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‘Blade Runner 2049’ reproduz o mito

Ryan Gosling é o protagonista da continuação de um filme icônico da cultura. "Tive que processar a ideia de fazer parte de algo imenso", afirma

Cena de 'Blade Runner 2049'.
Cena de 'Blade Runner 2049'.
Gregorio Belinchón
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Nada mais é sagrado no cinema. Tudo está sujeito a remakes, continuações, novas adaptações, reboots, spin offs e qualquer palavra que ocorra a Hollywood. Se até Casablanca teve uma versão futurista com Pamela Anderson (Bela e Perigosa), era plausível que houvesse uma continuação de Blade Runner, uma vez acabados os diferentes lançamentos comerciais de sua versão sem voz em off, da montagem do diretor, do... "Bom, eu estou me preparando para isso a minha vida inteira", confessa Ryan Gosling (London, Ontario, 1980). "O filme estreou quando eu tinha dois anos. E influenciou a cultura na qual eu cresci. Eu o vi com 12 anos e me impactou. Virou parte de mim, porque, com 20 anos, eu me fiz perguntas sobre o futuro que estão em Blade Runner. Eu me mudei para Los Angeles, virei ator e vivi em Downtown, muito perto do edifício Bradbury. Um dia, fui entrevistado por Ridley Scott, que me adiantou partes da história, o que me interessava, e enquanto processava o conceito de fazer parte de algo imenso, já estava em Budapeste filmando junto com Harrison Ford". Em Blade Runner 2049, dirigido por Denis Villeneuve, Gosling herda o protagonista do filme, o oficial K, muito parecido em figurino, solidão e melancolia ao mítico Rick Deckard, que volta às telonas porque, neste século XXI, Ford tomou gosto por recuperar seus personagens.

Como foi ler a continuação de um título tão cultuado? "No meu caso, tudo depende da conexão com o roteiro. Na primeira vez em que li o roteiro de Blade Runner 2049, eu me perdi na história, mergulhei preso à imensa aposta visual e, ao mesmo tempo, à reflexão íntima sobre a vida de personagens complexos". Acontece sempre? "Busco trabalhar com diretores ambiciosos, que me permitam colaborar com suas visões cinematográficas". Como dizia seu filme anterior, La La Land, tudo isso é muito bonito, e é a ambição de todo ator. Agora, se não tiver sorte... Pela primeira vez, Gosling dá risada. "Eu sei, eu sei. É verdade. O que faço é sentir que me conecto com o roteiro, com o diretor, entender o que está fazendo, sentir as emoções do seu personagem. E então..."

Gosling apareceu com a típica blusa que ganhou de Natal da sua avó. Também não se destaca pela elegância com a imprensa. Seu negócio é outro: encarnar homens difíceis, complexos. "Em Blade Runner, há um tipo muito diferente de herói. Era uma das perguntas chave da primeira parte, que questionava os espectadores sobre as diferenças, às vezes mínimas, entre heróis e vilões", lembra Gosling. "Não posso dizer muito mais porque acredito que o espectador precisa desfrutar da experiência, como eu fiz na primeira vez que li o roteiro. Faz 35 anos e vale a pena esperar o filme". Com isso, justifica também por que os jornalistas que entrevistam os atores puderam ver apenas parte do filme: há dez dias, o New York Times revelou um spoiler, um detalhe chave para a trama, e os produtores ficaram bravos. A poucos dias da estreia, em 6 de outubro, ninguém mais verá a íntegra de Blade Runner 2049.

Logo, são os atores que fornecem as informações: "O que podemos contar? Que Ford faz novamente Rick, que o trabalho dos blade runners, caçar replicantes, ficou mais complicado porque o contexto mudou. Agora, são párias, fazem um trabalho que ninguém quer fazer. Meu personagem tem uma existência solitária, sem conexões humanas. E, no começo do filme, suas emoções de tentar algo mais que seu trabalho são exploradas". Gosling não tem dificuldade para responder uma pergunta fundamental: Blade Runner 2049 é a segunda parte de qual versão da primeira? Porque há pequenas variações visuais em algumas que, no entanto, mudam completamente o personagem de Deckard. "Continua a história da versão do diretor". Para o bom entendedor....

