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Netanyahu pula o Brasil em primeira visita de um chefe de Governo de Israel à América Latina

Crise política no país foi fundamental para a decisão de Israel de ignorar o Brasil

Juan Carlos Sanz
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em uma reunião do Governo em Jerusalém.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em uma reunião do Governo em Jerusalém.REUTERS

Sete décadas após a fundação do Estado judeu, Benjamin Netanyahu se torna o primeiro chefe de Governo israelense a empreender uma visita diplomática à América Latina. O primeiro-ministro viaja nesta segunda-feira a Buenos Aires, onde se reunirá com o presidente argentino, Mauricio Macri, antes de seguir para Bogotá, onde será recebido pelo mandatário colombiano, Juan Manuel Santos, e para a Cidade do México, onde se encontrará, na sexta-feira, com o chefe de Estado, Enrique Peña Nieto.

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O Brasil, um dos maiores parceiros comerciais de Israel na região, não está no roteiro. A incerteza política quanto à permanência de Michel Temer na presidência foi fundamental para a decisão de Israel de pular o país, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo, o embaixador israelense Yossi Shelley.

As relações econômicas bilaterais – são mais de trinta empresários na comitiva – e os contatos com a diáspora judaica marcarão essas três visitas, com as quais o premiê pretende melhorar a imagem de Israel no exterior, manchada pela ocupação, pela expansão dos assentamentos e pela suspensão do diálogo com os palestinos.

“Estamos estreitando os laços com a América Latina. É um grande mercado, um importante bloco de países”, declarou Netanyahu em discurso recente no Ministério das Relações Exteriores, cuja pasta também é de sua competência. “Não há dúvida de que um acordo com os palestinos pode ajudar o mundo a se abrir para nós; mas o mundo já está se abrindo apesar disso”. “Esta visita é a continuação do fortalecimento da posição internacional de Israel”, afirmou no domingo em uma reunião do Governo em Jerusalém.

Depois de suas recentes incursões diplomáticas por Estados africanos e asiáticos, este giro reequilibra a frente latino-americana da política externa israelense, e serve também para reparar o esquecimento histórico em relação aos países do subcontinente que, com seu voto na ONU, possibilitaram o nascimento do Estado judeu depois da partição da Palestina sob mandato britânico.

Premiê israelense se reunirá com Macri em Buenos Aires, com Santos em Bogotá e com Peña Nieto na Cidade do México

Após os Governos considerados hostis de Néstor Kirchner e de sua esposa, Cristina Kirchner, a chegada de Macri, com quem o mandatário mantém uma relação fluida, favorece o encontro de Netanyahu com a maior comunidade israelita da América Latina e a sétima do mundo. Na Argentina vivem 181.000 judeus e ao todo 350.000 pessoas têm direito de emigrar a Israel por seu vínculo com o judaísmo.

A visita terá um alto conteúdo simbólico com solenidades em memória das vítimas dos atentados terroristas contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires, que deixou 22 mortos em 1992, e contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), a principal organização da comunidade judaica, em que morreram 85 pessoas em 1994.

Israel está confiante de que poderá incrementar suas relações comerciais com a Argentina graças ao novo clima de entendimento. O volume de intercâmbio não tem comparação com o dinamismo das 150 empresas israelenses estabelecidas no México. Na visita a Buenos Aires prevalece o fortalecimento dos laços diplomáticos e a aproximação com a comunidade judaica.

Embora só 2.400 judeus vivam na Colômbia, os vínculos entre Netanyahu e Santos, que foi ministro da Defesa, vêm de longa data, no marco da cooperação antiterror. No ano passado, Israel exportou 550 milhões de dólares (1,7 bilhão de reais) em produtos de defesa ao subcontinente. “A Colômbia é um aliado estratégico há anos”, afirmou o diretor-geral adjunto para a América Latina, o diplomata israelense Modi Efraim, no briefing à imprensa sobre a visita. Atualmente há uma centena de empresas israelenses operando no mercado colombiano.

A seu indiscutível peso econômico e demográfico, o México soma a presença da segunda maior comunidade judaica latino-americana, de 40.000 pessoas. A visita dá a Netanyahu a oportunidade de restabelecer as boas relações com o presidente Peña Nieto – que compareceu ao funeral do ex-presidente Shimon Peres há um ano em Jerusalém – abaladas desde janeiro passado nas redes sociais. Um tuíte polêmico do primeiro-ministro israelense a favor do muro contra a imigração ilegal – inspirado na barreira construída por Israel no Sinai – que o presidente dos Estados Unidos Donald Trump pretende erguer na fronteira desencadeou um protesto oficial da Chancelaria mexicana, que expressou “rechaço e decepção” em relação à mensagem no Twitter.

Da capital mexicana, Netanyahu seguirá para Nova York, onde discursará na Assembleia Geral das Nações Unidas e deve se reunir com o presidente Trump. Nabil Shaat, assessor de política internacional do líder palestino, Mahmud Abbas, declarou no domingo a um grupo de jornalistas espanhóis que a visita de Netanyahu à América Latina “só visa conseguir apoio internacional para Israel à margem de qualquer solução para o conflito palestino-israelense”.

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