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Randolfe Rodrigues: “O que a ex-procuradora da Venezuela fala não pode ser ignorado”

Senador esquerdista, que já se opôs a sanções a Maduro, defende Luísa Ortega, que visita Brasília Ex-aliada do chavismo foi deposta e se torna a principal testemunha contra o Governo venezuelano

A ex-procuradora Ortega, no dia 23, em Brasília.
A ex-procuradora Ortega, no dia 23, em Brasília.REUTERS

Destituída da procuradoria-geral da Venezuela, Luísa Ortega Diaz se transformou na principal testemunha contra o regime do presidente Nicolás Maduro. A ex-chavista tem repetido as denúncias de violações aos direitos humanos desde que fugiu de seu país rumo à Colômbia na semana passada. E, em visita a Brasília nos últimos dois dias, ela acrescentou que possui uma série de documentos que apontariam o envolvimento do presidente e de dezenas de seus aliados em crimes de corrupção. Na capital brasileira, o depoimento contundente da procuradora rebelde foi ouvido pelos seus colegas procuradores de Mercosul e dos BRICS, pelo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e até pelo senador oposicionista Randolfe Rodrigues (REDE).

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O encontro com o esquerdista Randolfe foi emblemático. Os partidos de esquerda no Brasil, do PT ao  PCdoB, passando pelo PSOL, e com poucas exceções internas, seguem apoiando o Governo Maduro. Randolfe, que era do PSOL, mas mudou para a REDE, que condena Caracas, comentou: “O que ela fala não pode ser ignorado. Não é um simples político opositor que está falando. É uma antiga defensora do regime de Hugo Chávez, procuradora-geral, que tem provas do que diz. Não é pouca coisa”, afirmou o senador brasileiro. O parlamentar já foi um dos defensores do Governo Chávez, foi contrário a qualquer sanção brasileira à Venezuela, mas, agora, depois de conversar com a procuradora, diz que mudou de ideia. “Não se trata mais do embate esquerda ou direita no poder. É uma questão humanitária. Até acho que o Brasil deveria chamar seu embaixador em Caracas para esclarecimentos. O que seria mais um gesto duro contra esse Governo”, ponderou.

Procuradora rebelde promete entregar provas

Nos próximos dias, Luisa Ortega promete entregar outras comprovações a procuradores da Espanha, da Colômbia e dos Estados Unidos. Os casos envolvem não só a Odebrecht, a gigante empreiteira brasileira envolvida em uma série de delitos na América Latina, mas também outras firmas com sedes na Espanha e no México. Há a suspeita inclusive de irregularidades cometidas pela empresa que fornece as cestas de alimentos que as populações mais pobres recebem do Poder Público.

Na avaliação que a procuradora destituída fez aos procuradores do Mercosul, a situação da Venezuela sob o Governo Maduro é de total afronta à Constituição e configura o fim do Estado democrático de direito. Seus relatos vão na mesma linha do que fora constatado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) no início deste mês. O temor dela é que algo similar ocorra em outros países do continente. A procuradora rebelde fez menção especial a situações que considera graves: o magistrado Ángel Zerpa Ponte, que a defendeu durante seu processo de destituição, está preso em uma cadeia amarrado ao lado de um imundo vaso sanitário; o general aposentado Raúl Baudel, antigo dissidente chavista e também apoiador da ex-procuradora, foi detido pelo serviço de inteligência bolivariano e há pouco mais de 15 dias ninguém de seus familiares ou amigos sabem seu paradeiro. Há ao menos 37 presos políticos com ordens judiciais para serem soltos, mas que continuam detidos. Isso sem contar as informações de que famílias precisam revirar lixeiras para encontrar alimentos ou a mais de uma centena de pessoas que foram mortas durante protestos contra o Governo.

Luisa Ortega retornou na tarde desta quinta-feira a Bogotá. No último dia 20 ela fugiu rumo a Colômbia  juntamente com outras três pessoas –seu marido, o deputado German Férrer, uma assistente dela, Gioconda González, e o promotor anticorrupção Arturo Vilar. Oficialmente, Ortega diz que ainda não se decidiu se aceitará as ofertas de asilo político feito pelos governos brasileiros e colombiano. Sua única certeza é a de que continuará seu périplo pelo mundo para denunciar as agressões do atual presidente. A previsão é que ela participe nas próximas semanas de um evento nos Estados Unidos, quando então entregaria algumas das provas que diz possuir. Em um dos encontros com as autoridades brasileiras nesta semana, a ex-procuradora-geral mandou um claro recado a Maduro e ao apoiadores de seu Governo: “Se algo acontecer contra minha vida, já sabem quem deve ser responsabilizado”.

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