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Brasil cresce pelo segundo trimestre seguido, mas recuperação ainda é lenta

Economia teve alta de 0,2%, puxada pelo desempenho do setor de serviços e pelo consumo das famílias, que reagiu e teve alta após mais de dois anos de recuo

Fotos públicas

A economia brasileira registrou uma alta de 0,2% no segundo trimestre deste ano em relação ao primeiros três meses de 2017, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira. No primeiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB), influenciado pelo bom desempenho da agricultura, já tinha avançado 1%, o primeiro sinal positivo após dois anos consecutivos de retração econômica. A sequência de dois trimestres seguidos de alta é a primeira desde o início de 2014. O cenário econômico no acumulado de quatro trimestres, no entanto, ainda é negativo, somando um recuo de 1,4%.

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O resultado positivo do segundo trimestre foi puxado pelo desempenho do setor de serviços, que cresceu 0,6%, e pelo consumo das famílias, que avançou 1,6%, a primeira alta após mais de dois anos de recuo. Segundo o IBGE,  a desaceleração da inflação no segundo trimestre – que chegou a ser negativa em junho – a queda da Selic, a taxa básica de juros, e o crescimento da massa salarial influenciaram no crescimento do consumo das famílias brasileiras. Os saques das contas inativas do FGTS e uma pequena reação do emprego, antes da prevista por analistas, também contribuíram para essa alta.

“É uma variação positiva. A gente nem chama de crescimento. Apontamos crescimento quando é superior a 0,5%”, ponderou Rebeca de La Rocque Pali, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. Ela ressalta, em nota divulgada pelo instituto, que é preciso olhar também para as outras comparações. "No primeiro semestre, o consumo das famílias ainda está em queda, de 0,6"%.

Dos três principais setores da economia, apenas os serviços avançaram no segundo trimestre. A agropecuária, que vinha impulsionando o PIB, ficou estável (0,0%) no segundo trimestre, após uma trajetória de três trimestres seguidos de alta. Já a indústria recuou 0,5% em comparação ao primeiro trimestre, após ter subido 0,7% nos primeiros três meses do ano.

Segundo economistas, tecnicamente é possível dizer que o país começa a sair da recessão, uma vez que o país registrou dois trimestres de crescimento. Eles ponderam, no entanto, que a recuperação é incerta visto que não há uma melhora generalizada dos setores. Outro fator que gera dúvidas sobre a capacidade da saída do país da crise é o ambiente de forte incerteza política. Após a turbulência gerada pelas delações dos acionistas da JBS, que envolviam o presidente Michel Temer, o Governo deve enfrentar outra batalha. Nas próximas semanas, Temer pode ser alvo de uma nova denúncia pela Procuradoria-Geral da República, o que atrasaria ainda mais a votação de reformas consideradas essenciais pelo mercado e investidores para alavancar a retomada econômica.

Investimentos ainda em queda

Diante desse cenário ainda turbulento, o investimento das empresas, a chamada formação bruta de capital fixo, ainda registrou retração de 0,7% em relação ao primeiro trimestre, a quarta queda consecutiva, porém menos intensa que o recuo de 0,9% do primeiro trimestre. A taxa de investimento no período foi de 15,5% do PIB, abaixo do registrado no mesmo período de 2016 (16,7%).

"A questão é que a medida que o empresário vê uma instabilidade no ar e já considera as eleições de 2018 no horizonte, ele restringe o investimento ao mínimo necessário", explica Otto Nogami, professor de economia do Insper. Para ele, apesar do resultado do PIB ter vindo positivo ainda é cedo para falar em retomada econômica. "Foram melhoras pontuais, será necessário mais tempo para confirmar essa tendência", explica. 

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, também concorda que não há motivos para comemorar. "Sabemos com os dados do Investimento em baixa que não há polo de crescimento econômico consistente na economia brasileira e iremos viver de susto em susto com o PIB. Ora a agricultura salva, em outro momento o saque do FGTS", disse em relatório nesta manhã.

No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços apresentaram crescimento de 2,5%, enquanto as Importações de Bens e Serviços sofreram contração de 3,3% no segundo trimestre de 2017. Dentre as exportações de bens, aqueles que registraram os maiores aumentos foram veículos automotores, petróleo e gás natural, produtos agropecuários e papel e celulose. Na pauta de importações de bens, as quedas mais relevantes ocorreram em máquinas e equipamentos, equipamentos de transporte (exceto veículos automotores), minerais metálicos, máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e produtos de metal.

Em valores correntes, o PIB no segundo trimestre de 2017 alcançou 1,639 trilhão de reais. O avanço de 0,2% da economia nos últimos três meses veio ligeiramente abaixo do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, e que mostrou alta de 0,25% sobre o período janeiro a março de 2017.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou, por meio de nota, que as medidas adotadas pelo Governo para "recolocar o Brasil no caminho do crescimento sustentável começam a mostrar seus efeitos". Ainda segundo o ministro, a retomada da economia brasileira irá se fortalecer nos próximos meses. "Entraremos em 2018 num ritmo forte e constante", disse Meirelles.

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