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Neymar e Cavani estouram guerra de egos no PSG

A discussão entre os atacantes em plena partida para definir qual deles bateria um pênalti revela as tensões internas de um elenco recheado de estrelas vaidosas

Diego Torres
Neymar e Cavani falam durante o jogo entre o PSG e Lyon.
Neymar e Cavani falam durante o jogo entre o PSG e Lyon.CHRISTOPHE SIMON (AFP)

Edinson Cavani se negou a ceder a bola a Neymar para que ele cobrasse o pênalti sofrido por   Kylian Mbappé aos 29 minutos do segundo tempo da partida de domingo entre o PSG e o Lyon no Parque dos Príncipes. O incidente provocou um claro incômodo em Neymar em um choque de egos que insinua o tipo de dificuldades que o PSG encontrará nessa temporada. Daniel Alves pegou a bola para entregá-la ao seu amigo Neymar, mas Cavani foi atrás dele, criticou sua intervenção, tirou a bola de suas mãos com gestos e palavras demonstrando irritação. Colocou a bola na marca da cal enquanto Neymar continuava insistindo para que lhe deixasse cobrar. Quando Neymar saiu, irritado, o uruguaio bateu. O chute, violento, foi à direita do goleiro Mathieu Gorgelin, que esticou a mão e espalmou a bola no travessão. Neymar pode alegar que ele bate melhor. Cavani, que está há cinco anos no clube, ganhou um direito e não pode exercê-lo se não permitem que se concentre.

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O incidente se repete. Em 25 de agosto, contra o Saint Etienne, pelo Campeonato Francês, o árbitro marcou pênalti e Cavani pediu a bola para cobrá-lo. Caminhando em direção à cobrança, Neymar entrou em sua frente e lhe pediu a bola. O uruguaio passou reto. Ignorou o pedido e marcou 1 a 0. “Falei com Neymar e Cavani”, disse o técnico Unai Emery, no sábado, antes do jogo contra o Lyon. “O mais importante é que trabalhem juntos. Os dois são jogadores inteligentes. Se Cavani bateu o primeiro pênalti, Neymar cobrará outros”.

Administrar vaidades que não parecem dispostas a ceder privilégios e parcelas de influência no grupo. Esse é o grande desafio de Emery quando, enfim, tem um time verdadeiramente competitivo à disposição, mas igualmente tomado pelo risco de implosão caso falte comando. “Pode ser que haja algo artificial na maneira como se construiu esse PSG”, opina o técnico espanhol Vicente Del Bosque. “Mas as tensões geradas ali não são muito diferentes das que se podem encontrar em clubes pequenos ou amadores. A solução é muito simples e todos os jogadores a conhecem bem: nunca vão triunfar individualmente se a equipe não funcionar.”

Emery, compatriota de Del Bosque, avisou que Neymar compreende que no PSG existem “bons” jogadores que merecem o privilégio de bater os pênaltis tanto quanto ele. Cavani, por enquanto, parece querer gozar dessa prerrogativa com exclusividade. O que parece um detalhe banal esconde um código de convivência essencial para o bom funcionamento de qualquer equipe de futebol. Só será possível ao PSG resistir à sobrecarga de estrelas se existir uma ordem interna que o permita. Impor essa ordem é tarefa dos capitães como Thiago Motta e Thiago Silva, o treinador e os dirigentes. A nova estrutura do clube, relativamente recente, expõe o vestiário aos conflitos.

Neymar, de 25 anos, assinou com o PSG com a convicção de que o clube de Paris colocaria a sua disposição todos os recursos para transformá-lo em líder e protagonista. Como aconteceu no Santos até  2013, o meia-atacante paulista tem a ambição de ser o jogador de referência da equipe. Os pênaltis são um símbolo nesse sentido. Pelo menos o jogador entende dessa forma, ele que em 2010 insultou seu treinador, Dorival Júnior, porque não lhe deixou cobrar um pênalti contra o Corinthians. “Vai se foder!”, gritou diversas vezes. O técnico afastou o jogador por indisciplina e foi demitido pelo clube uma semana mais tarde. O escândalo, registrado pelas câmeras de televisão, provocou um inflamado debate no Brasil. O técnico René Simões foi taxativo: “Estamos criando um monstro”.

Há alguns anos, quando jogava no Barcelona, Neymar declarou em uma entrevista que se rendia à grandeza de Messi. Para explicar melhor lembrou que o argentino lhe cedeu a honra de cobrar uma penalidade máxima: “Nunca esquecerei que Messi, o melhor do mundo, me deixou cobrar um pênalti quando disputava a artilharia”.

Edinson Cavani, de 30 anos, dá toda a impressão de querer salvaguardar seu estatuto de veterano. Por enquanto, os números estão a seu favor. O camisa nove uruguaio do PSG tem dez gols em sete partidas na temporada, enquanto Neymar marcou cinco gols em seis partidas.

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