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Obama enfrenta racistas da Virgínia com frase histórica de Mandela

“Ninguém nasce odiando a outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou sua religião”

Emilio Sánchez Hidalgo
O ex-presidente Barack Obama, em maio de 2017.
O ex-presidente Barack Obama, em maio de 2017.ANDREAS SOLARO (AFP)

Um grupo de supremacistas brancos se manifestou neste sábado em  Charlottesville (Virgínia, Estados Unidos). Um dos racistas atropelou com seu carro um grupo de manifestantes antifascistas, matando uma mulher. Além disso, dois policiais que participavam das buscas ao agressor faleceram posteriormente na queda do seu helicóptero nos subúrbios da cidade.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu com uma condenação genérica da violência cometida por "muitas partes", além de equiparar os neonazistas ao resto dos manifestantes. Já seu antecessor no cargo, Barack Obama, abordou a situação de outra forma. Tuitou uma das frases mais famosas do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. Em poucas horas, o tuíte principal com a citação já foi reproduzido mais de 450.000 vezes. Abaixo dos tuítes há a tradução ao português.

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, por sua origem ou sua  religião. As pessoas têm que aprender a odiar, e se elas podem aprender a odiar também se pode ensiná-las a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o seu contrário.”

Essa frase de Mandela procede da sua autobiografia Long Walk to Freedom, traduzida ao português como Um Longo Caminho para a Liberdade (editora Planeta). Segundo o site da Fundação Nelson Mandela, o líder da luta contra o apartheid começou a escrever essas memórias na prisão de Robben Island em 1976, onde se encontrava preso por causa da sua atividade contra o regime de segregação racial que durou de 1949 a 1992. Ele redigiu essas memórias por sugestão do também ativista Ahmed Kathrada, com a intenção de que outro companheiro, Mac Maharaj, tirasse o texto da penitenciária.

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Escrevia cerca de 10 páginas por noite, e as entregava a outros presos políticos para que as revisassem e escondessem. “Depois, foi transcrito com letras pequenas, para que ocupasse o menor espaço possível. Foi escondido em um compartimento secreto da prisão”, informa a Fundação Mandela. A versão original foi escondida na biblioteca, com a ajuda de outro prisioneiro.

Depois de muitas idas e vindas, Maharaj escapou das autoridades sul-africanas e levou o manuscrito a Londres. Enquanto isso, os funcionários de Robben Island encontraram uma versão escondida e complicaram ainda mais a situação do encarcerado Mandela. Só vários anos depois, já livre, ele terminaria o texto. Ao todo, Mandela esteve na prisão durante 27 anos, de 1963 a 1990. Em dezembro de 1994, publicou o livro que inclui a frase compartilhada por Obama no Twitter.

Mais reações em redes sociais

Além do tuíte de Obama, houve várias outras reações ao atentado de Charlottesville nas redes sociais. Uma das mais destacadas é outra citação, esta de John Fitzgerald Kennedy, relembrada pelo escritor Larry Sabato. Com as palavras do ex-presidente norte-americano ele aparentemente critica a equidistância de Trump em relação a todos os manifestantes. A frase de Kennedy, na verdade, parafraseava outra citação famosa, do italiano Dante Alighieri.

Essa série de postagens do Twitter, em que um usuário desmonta passo a passo os argumentos dos supremacistas brancos, também teve grande repercussão na rede social. “Ninguém tenta legislar para retirar seu próprio direito de se casar, nunca escravizaram seus avós, ninguém encarcerou seus pais, não são proibidos de viajar por causa da sua religião, e suas igrejas nunca foram queimadas....”, afirma Sabato.

Tudo isso vai depois da seguinte frase: “Imaginem se estas pessoas enfrentassem a opressão".

Minha cita favorita de JFK: "Os locais mais calurosos do inferno estão reservados para aqueles que, em tempos de grandes crises morais, se mantêm na neutralidade"

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