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Irã alerta que responderá “de forma decidida” a uma ruptura do pacto nuclear

Na ONU, Trump disse que o acordo é uma “vergonha” e abriu a porta para o processo de suspensão

Jan Martínez Ahrens
O presidente iraniano, Hassan Rohani, na Assembleia Geral das Nações Unidas
O presidente iraniano, Hassan Rohani, na Assembleia Geral das Nações UnidasJUSTIN LANE (EFE)
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O Irã não ficará calado. Depois de receber as investidas de Donald Trump e Benjamin Netanyahu na Assembleia Geral da ONU, o presidente iraniano, Hassan Rohani, saiu em defesa do pacto nuclear de 2015 e alertou que, se o acordo for violado, o Irã responderá de forma decidida. “Rechaçamos as armas atômicas; mas imaginem um Oriente Médio sem esse acordo, imaginem uma crise nuclear artificial”, afirmou Rohani pouco depois de Trump revelar que sua decisão já estava tomada. “Seria uma lástima um pacto internacional ser destruído por um recém-chegado à política mundial”, concluiu o líder iraniano.

O pacto está em crise. Assinado em 14 de julho de 2015 em Viena, seu ponto principal consistia em limitar o programa nuclear iraniano em troca da suspensão das sanções. Mas seu alcance era muito maior. Não só punha um freio temporário à bomba iraniana, como também abria um espaço de distensão após quatro décadas de embate entre Teerã e Washington. Muitos o equipararam a Camp David, que selou a paz entre Egito e Israel em 1978, e poucos duvidaram de que se tratava de uma das maiores conquistas diplomáticas de Barack Obama. Um triunfo do multilateralismo e do diálogo em um território propenso ao sangue e à fúria.

Mas também houve críticos. Desde o início, Israel rechaçou o texto de Viena. Considera que contém uma cláusula de extinção que entra em vigor em 10 anos e, portanto, não põe fim real ao desenvolvimento da arma nuclear. “Quando chegar o momento, o Irã poderá enriquecer urânio em escala industrial, não para fabricar uma única bomba atômica, mas muitas. Imaginem centenas de bombas nucleares nas mãos do império islâmico iraniano. Não resta outra saída a não ser mudar o acordo, anulando a cláusula de extinção e enviando inspetores às instalações suspeitas, ou diretamente romper o pacto e voltar a impor sanções paralisantes”, afirmou na terça-feira o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral.

Trump, um aliado incondicional de Israel, também é contra o acordo. Embora o Governo tenha dado seu aval três vezes nas revisões trimestrais, o presidente rejeita o texto publicamente. Durante a campanha, qualificou-o como “o pior do mundo” e, nesta terça-feira, na Assembleia Geral, tachou-o de “vergonha” e deixou a porta aberta para o início do processo de ruptura em meados de outubro.

Nessa encruzilhada, uma saída dos EUA seria unilateral. Nenhum dos outros seis signatários (Irã, França, Rússia, China, Reino Unido e Alemanha) apoia a denúncia. Pelo contrário, Paris pediu abertamente a Trump que o mantenha sob o argumento de que evita a proliferação nuclear em um cenário mundial submetido à escalada norte-coreana.

Em seu discurso na ONU, Rohani não ficou atrás. Depois de definir-se como um defensor da moderação e da paz, o presidente iraniano recordou que o pacto não era patrimônio de um ou dois países, mas o resultado de dois anos de negociações multilaterais amparadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. “Seu titular é a comunidade internacional”, frisou. Nessa linha, insistiu que o Irã, diferentemente de Israel, jamais pretendeu a bomba atômica: “Não procuramos a dissuasão através da arma nuclear e não nos preocupa renunciar a uma opção que jamais procuramos”.

Sem elevar o tom, o líder iraniano não quis deixar passar os ataques de Trump. Na véspera, na mesma tribuna, o presidente dos EUA tinha qualificado o regime dos aiatolás de “ditadura corrupta, assassina e desestabilizadora”. “Oprimem seu povo, exportam caos e destruição e perseguem o fim dos Estados Unidos e de Israel”, clamou.

Rohani considerou essas palavras, embora sem citar seu autor, como parte de “uma retórica odiosa e ignorante”. “É uma lástima que um acordo assim seja destruído por um recém-chegado à política internacional. Ao violar acordos internacionais, os Estados Unidos minam sua própria credibilidade. Washington terá de explicar a seu povo por que não contribui para a paz e a estabilidade”, concluiu o presidente iraniano.

Nesse clima deteriorado, a possibilidade de melhora parece cada dia mais distante. Enquanto Rohani dava sua resposta na Assembleia Geral, seu ministro do Exterior, Mohammad Javad Zarif, reunia-se sob os auspícios da União Europeia com o secretário de Estado, Rex Tillerson. Ambos procuravam um consenso em uma reunião a portas fechadas. Do lado de fora, os tambores não paravam de ressoar.

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