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O adeus à Sonda Cassini

NASA termina a missão que revelou os segredos do sexto planeta do Sistema Solar

Nuño Domínguez
Ilustração da Cassini da NASA na atmosfera de Saturno.
Ilustração da Cassini da NASA na atmosfera de Saturno.NASA/JPL-Caltech HANDOUT (EFE)

A sonda Cassini se desintegrou hoje na atmosfera de Saturno terminando uma missão de 20 anos que ajudou a desvendar os segredos do sexto planeta do sistema solar como nenhuma outra nave espacial tinha feito antes.

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A nave se desintegrou pouco depois de entrar nas camadas mais externas do espesso envoltório de gases que rodeia o planeta. A nave usou o pouco combustível que restava em seus propulsores para manter a antena orientada para a Terra e transmitir dados até o último momento antes de perder o controle e se desintegrar completamente pelo atrito com o ar. A NASA planejou cuidadosamente este suicídio programado para evitar a contaminação das luas do planeta que podem abrigar vida.

Os engenheiros de voo seguiram a manobra do Centro de Propulsão a Jato em Pasadena. O último sinal da nave espacial foi recebido no centro de controle ao redor das 8h55, horário de Brasília.

“Este é o fim da missão”, disse Earl Maize, chefe do programa Cassini. “Espero que todos estejam orgulhosos deste incrível sucesso”, acrescentou antes de abraçar um de seus companheiros.

A missão Cassini-Huygens, um projeto conjunto da NASA e da Agência Espacial Europeia lançado em 1997 foi a primeira missão focada em explorar Saturno e seus anéis. Suas descobertas foram fundamentais para provar que pode haver vida em outros lugares do Sistema Solar e que estes não são exatamente parecidos com a Terra. Em 2005, o módulo Huygens tornou-se o primeiro artefato espacial a pousar em uma lua de outro planeta, Titã, onde a missão descobriu montanhas, lagos e oceanos cheios de metano líquido. Sua companheira, a sonda Cassini foi enviada para Encélado, outro dos mais de 60 satélites do planeta, para sobrevoar o Polo Sul e atravessar as fumarolas que saem de seus gêiseres. A composição dos gases indica que podem ser provenientes de fontes hidrotermais no fundo de um oceano de água líquida que está por baixo de uma camada de gelo de vários quilômetros. De acordo com alguns especialistas, este é o corpo do sistema solar com maior probabilidade de abrigar seres vivos.

A sonda Cassini também retratou como nunca o espetacular sistema de anéis que engloba 300.000 quilômetros e se reduz a apenas 10 metros de espessura, assemelhando-se a um jovem sistema solar.

Uma das imagens mais espetaculares dos anéis de Saturno, tiradas pela Cassini em fevereiro de 2017.
Uma das imagens mais espetaculares dos anéis de Saturno, tiradas pela Cassini em fevereiro de 2017.AP

Durante seus últimos meses de vida, a sonda esteve atravessando o espaço entre os anéis e o planeta, uma área completamente inexplorada. Com os dados obtidos vão tentar resolver alguns dos mistérios que permanecem, como a massa dos anéis ou a longitude de um dia em Saturno. Ao contrário dos planetas rochosos como a Terra, onde é possível tomar como referência um ponto geográfico para saber quando se completa uma órbita, a atmosfera gasosa do planeta gigante exige outros métodos. Um instrumento da sonda Cassini permite medir os movimentos do campo magnético de Saturno e sua emissões de rádio. Assim, sabe-se que um dia ali dura entre 10,6 e 10,8 horas, mas os últimos dias de serviço da sonda podem resolver com precisão o mistério. Outra grande questão a ser respondida é se o planeta tem um núcleo rochoso completamente escondido sob sua atmosfera tormentosa.

O fim da missão estava previsto para 8h55, horário de Brasília. A nave entraria um minuto antes nas camadas mais superficiais da atmosfera, a uma altitude de cerca de 1.915 metros acima das primeiras nuvens que cobrem o planeta. A pressão é semelhante à da Terra ao nível do mar.

A sonda Cassini se viraria para direcionar sua antena para nosso planeta e transmitiria dados em tempo real. Quando todo o combustível dos propulsores se esgotasse perderia o controle e começaria a girar sobre seu eixo. Emitiria seu último sinal a 1.500 quilômetros acima das nuvens. Em seguida, pegaria fogo pelo atrito com ar e ficaria completamente destruída em um ou dois minutos, sem sequer ter conseguido atravessar as camadas mais superficiais da violenta camada de gases que rodeiam o planeta. Os dados científicos que conseguisse enviar nesses instantes seriam as primeiras medições diretas da composição da atmosfera.

Devido ao atraso do sinal, o último adeus da sonda Cassini chegaria à Terra 86 minutos depois. Nas horas antes de seu final a nave tomaria suas últimas imagens do sistema de anéis e de Encélado e Titã. Perto da meia-noite de ontem a sonda enviou todos os dados armazenados e suas últimas imagens antes de mudar sua configuração para transmitir em tempo real, pouco antes de seu suicídio controlado

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