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Conheça a empresa dos EUA que quer ampliar venda de maconha medicinal no Brasil

Medical Marijuana, que tem como foco crescer na AL, tem no país um mercado 3,8 bilhões de reais

Sonia Corona
Um homem examina a maconha numa loja do produto, em Portland, Oregon.
Um homem examina a maconha numa loja do produto, em Portland, Oregon. Josh Edelson (AFP)

A doença que atinge Grace Elizalde e Mathias González, chamada Síndrome de Lennox-Gastaut, fez com que o México e o Paraguai começassem a debater a legalização da maconha para uso medicinal. A empresa norte-americana Medical Marijuana Inc. acompanhou os dois casos de perto e ofereceu medicamentos às famílias de Grace e Mathias assim que os Governos dos respectivos países autorizaram a importação de produtos médicos fabricados à base de cânhamo. O desembarque do setor farmacêutico da maconha na América Latina é iminente dada a tendência de despenalização do seu uso. Brasil, México e Paraguai, por exemplo, já começaram a explorar seus produtos.

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A Medical Marijuana foi a primeira companhia a voltar seus olhos para a região. A empresa, que surgiu em 2005 no Estado do Oregon (Estados Unidos), aproveitou as novas leis para entrar num mercado praticamente virgem. Sua primeira incursão na América Latina foi no Brasil, onde em 2014 o Governo da então presidenta Dilma Rousseff autorizou a importação e prescrição de substâncias à base de canabidiol e tetrahidrocannabinol (THC) para uso medicinal.

Em novembro de 2016, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu derivados da canabidiol na lista de substâncias psicotrópicas vendidas no Brasil com receita do tipo A, específica para entorpecentes. Como resultado da medida, neste ano, o órgão regulador registrou registro o primeiro remédio à base de Cannabis sativa no Brasil, o Mevatyl, indicado para o tratamento de espasticidade (rigidez excessiva dos músculos), relacionada à esclerose múltipla. Mas a regulação só vale para produtos cultivados fora do país, uma vez que o cultivo e venda de maconha no Brasil ainda é proibido.

Os medicamentos com canabidiol em sua composição já podem ser receitados pelos médicos brasileiros para tratar de pelo menos 10 enfermidades, entre elas Parkinson, epilepsia e dores crônicas. "Nos Estados Unidos é muito difícil que um produto de origem natural seja aceito como medicamento. Mas na América Latina isso é parte da sua história, alguns remédios que misturam diferentes substâncias naturais são remédios", diz Stuart Titus, diretor-executivo da Medical Marijuana. A empresa está fazendo sucesso no Brasil, onde já tem um mercado de 1,2 bilhão de dólares (3,8 bilhões de reais) por ano. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem custeado alguns dos tratamentos que a empresa oferece, tornando-se o seu maior cliente.

Após a conquista do Brasil, a Medical Marijuana saiu em busca de oportunidades no México. O emblemático caso de Grace Elizalde, que sofria até 400 ataques epiléticos por dia, modificou as opiniões dos mexicanos sobre o uso da maconha na medicina. A empresa norte-americana conseguiu em fevereiro de 2016 a autorização para importar xaropes com cannabidiol para uma dezena de famílias com filhos epiléticos. Em abril de 2017, o Congresso mexicano autorizou a comercialização maconha medicinal e abriu as portas ao cultivo e pesquisa da planta Cannabis.

Caso significativo

O caso de Elizalde foi tão significativo para a despenalização do uso da maconha medicinal que a companhia decidiu nomear Raúl Elizalde, o pai de Grace, como presidente da filial mexicana da empresa HempMeds México. "Estamos começando de zero no México e queremos lançar uma operação completa. Estamos especialmente interessados em fazer pesquisa neste país," afirma Titus. Segundo relatórios da empresa, o investimento inicial foi de 50.000 dólares (160 mil reais). Titus estima que em curto prazo surgirá um mercado de 2,5 bilhões de dólares (8 bilhões de reais) por ano, e que, inclusive, a HempMeds México poderá colocar no mercado um produto com menos de 1% de THC (tetrahidrocannabinol), o componente psicoativo da maconha, o que foi permitido na Lei de Saúde mexicana.

A última incursão da Medical Marijuana ocorreu no Paraguai, onde o governo autorizou a importação de alguns dos produtos da empresa, em abril de 2016. O caso de Mathias González, jovem de 15 anos com síndrome de Lennox-Gastaut (caso raro de epilepsia) e autismo, colocou o debate em cima da mesa diante da oposição de que a comercialização da maconha medicinal seja aberta a todo o público. Embora a companhia já tenha se acomodado na América Latina, não conseguiu ingressar no Uruguai, onde o Estado assumiu o cultivo, a produção e a distribuição de produtos derivados do cannabis. O Uruguai legalizou o uso da maconha, em 2012 e, no fim de julho, começou a vender pequenas doses da planta para uso recreativo em farmácias.

Além do mercado americano, no qual a Medical Marijuana domina os estados da Califórnia e do Colorado, a empresa tem autorização, desde 2014, para vender seus produtos em Porto Rico para pessoas maiores de 21 anos, com a autorização de seus médicos. A companhia é otimista diante do seu crescimento na América Latina. Registrou receitas de 6,13 milhões de dólares (19 milhões de reais) no segundo semestre deste ano, 1,66 milhão de dólares (5,3 milhões de reais) a mais que no mesmo período de 2016. Entre anos, a subida das vendas foi de 203%. As esperanças para o crescimento no futuro estão nos investimentos no Brasil e no México.

A Medical Marijuana foi a primeira empresa de cannabis a entrar na Bolsa nos Estados Unidos. Tem sua sede na Califórnia, onde a legalização da maconha afetou diferentes setores. A empresa tem pelo menos oito empresas dependentes que, além de comercializar xaropes com conteúdo cannábico, também oferece produtos cosméticos e suplementos alimentícios.

O grupo reconhece que, diante da sua expansão nos EUA e na América Latina, está preparado para entrar no setor recreativo quando as leis permitirem. "Não é um negócio que vende ou distribui maconha para uso recreativo, até agora a maconha é uma substância controlada pelas autoridades federais, no entanto, consideramos que a empresa está bem posicionada para uma eventual legalização do cannabis", afirma o último relatório da empresa.

Mercados abertos

1. México. Desde o último dia 20 de junho, é legal a maconha para o uso medicinal e para a investigação científica.

2.Brasil. Em 15 de maio, o Brasil incluiu a maconha na lista de plantas medicinais. A medida não legaliza o consumo, nem modifica as regras relativas ao cultivo.

3. Paraguai. O país começou a distribuir, no último 6 de julho, o óleo de cannabis para o uso medicinal, um mês depois de autorizar a importação.

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