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Na zona zero do terremoto mexicano: “Minha cidade veio abaixo. Isto é uma zona de desastre”

Uma pequena cidade de Morelos, a 70 quilômetros do epicentro do sismo mexicano, acumula a maior concentração de ruína e morte

David Marcial Pérez
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A terra rangeu ao sul e o terremoto subiu 130 quilômetros como uma chicotada até a Cidade do México. Antes, a meio caminho entre o epicentro e a megalópole, a sacudida da terça-feira foi sentida em uma pequena cidade produtora de arroz do Estado de Morelos como em nenhum outro lugar. Se na capital os mortos são centenas entre 20 milhões, aqui, em Jojutla, são dezenas entre 25.000. Se no centro do México edifícios tombaram, aqui bairros inteiros foram arrasados. Se na capital se levanta a cabeça pela morbidez de ver caírem alguns arranha-céus, na cidade se olha para o chão com a esperança de encontrar algum resto do naufrágio.

Pela praça da prefeitura, tomada por quatro furgões do Exército, na noite de quarta-feira uma mulher arrastava os pés e um cobertor. “Minha cidade veio abaixo. Isto é uma zona de desastre.” O primeiro a se desprender da sede da prefeitura foi o relógio, redondo e branco, que presidia a fachada. Um policial conta que caiu em cima de um morador que ia pagar uma conta. Presos dentro do edifício, com um buraco em uma lateral, também morreram dois funcionários públicos. Desde as 13h14 de terça-feira o relógio de Jojutla se deteve na ruína e na desolação.

A essa hora, Héctor Manuel Franco, 41 anos, estava em seu quarto, sua avó na sala e seu tio na lojinha que tinham na entrada. Começou o balanço e Franco colocou a avó no quarto. O tio tentou sair à rua e o teto de adobe desmoronou sobre sua cabeça. “Saí para a rua pela parte de trás e vi como a metade da minha casa era puro escombro. As pessoas puxavam meu tio e conseguimos tirá-lo. Está no hospital, estável, mas com problemas no pulmão.”

As cifras oficiais beiram a vintena de mortos, 300 moradias destruídas e quase 2.000 imóveis danificados

O hospital de Jojutla, um centro regional que atende outras cinco cidades da área, também foi afetado pelo terremoto. Vários doentes foram levados para a garagem do edifício e os casos mais urgentes, transferidos em helicóptero para a Cidade do México. “Ontem ajudamos a tirar dois meninos. Um já estava morto. O outro teve um braço amputado e no helicóptero teve uma hemorragia e não chegou ao hospital”, conta Cuauhtémoc Machado, um dos centenas de voluntários envolvidos na ajuda aos vizinhos.

O Exército, a polícia estadual e federal e a proteção civil também estão presentes. As cifras oficiais beiram a vintena de mortos –quase um terço do total de vítimas do Estado–, 300 casas destruídas e quase 2.000 imóveis danificados. Os moradores, sem descanso na solidariedade, estão convencidos de que os prejuízos são maiores. “Quase um terço da cidade foi afetado. Temos pelo menos 100 mortos”, acrescenta Muñoz.

Pelo menos seis albergues foram estabelecidos na cidade. Há excesso de víveres, cobertores, remédios e fraternidade entre os vizinhos, Mas fora, na rua, a paisagem é pós-apocalíptica. No bairro Emiliano Zapata, um dos mais afetados, mal se vê uma casa que esteja de pé. Postes de luz caídos sobre telhados no chão, ferro retorcido saindo de colunas esfoladas, banheiras rachadas vistas na calçada, brinquedos sujos entre pilhas de entulho.

Antonio López, 69 anos, conseguiu salvar um colchão e duas geladeiras. É vendedor de frangos e guardava o que sobrava do mercado nesses refrigeradores caseiros que agora estão saudando a rua de areia. Ele não pensa em se separar deles, nem das ruínas de sua casa. “Hoje durmo aqui, pode vir algum ladrão se aproveitar.” A cena se repete em todas as esquinas: moradores passando a noite diante dos restos de suas casas, por medo de saques. “Só será hoje –continua López– porque já me disseram que amanhã será demolida. O que não me disseram é se depois vão me ajudar.”

O presidente Peña Nieto visitou a zona na quarta-feira ao meio-dia acompanhado do governador do Estado. Ambos se comprometeram a realizar um levantamento para determinar a extensão da catástrofe. Durante a semana continuarão as reuniões entre as autoridades e estará na mesa a possível qualificação da cidade como zona de desastre, o que aceleraria a ajuda federal. Por hora, o relógio de Jojutla segue parado às 13h14 da terça-feira.

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