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A perigosa caça digital que identifica racistas de Charlottesville

Engenheiro do Arkansas foi acusado erroneamente nas redes sociais de ser um dos integrantes da marcha

Héctor Llanos Martínez
Grupo racista em Charlottesville
Grupo racista em CharlottesvilleSTRINGER (ALEJANDRO ALVAREZ/NEWS2SHARE)
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Desde que um grupo de racistas se manifestou no fim de semana em Charlottesville (Estados Unidos), houve várias iniciativas nas redes sociais para localizar alguns deles. As investigações de detetives amadores são canalizadas pelo Twitter através da conta @YesYoureRacist e de hashtags como #NameTheNazi (“diga o nome do nazista”). Com elas, alguns rostos que aparecem nas fotos dos distúrbios são postados com nome e sobrenome. A iniciativa tem seus riscos. Cidadãos como Kyle Quinn, um engenheiro do Arkansas que não teve nada a ver com os protestos, foram acusados erroneamente de serem manifestantes.

Quinn havia saído para jantar com a esposa e um amigo em Bentonville. Enquanto isso, em Charlottesville, um pacato município do estado norte-americano da Virgínia, reinava o caos com a presença dos supremacistas brancos. Mais de 1.700 quilômetros separam os dois lugares. O fato de o homem da foto aparecer com uma camiseta do curso de engenharia da Universidade de Arkansas, além de ser fisicamente parecido com Quinn, fez com que vários usuários das redes sociais o acusassem de ser um dos racistas. Publicaram suas imagens e dados pessoais, pedindo que perdesse seu trabalho, enquanto seus perfis nas redes ficavam repletos de mensagens hostis, como ele mesmo declarou ao The New York Times.

Este não é Kyle Quinn. Quem é ele? #Namethenazi

Quinn lidera um laboratório que pesquisa a cura de feridas corporais. Afirma que passou o fim de semana com a esposa na casa de um amigo porque temia por sua segurança. O endereço de sua casa foi um dos dados que vazaram nesta caça digital.

“Há celebridades e centenas de pessoas que não fazem pesquisa na Internet nem comprovam dados”, declarou Quinn ao jornal. “Dediquei minha vida a ajudar as pessoas, melhorar os cuidados de saúde e educar a nova geração de cientistas. Esse assunto pode destruir tudo isso.”

Algumas das falsas acusações contra Quinn chegaram a @YesYoureRacist, que, em questão de horas, transformou-se na ferramenta oficial desses investigadores amadores dedicados à busca e à captura dos racistas de Charlottesville.

Como explica Mashable, o número de seguidores da conta do Twitter disparou em pouco tempo: de 60.000 no sábado de manhã (hora local) para os atuais 389.000.

Criada em outubro de 2012 por Logan Smith, @YesYoureRacist (“sim, você é racista”) nasceu com um propósito diferente. Seu autor escancarava o conteúdo contraditório de muitas mensagens racistas publicadas nas redes, que começavam dizendo não terem nada contra pessoas de outras raças.

"Se você reconhece algum desses nazistas que marcharam em Charlottesville, me envie seus nomes ou perfis e os tornarei famosos"

“A questão racial piorou muito nos EUA nos dois últimos anos, em especial desde a vitória de Trump”, afirmou Smith a Mashable. Depois do que ocorreu no fim de semana, ele decidiu começar a identificar alguns dos manifestantes racistas.

Embora tenha sido bem-sucedido ao revelar alguns deles, cometeu erros como o do engenheiro de Arkansas. Também foi muito criticado por recorrer ao doxing, a prática digital que consiste em compilar e publicar informações privadas de um alvo concreto.

No caso do youtuber Joey Salads, circulou uma foto antiga feita de um de seus vídeos, com câmera escondida, onde ele aparece com uma suástica. O vídeo é descontextualizado e situado em Charlottesville. Salads teve que desmentir a informação em seu perfil do YouTube. Apesar desses casos, Logan Smith diz estar disposto a correr o risco de errar com sua conta caça-nazistas.

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