O ATOR QUE NÃO INTERPRETA SUPER-HERÓIS

Ryan Gosling, como todos, tem um passado. Começou na televisão, em janeiro de 1993, no Club Disney, e como estava longe de Ontario, sua cidade natal, viveu durante dois anos na casa da família de um dos seus companheiros de programa, Justin Timberlake. Ganhou experiência como protagonista da série O jovem Hércules e começou no cinema, mesclando títulos mais esquecíveis - categoria na qual entra o blockbuster Diário De Uma Paixão - com dramas como Tolerância Zero, Half Nelson - Encurralados e A Garota Ideal. Hoje em dia, é um dos pouquíssimos atores de primeira categoria, dos grandes (fez La La Land, Tudo Pelo Poder, Drive, Namorados para Sempre), que não está em nenhuma saga de ficção científica ou de super-heróis. "Por enquanto, não senti a conexão de nenhuma das propostas com as minhas experiências de vida. Tenho família [dois filhos com a atriz Eva Mendes], então preciso me importar muito com o filme para me afastar deles... E não acredita que meus trabalhos com Nicolas Winding Refin estão construindo o arquétipo do super-herói moderno?", responde, rindo. Haverá uma segunda parte de Drive? Porque o romance já existe. "Não acredito. Nic e eu falamos disso, mas não gostamos muito do material. E seria romper o mistério do personagem".

Seu próximo passo é especial: será Neil Armstrong em First Man. "A pesquisa está sendo maravilhosa, inspiradora. E eu gostaria de classificá-lo como super-herói de carne e osso".

VILLENEUVE, O DIRETOR PERFEITO

A carreira do canadense Denis Villeneuve é incrível. Não tem filme ruim. Ao mesmo tempo, todas sabem chegar ao grande público e se ancoram no aqui e agora de cada espectador. Acontecerá o mesmo com Blade Runner 2049? "Claro, mas o primeiro já falava cara a cara com a audiência sobre como o ser humano encara circunstâncias adversas e como se comporta com outros seres humanos. Dito isso, este é um filme de Villeneuve, com seu enorme respeito pelos homens. Ridley o ajudou, mas Denis seguiu seu instinto. É um diretor admirável".

HARRISON FORD ASSEGURA QUE SE MANTÉM O TOM DE "PESADELO EXISTENCIAL"

G. B. / AGENCIAS

"O que aconteceu com ele faz parte do mistério", respondeu Harrison Ford, sobre em que estado encontrou seu personagem de caçador de replicantes, Rick Deckard, 35 anos depois do original Blade Runner. O popular ator, de 75 anos, afirma que o filme mantém o tom "noir" e de "pesadelo existencial" do primeiro, mas, preocupado com a promoção, alerta: "Não vamos confundir terrível com chato, não é um passeio no parque, mas há tensões, mistérios".

Os fatos acontecem 30 anos depois do primeiro filme, ambientado em 2019. Um novo caçador de replicantes, o agente K (Ryan Gosling), desenterra um antigo segredo que poderia mergulhar no caos o que resta da sociedade. O roteiro é de Hampton Fancher, que adaptou também o filme original do romance de Philip K. Dick, Androides sonham com ovelhas elétricas?, e de Michael Green. Conta com novos personagens que foram interpretados por Ana de Armas, Robin Wirght e Jared Leto.

Ana de Armas destacou, em Madri, que sua personagem é "forte e complexa". "É a amante do agente K, sua melhor amiga, e a única pessoa em quem pode confiar. Ela o empurra a buscar essas respostas que precisa saber", afirmou.

Lançado em 1982, Blade Runner não foi bem na bilheteria na sua época, mas, com o tempo, converteu-se em um filme cultuado, que se moveu entre o cinema negro e o da ficção científica, e discutia questões à frente do seu tempo sobre o que significa ser humano, as classes sociais, a engenharia elétrica e as mudanças climáticas.

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