz informando que na terça-feira estaria fechada o dia todo. Esse aviso também estava nas janelas de charcutarias, redes de supermercados, produtos eletrônicos e agências bancárias do banco Sabadell. No bairro do Eixample Esquerre, a situação era parecida. “Tancat per dignitat” [“fechado por dignidade”], justificava um cartaz no bar Gelida, na esquina entre Urgell e Diputació. Nessa área farmácias abriram com serviços mínimos e também fecharam academias, bares e lojas de todos os tipos.

No bairro de Sants, a metade dos comércios começou o dia com as portas fechadas. Um piquete informativo descia pela rua Sants e, pacificamente, lhes informava sobre a greve. Muitos deles fechavam então os estabelecimentos, mas depois alguns reabriram. Um grupo de grevistas entrou depois na loja do McDonald´s da estação de Sants.

Confusão na Educação

Praticamente todas as escolas catalãs fecharam suas portas nesta terça-feira pela falta de alunos, que não foram aos colégios seguindo a convocatória de “paralisação de país” apoiada pelo Governo catalão, que na segunda-feira autorizou as escolas a fecharem se os alunos não fossem. O secretário geral do sindicato de docentes Ustec-STEs, Ramon Font, explicou à agência EFE que a organização convocou uma greve geral prévia no setor educacional e a previsão era de que o acompanhamento seria superior a 80%.

Na tarde de segunda-feira, o Departamento de Educação enviou uma carta às escolas em que dava liberdade aos colégios de participarem da greve geral do setor e da paralisação geral. A carta afirmava que em ambos os casos os serviços mínimos estariam garantidos, explicou Font.

No caso de participarem da greve geral, os serviços mínimos decretados consistiam em um membro da diretoria no ensino médio e um membro da diretoria no primário mais um docente para cada seis unidades, explicou Font, que informou que muitas escolas “consideraram abusivos os serviços mínimos decretados pela Educação”.

Por outro lado, no caso de um colégio decidir participar da “paralisação de país”, esse tem a obrigação de atender às famílias que comparecerem, afirmou Font, e se “não forem à escola, ela poderá fechar”. Ramon Font chamou a convocatória de paralisação como “fechamento patronal” e disse que se trata de uma figura “insólita e inédita”.

O sindicalista criticou que o fato de "participar da convocatória de paralisação e da greve geral causou muita confusão no setor” e considera que "hoje a paralisação no ensino será praticamente total".

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