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“Se hoje eu tenho um carro, uma casa e posso me vestir assim, é por causa de Lula”

Durante giro pelo Nordeste, petista é chamado de “pai” por seus eleitores e pede que eles não desanimem da política

Lula abraça eleitores em Recife, no último 26.
Lula abraça eleitores em Recife, no último 26.LEO CALDAS (AFP)
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Grávida de sete meses, Jainae Bárbara Alves de Almeida, 27, pintou a barriga com os dizeres “Lula 2018” e foi até o hotel onde o ex-presidente estava hospedado, em Mossoró (RN), para tirar uma foto com ele. Ao lado do marido, Wenio Rodrigues Figueira Ge, 28, ela se acomodou em uma das poltronas e esperou. “Ano que vem meu filho vai votar no Lula”, disse ela. “Votamos nele de qualquer jeito”, emendou o marido. “Porque antes dele, o filho de um pedreiro ia ser pedreiro. Hoje ele pode ser advogado, doutor, o que ele quiser”.

As cidades por onde a caravana passou ao longo dos 22 dias pelo Nordeste recebiam a comitiva com festa. Na beira das estradas por onde paravam os três ônibus, uma van e alguns carros que formavam o comboio, seus eleitores soltavam fogos de artifício, choravam, rezavam, queriam pegar na mão, beijar, ou simplesmente tocar no ex-presidente, que saía do ônibus e era ovacionado, em uma espécie de convulsão coletiva. “Abram caminho que seu Chiquinho da Farmácia desmaiou”, gritava um senhora, em Upanema (RN). Ao lado dela, dona Josefa Rodrigues da Silva, 65, aos prantos, mal conseguia falar. Só conseguia repetir “ele foi muito bom”. As crianças são vestidas com as melhores roupas, e os adultos, na maioria dos casos, saem de vermelho para receber o petista.

Apesar do clima de comoção, a adoração pelo ex-presidente, que muitos chamam de “pai”, tem um forte componente racional. Perguntados pela reportagem sobre o sentimento que têm pelo petista, todos recordam do legado de seu Governo, o antes e depois de Lula, para justificar a emoção. “Antes dele a gente aqui nunca tinha passado por uma porta do banco”, contou Maria Lúcia Rodrigues, 62, em Quixadá (CE). “Ele deu crédito para os pobres, ninguém mais fez isso”.

Em Marcolândia (PI), uma multidão esperava pelo ato político começar debaixo de um sol a pino. “Olha ele lá em cima, pai”, disse Maria dos Prazeres ao pai, seu João Bazilo, 78, um homem forte, com cara de turrão. Assim que viu Lula no palco, seu João rompeu o choro. “Desde 89 que meu pai briga com a televisão por causa do Lula”, conta a filha. “No dia do impeachment [da ex-presidenta Dilma Rousseff], ele teve que tomar calmante”. Vendo o choro de um homem daquele tamanho, a equipe da caravana levou seu João para abraçar o ex-presidente. Dado o abraço, seu João proferiu apenas uma frase: “Ele é forte, né?”, e desabou a chorar de novo.

Jainae Bárbara Alves de Almeida e Wenio Rodrigues Figueira Ge, em Mossoró (RN).
Jainae Bárbara Alves de Almeida e Wenio Rodrigues Figueira Ge, em Mossoró (RN).M. R.

Com 71 anos, o ex-metalúrgico ficou rouco durante a caravana, em decorrência de um resfriado que pegou na primeira parte da jornada e das exaustivas vezes em que pegou um microfone para falar. No Ceará, levou mais de dez horas entre Quixadá e Juazeiro do Norte, depois de parar oito vezes na estrada, para ser recebido por seus eleitores. Em condições normais, a viagem duraria cinco horas. Apesar disso, não perdeu o bom humor. “Não fala muito ‘eu te amo’, porque eu solteiro, hein”, disse, em Upanema (RN), depois de ouvir a declaração de uma eleitora.

Sabendo da sua legião de eleitores, o pré-candidato do PT à presidência usou seu discurso para tentar reacender uma militância feita, em partes, de pessoas que se esconderam após assistir aos casos de corrupção envolvendo o partido. “Toda vez que vocês acharem que nenhum político é honesto, ainda assim vocês não podem desanimar”, disse, em Teresina (PI). “Não dá pra vocês ficarem tomando Coca-Cola e dizendo que ninguém presta. Vocês são a política”, bradou, sob aplausos.

Preparando-se para o pior, repetiu algumas vezes ao longo da viagem que se não puder ser candidato em 2018, indicará alguém para cumprir a tarefa. Em 2010, o metalúrgico foi o holofote de sua candidata, Dilma Rousseff, que levou as eleições presidenciais e acabou por se reeleger em 2014. O mesmo ocorreu em São Paulo em 2012, quando Lula lançou a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura da cidade. Os tempos eram outros, a Operação Lava Jato ainda não existia e o PT não era um dos protagonistas dos casos de corrupção envolvendo a Petrobras. Mas o apadrinhamento foi um fator importante para essas candidaturas.

Ainda não é possível medir a influência de Lula sobre um outro candidato em todas as regiões do país. Mas em muitos lugares do Nordeste, seus eleitores prometem ser fiéis às vontades do ex-presidente. “Se Lula mandar eu votar em um cachorro, eu voto”, disse o sargento do Corpo de Bombeiros de Mossoró (RN), Sandoval Dantas, 36. Ele afirma ter se formado em Direito com a ajuda do Prouni e diz que sua casa foi construída graças ao Minha Casa Minha Vida. “Se eu tenho um carro, uma casa, posso me vestir assim”, diz ele, de camiseta polo, calça jeans e tênis, “é por causa dele. Por isso, se ele mandar eu votar num periquito, eu voto”.

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