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Petróleo se aproxima dos 60 dólares pela primeira vez desde julho de 2015

Aumento da demanda e tensões geopolíticas como o referendo no Curdistão empurram a cotação

Javier Salvatierra
Plataforma de extração de petróleo no Bahrein
Plataforma de extração de petróleo no Bahreinap

O barril de petróleo tipo Brent, que serve de referência no mercado internacional, está sendo negociado a aproximadamente 59 dólares nesta terça-feira. Apesar da ligeira queda no dia, desde 30 de agosto o produto não para de registrar altas diárias, até alcançar níveis inéditos desde julho de 2015. Foi nessa época, há mais de dois anos, que o barril chegou pela última vez aos 60 dólares (190 reais, pelo câmbio atual). O referendo de independência do Curdistão iraquiano, realizado nesta segunda-feira, foi o último impulso para esse movimento de preços, dado o impacto que a secessão dessa região rica em petróleo teria sobre o mercado. Uma possível ampliação dos limites à produção, pelo lado da oferta, e uma maior demanda por causa do bom momento econômico contribuem para a escalada.

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Em 30 de agosto, o barril de petróleo Brent era negociado a 50,86 dólares. Na manhã desta terça, chegou a 59,49. Ou seja, em menos de um mês, subiu 16,7%. O mínimo anual foi registrado em meados de junho, em 44,82 dólares. Desde então, a alta é de 32,7%. O Brent começou o ano se movimentando entre 54 e 55 dólares, mas sofreu fortes quedas a partir de abril, até atingir a cotação mínima em junho. Depois disso, mesmo com solavancos, a tendência é de alta.

“Todos os fatores estão a favor, vêm de popa”, explica Natalia Aguirre, diretora de análise do banco de investimentos Renta 4. Entre esses fatores positivos cita, por um lado, um aumento da demanda pelo ciclo econômico expansionista. “Tanto a OPEP como a Agência Internacional de Energia revisaram para cima suas previsões de demanda, porque o crescimento econômico é observado em todas as regiões.”

Pelo lado da oferta, segundo Aguirre, juntam-se vários fatores. Em primeiro lugar, a última reunião ministerial entre os países produtores, da OPEP e externos, realizada na sexta-feira, em que se constatou que o corte de produção decidido em novembro de 2016 está alcançando “altos níveis de cumprimento”. Além disso, concluiu-se nessa reunião que seria factível aprofundar o ajuste – em novembro, a produção havia sido limitada a 1,8 milhão de barris diários – e prorrogar esses cortes até depois de março de 2018, data inicialmente fixada para o seu fim.

Um último fator contribuiu para a escalada do petróleo no último mês, na avaliação de Aguirre. O referendo de independência do Curdistão iraquiano, realizado nesta segunda, fez com que o Brent subisse quase 4% durante o dia. A Turquia se opõe à independência do território, temendo o contágio para a sua própria área curda, e já anunciou que, em caso de vitória do sim, bloquearia as exportações curdas, o que acarretaria “outro corte da oferta”, explica Aguirre. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reiterou essas ameaças na terça-feira. “Tudo acabará assim que fecharmos os oledutos”, declarou, em referência à estrutura que leva centenas de milhares de barris de petróleo por dia do norte do Iraque para a Turquia.

Desde o final de agosto, além disso, surgiram alguns outros fatores que reprimiram a oferta: o furacão Harvey paralisou boa parte da atividade de refino na região de Houston (EUA) e da extração nas plataformas do golfo do México, e foi anunciado que a produção mexicana caiu em julho para menos de dois milhões de barris pela primeira vez desde 1980, devido a uma combinação de fatores que incluem o esgotamento de algumas jazidas e uma queda nos investimentos.

No entanto, nesta situação, com preços rondando os 60 dólares, poderia ativar algumas produções que contribuiriam para aumentar a oferta e, portanto, reter a alta.

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