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Lilian Tintori acusa autoridades da Venezuela de proibirem sua saída do país

Mulher do preso político Leopoldo López foi denunciada por causa de dinheiro encontrado em seu carro

Imagem divulgada no Twitter de Lilian Tintori.
Imagem divulgada no Twitter de Lilian Tintori.

Lilian Tintori, mulher do preso político venezuelano Leopoldo López, afirmou neste sábado que o Governo a proibiu de deixar a Venezuela, justamente no momento em que ela se preparava para viajar a fim de se encontrar com os chefes de governo Emmanuel Macron (França), Angela Merkel (Alemanha), Mariano Rajoy (Espanha) e Theresa May (Reino Unido). “Acabam de proibir que eu saia do país. A ditadura quer nos impedir de fazer uma turnê internacional muito importante”, escreveu em seu perfil no Twitter, em que detalhou que agentes da Imigração retiveram o seu passaporte por ordem do Ministério Público.

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Na sexta-feira, Tintori foi informada de que um tribunal a denunciara depois da apreensão, na terça-feira, de 200 milhões de bolívares em espécie –cerca de 37.000 reais no mercado paralelo— encontrados em um carro de sua propriedade. No Twitter, Tintori divulgou que foi entregue em sua casa, no leste de Caracas, um ofício do 48º Tribunal de Controle convocando-a a comparecer às 9h00 da manhã da próxima terça-feira para uma audiência de imputação. O documento não esclarece qual é o crime de que ela é acusada.

Tintori depôs na manhã de sexta-feira a funcionários do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminais (CICPC, órgão ligado ao Ministério Público), encarregado das investigações sobre contrabando de dinheiro abertas a pedido do procurador geral nomeado pela Assembleia Constituinte chavista, Tarek William Saab.

“Por se tratar de um suposto crime obviamente relacionado à legislação penal em vigor, o ministério Público procederá à investigação”, antecipara Saab na terça-feira ao falar sobre a apreensão do dinheiro.

“Estão transformando um caso pessoal em um escândalo que não existe” protestou Tintori em vídeo postado nesta sexta-feira no Twitter. Desde o momento em que a polícia política encontrou o dinheiro em seu veículo, a ex-apresentadora de televisão vem alegando que se trata de um montante destinado a custear “emergências familiares”, entre elas as despesas médicas de sua avó, que tem 100 anos de idade e não teria plano de saúde.

“Ter dinheiro em espécie não é crime, e eu não sou funcionária pública, sou mãe, esposa e militante dos direitos humanos”, insiste ela no vídeo, que postou com o título de "A perseguição contra nossa família continua".

Lilian Tintori se casou com o então prefeito da cidade de Chacao (nordeste de Caracas), Leopoldo López, em 2007. Depois que ele foi preso, em fevereiro de 2014, acusado pelo Governo de Nicolás Maduro de ser o responsável pelas manifestações violentas de rua realizadas no primeiro semestre daquele ano, Tintori se tornou uma dedicada porta-voz da campanha pela libertação do marido, a ponto de transformar a causa em uma questão conhecida internacionalmente. Em setembro de 2015, porém, um Tribunal condenou López a quase 14 anos de prisão, ao final de um processo enviesado e questionado por causa de irregularidades em seu desenrolar.

No último mês de julho, concedeu-se a López a transferência da prisão militar de Ramo Verde para prisão domiciliar, nas proximidades de Caracas. O casal aproveitou a nova situação de López para anunciar que esperam o seu terceiro filho (uma menina).

Os governistas estão aproveitando o tropeço de Tintori. No principal canal de televisão estatal, divulgam-se diariamente pequenas “reportagens” em que cidadãos são entrevistados nas ruas e em que todos eles dizem achar suspeita ou irregular a quantia de dinheiro encontrada em poder da ativista.

Nesse mesmo canal, o poderoso número dois do chavismo e deputado da Assembleia Constituinte Diosdaldo Cabello afirmou, na quarta-feira, que o dinheiro é parte de uma remessa feita pelo Banco Ocidental de Desconto (BOD), instituição financeira controlada por Víctor Vargas Irausquín.

Vargas é um magnata vinculado aos setores financeiro, de seguros e de petróleo cujos negócios cresceram de forma significativa durante os regimes revolucionários de Hugo Chávez e Nicolás Maduro e que é visto normalmente como integrante da chamada “boliburguesia”, a classe empresarial que enriqueceu à sombra dos negócios com o Estado chavista. Vargas é sogro de Luis Alfonso de Borbón, duque de Anjou e pretendente à abolida da coroa francesa.

“Se essa caminhonete fosse de Diosdaldo Cabello, o que a direita e os meios de comunicação da burguesia estariam dizendo?”, perguntou Cabello, ex-capitão do Exército, em seu longo programa semanal, no qual faz constantes acusações contra os dirigentes da oposição e oposicionistas para uma plateia ao vivo, formada em geral por militantes governistas e oficiais militares, ao mesmo tempo em que exibe seus contatos com os serviços de inteligência do Estado. “Se esse dinheiro veio do BOD com autorização de seus executivos, ou se o próprio banco é o financiador, isso terá de ser dito”, alertou.

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