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Brasil oferece receber de “braços abertos” a procuradora rebelde da Venezuela

Após fugir para a Colômbia, Luisa Ortega Diaz participa de evento no Brasil e diz que não há Justiça em seu país

Procuradora rebelde venezuelana, Luisa Ortega, deixa o Itamaraty em Brasília.
Procuradora rebelde venezuelana, Luisa Ortega, deixa o Itamaraty em Brasília.Joédson Alves (EFE)

O Brasil ofereceu receber "de braços abertos" a Luisa Ortega Diaz, a procuradora-geral destituída pela Assembleia Constituinte dominada pelo chavismo na Venezuela. Ortega deixou clandestinamente seu país na sexta-feira rumo à Colômbia e está em Brasília até esta quinta-feira em um encontro de procuradores-gerais do Mercosul. "Se ela quiser, o Brasil a acolheria de braços abertos", disse o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, oferecendo asilo político "imediatamente", em declarações à Globonews. A procuradora rebelde, que rompeu com o chavismo há alguns meses, tem também a oferta de asilo da Colômbia. Tanto Brasília como Bogotá despertaram a fúria do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, quem afirmou que o "Governo golpista" de Michel Temer acoberta uma fugitiva da Justiça ao lado da gestão colombiana de Juan Manuel Santos, que se presta a ser palco da conspiração contra a Venezuela.

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Ortega Diaz, que deve seguir na sexta-feira para um evento nos Estados Unidos, fez também duras acusações contra Maduro. Ela disse que o presidente venezuelano e outras altas autoridades locais usaram empresas da Espanha e do México para receber dinheiro de corrupção. A procuradora rebelde disse ter trazido uma série de documentos que prometeu compartilhar com autoridades brasileiras, americanas, espanholas e colombianas. Segundo ela, essas provas apontam a a participação do presidente Maduro, do deputado Diosdado Cabello e do prefeito da região central de Caracas, Jorge Rodríguez, nos esquemas de corrupção.

Maduro, conforme a procuradora destituída, teria negócios com uma das empresas que fornece alimentos para os venezuelanos chamada Group Grand Limited. Essa empresa tem sede no México, recebe recursos públicos, e teria como proprietários três pessoas vinculadas ao presidente: Rodolfo Reyes, Alvaro Pulido Vargas e Alex Saab. Já o ex-presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Cabello, teria recebido da empreiteira brasileira Odebrecht 100 milhões de dólares como propina. O dinheiro, ainda conforme a procuradora, teria sido pago por intermédio da empresa espanhola TSE Arietis, ligada ao setor de transportes. Os proprietários dessa firma são dois primos do deputado: Luís Alfredo Campos Cabello e Jerson Jesus Campos Cabello. Apesar de citar o nome de Rodríguez, ela não detalhou quais seriam as irregularidades cometidas por ele.

“Vou entregar as provas para as autoridades de distintos países para que os investiguem (...) Na Venezuela não há Justiça. Na Venezuela é impossível que se investigue qualquer caso de corrupção ou narcotráfico. Por outro lado, a comunidade internacional tem que investigar esses casos”, afirmou durante entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira.

De acordo com Ortega, as acusações contra essas altas autoridades venezuelanas são um dos motivos que a levaram a ser destituída de seu cargo e fugir para a Colômbia. Desde que foi afastada de seu cargo pela Assembleia Constituinte, no dia 5 de agosto, a procuradora passou a sofrer ainda mais ameaças. Sua casa foi assaltada. E ela só conseguiu chegar em Bogotá graças a ajuda de “dezenas de homens e mulheres” venezuelanas e colombianas.

Em seu discurso no evento de procuradores, Ortega pediu aos seus colegas que não enviem informações oficiais sobre investigações ao Ministério Público da Venezuela, porque se o fizerem, os documentos correm risco de serem destruídos. Disse ainda que, se não for debelada, a crise Venezuela pode se expandir para toda a América Latina. Ela criticou ainda a Assembleia Nacional Constituinte, eleita no início do mês em uma votação duvidosa, alegando que ela está servindo para esconder vários casos de corrupção.

A procuradora destituída disse também que o Legislativo se transformou em um tribunal de inquisição e que no país foi instalado, pelo regime Maduro, o “direito penal do inimigo”. “Eles vão perseguir os adversários políticos, não só por perseguir, mas também para destruí-los. No caso concreto, eu fui vítima dessa perseguição”. Conforme ela, sua destituição ocorreu em um processo de julgamento que durou 32 segundos. Seu substituto na função, Tarek William Saab, é acusado em seis casos de corrupção. O primeiro ato dele foi o de pedir todos os documentos relacionados a essas fraudes para destruí-los.

Em seu discurso de abertura do evento do qual Ortega participou como convidada especial, o procurador-geral do Brasil, Rodrigo Janot, disse aos seus colegas da Argentina, Paraguai, Chile, Uruguai e Peru, que na Venezuela está havendo uma série de atropelos da Constituição Federal. “Assistimos a um estupro institucional do Ministério Público venezuelano. Sem independência, o Ministério Público do nosso vizinho ao norte não tem mais condições de defender os direitos das vítimas e acusados nem de conduzir investigações criminais ou atuar em juízo com isenção”. Todos os procuradores presentes ao encontro disseram que a destituição de Ortega foi ilegal.

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