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Trump diz agora que está perto de um acordo com os democratas para proteger os ‘dreamers’

Presidente negociou proteção a 800 mil jovens imigrantes em troca de apoio à segurança fronteiriça

Jan Martínez Ahrens

Os 'dreamers' perderam o controle de seu destino. Donald Trump decidiu usá-los como barganha para que os democratas apoiem um endurecimento da segurança nas fronteiras. A negociação, que se tornou nas últimas horas um vai e vem vertiginoso, está em andamento. A oposição diz que fechou um princípio de acordo e o presidente agora afirma que o pacto está próximo. Assim, os 800 mil imigrantes que chegaram crianças aos Estados Unidos e que estão cercados pela sombra da deportação são agora reféns do jogo político de Washington.

Trump ao lado do líder republicano do Senado, Mitch McConnell, seu homólogo democrata Chuck Schumer e a chefa democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, quarta-feira no Salão Oval.
Trump ao lado do líder republicano do Senado, Mitch McConnell, seu homólogo democrata Chuck Schumer e a chefa democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, quarta-feira no Salão Oval.REUTERS

A confusão é uma arma nas mãos de Trump. Em menos de 12 horas, o presidente lidou com o destino de 800 mil imigrantes como se fosse uma bola de ping-pong. Primeiro, recebeu os líderes democratas na Casa Branca; em seguida, deixou a oposição publicar uma declaração anunciando um princípio de acordo para regularizar o grupo. No início da manhã, no entanto, desmentiu a informação via Twitter e, depois de duas horas, antes de embarcar em um avião para a Flórida, disse que o "acordo estava próximo" e desligou-o da construção do muro com o México, um anátema para os democratas. "Isso virá depois", afirmou.

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O jantar da confusão aconteceu ontem com o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, e sua homóloga na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. Não era nenhum segredo que buscavam um acordo.

“Tivemos uma reunião muito produtiva na Casa Branca com o presidente. A discussão teve como foco o DACA [o programa que dá cobertura legal aos dreamers] e as maneiras de consolidar rapidamente suas proteções na forma de uma lei e elaborar um pacote sobre segurança fronteiriça que exclua o muro e seja aceitável para ambas as partes”, declararam os líderes democratas em um comunicado ao sair do jantar.

Trump não fez declarações, apesar de todos os veículos de imprensa divulgarem o princípio de acordo. Às seis da manhã dissipou as esperanças com uma série de tuítes. Negava ter selado qualquer pacto. E, mais uma vez, como tem feito frequentemente, voltava a declarar seu apoio aos dreamers. “Estão em nosso país há muitos anos, não fizeram nada errado, mas foram trazidos por seus pais na infância”, disse em um tuíte, que alimenta a tese de que os dreamers são reféns da negociação do muro. “Alguém quer realmente expulsar esses bons e educados jovens que têm trabalho e estão servindo no exército?”, perguntou retoricamente Trump, que dias atrás os colocou na berlinda.

Agora ele diz que o acordo deve sair. A aproximação tática da oposição tem rendido frutos a Trump. Os republicanos têm maioria nas duas casas, mas sua incapacidade de consenso, e especialmente sua dispersão ideológica, dificultam um voto coeso. Humilhado por seus contínuos fracassos no Congresso, Trump decidiu dar uma guinada e, na semana passada, surpreendeu o país e firmou um pacto com os democratas que permitiu superar o bloqueio ao limite de dívida federal. Este primeiro acordo, que ridicularizou os líderes conservadores no Congresso, mostrou-lhe uma maneira de manobrar nas águas parlamentares e evitar o embaraço que sofreu em julho passado quando tentou, sem sucesso, desmantelar o sistema de saúde implantado por Barack Obama.

Na terça-feira passada, Trump chegou a um dos momentos mais baixos de seu mandato quando decidiu acabar com o programa que dava amparo legal a 800.000 dreamers. Apesar do prazo de seis meses dado ao Congresso para encontrar uma solução, a decisão mostrou o lado mais desumano do presidente. O mesmo que exibiu quando concedeu indulto ao ex-xerife Joe Arpaio ou se manteve equidistante dos neonazistas de Charlottesville e de suas vítimas.

Essa concessão a seu eleitorado ultraconservador colocou-o em uma zona perigosa. As grandes empresas e as principais figuras de seu partido, como o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, e o senador John McCain, são contra a expulsão. E a maioria dos eleitores republicanos, como indicam as pesquisas, é a favor de regularizar esses imigrantes.

Em face da crise que se avizinhava, Trump tirou sua alma da miséria imobiliária e, com a cabeça dos jovens na mesa de negociação, buscou um acordo que garanta um aumento de recursos na perseguição de indocumentados.

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