Europa cavalga
Freio aos populismos e a recuperação dão novo vigor à UE
O novo rumo político europeu começa na quarta-feira com o debate do Estado da União no Parlamento de Estrasburgo. Mas veio amadurecendo nas diversas eleições nacionais do primeiro semestre e após a recuperação da locomotiva franco-alemã.
As propostas de impulso a uma maior integração continental do novo presidente francês, Emmanuel Macron, já obtiveram um eco positivo em Berlim, cauteloso, mas público, o que tem especial valor em plena campanha eleitoral. Tanto da candidata favorita nas pesquisas, a democrata-cristã Angela Merkel, como do oposicionista socialdemocrata Martin Schulz. Parece certo que as eleições federais do dia 24 afiançarão essa dinâmica.
Macron acaba de reiterar em Atenas o núcleo de seu plano, que é salientar o programa dos cinco presidentes e particularmente da Comissão. A saber, o reforço da dimensão externa em política exterior, defesa, imigração. E o avanço decidido rumo a uma união econômica plena mediante um fundo monetário (FME) estabilizador ante as crises e suas sequelas diferenciais que fragmentam o espaço econômico; um ministro da Fazendo comum; e um orçamento para a zona do euro.
O fato de que já começaram as primeiras escaramuças sobre o FME, entre uma Berlim inclinada a dar-lhe formato intergovernamental e um eixo Paris/Bruxelas mais comunitário esconde, após a polêmica, uma boa notícia. Discutem sobre como deve ser o FME, não sobre sua necessidade.
Igualmente, a mobilização da guarda costeira europeia e o quartel general permanente, assim como o fortalecimento da agência de armamento, registrarão avanços – talvez menos enfáticos – no último trimestre do ano. No qual devem se concretizar as propostas de opções lançadas por Bruxelas em seu Livro Branco sobre o futuro da Europa: os Estados membros (e a Eurocâmara) deverão escolher entre os cenários tímidos/de renacionalização e os mais ambiciosos, de cunho federal.
Essa conjuntura de signo ofensivo contrasta para o bem com as projeções pessimistas que muitos formulavam há um ano, pelo temor da ascensão dos populismos na Áustria, Holanda, França e até mesmo na Alemanha. Se a Europa volta a cavalgar é justamente porque conseguiu derrotá-los nas urnas. Mas sua diluição exigirá mais tempo, política e acertos.
E também porque consolidou sua recuperação econômica: se no primeiro trimestre de 2016 recuperou o nível do PIB do começo da Grande Recessão, agora cresce ininterruptamente. E o euro-otimismo ganhou novo alento nas pesquisas, algo essencial porque sem a vontade da população, nada é possível.
Graves incógnitas matizam, entretanto, o relançamento. Os 27 souberam lidar unidos com o desafio do Brexit, mas os descontentamentos autoritários continuam vivos na Polônia e Hungria, e em vizinhos essenciais à UE (Turquia). E o futuro imediato da Itália não está nada claro.
Junto ao desafio da desigualdade crescente e o de uma política imigratória mais profunda (com os países de origem) e mais humanitária (primando pela acolhida dos fluxos legais), esses problemas não devem ficar relegados às últimas páginas da agenda europeia