_
_
_
_
_

The Wing, o clube para mulheres resistirem aos EUA de Trump

O feminismo já tem seu ‘meeting point’ em Manhattan. No clube, há eventos culturais só para mulheres

The Wing abriu um espaço em Manhattan e prepara um segundo
The Wing abriu um espaço em Manhattan e prepara um segundoDivulgação

Não é por acaso que o The Wing nasceu em março de 2016. Exatamente por ocasião da comemoração do Dia Internacional da Mulher, Audrey Gelman, a alma mater do projeto, e Lauren Kann (cofundadora) põem mãos à obra e dão vida a um espaço onde as mulheres, e somente as mulheres, podem ir para se reunir, trabalhar e se nutrir pessoal e profissionalmente. “Audrey conversou comigo, e a sua proposta de me integrar me pareceu engenhosa e bastante conveniente para uma pessoa como eu, que escrevo em casa. Ali eu teria um local para editar que não fosse uma cafeteria ou um escritório custando o olho da cara”, conta a escritora Sloane Crosley, uma das  fundadoras.

Mais informações
MILFs: fantasia masculina ou liberação sexual da mulher madura?
Oito ilustradoras feministas que você gostaria de conhecer no Instagram
Por que Mulher Maravilha é a primeira super-heroína que busca a igualdade entre homens e mulheres
O discurso de Helen Mirren para as mulheres que não se consideram feministas

Gelman vem do universo da política. Iniciou sua carreira colaborando na campanha de Hillary Clinton para se candidatar pelo Partido Democrata à presidência em 2008. Seu nome integra a lista da Forbes das 30 pessoas com menos de 30 anos que devem ser levadas em conta em Direito e Política, além de ser considerada uma das 50 mulheres mais poderosas de Nova York, segundo o The NY Daily News. Embora tenha decidido deixar Washington e se afastar da política ao criar o The Wing, cujo conceito inicial se centrava de forma mais dirigida para ser um ‘coworking’ e um clube social, aquele background e o início da era Trump fizeram com que o projeto adquirisse um viés ainda mais engajado.

Isso se solidificou durante a Women’s March de janeiro passado. Dentre as mais de 500 mil pessoas que se manifestaram em Washington em defesa dos direitos das mulheres, da comunidade LGBT ou do direito à saúde, estava um grupo de 100 mulheres do The Wing, que se deslocaram para lá de ônibus. Durante os dias que antecederam o evento, o clube manteve as portas abertas para todas as mulheres que se sentiram ameaçadas depois da posse do presidente (entre elas, várias imigrantes), e que organizaram a marcha no local.

Um espaço de trabalho aberto com biblioteca, mesas, sofás, cafeteria, sala para amamentar, salas para conferências, espaço com penteadeiras e “um bom wifi”, como diz o site do estabelecimento. Como disse Sloane Crosley ao EL PAÍS: “O The Wing é um lugar bastante tranquilo para ficar. Durante o dia, há um clima de biblioteca que se estabelece naturalmente, e, se as mulheres não falam em voz baixa, são pelo menos cuidadosas a ponto de fazer conversas rápidas ou deixa-las para os pontos mais movimentados do espaço. Como qualquer pessoa que vive neste mundo poderia dizer, trata-se de um traço feminino”.

No que se refere ao aspecto de clube social e de lugar para praticar o ‘networking’, a escritora relata sua experiência: “Embora tenha conhecido ali muitas mulheres interessantes – advogadas, estilistas, jornalistas... –, não uso muito o espaço para me socializar. Mas isso tem mais a ver com o fato de que eu sou uma loba solitária de 38 anos, e existem elementos de socialização no The Wing que são provavelmente mais adequados para uma geração mais nova. Quando estou ali, ouço muitas conversas sobre marcas e aplicativos que não conheço. Mas sei que eu teria sido bem feliz se tivesse existido alguma coisa como o The Wing quando eu tinha 25 anos, e o único lugar comparável a isso era a Soho House”.

O que mais caracteriza o The Wing, porém, são os ‘happenings’ realizados ali por e para mulheres. Entre os futuros eventos está uma mesa redonda sobre a experiência das mulheres negras na América, um encontro dedicado à história de Sylvia Plath e o ‘baby shower’ no terraço de uma de suas fundadoras, Marianna Martinelli, inspirado na estética de Beyoncé e de sua pose para fotos grávida de gêmeos. Também passaram ali, para falar de poesia, as meninas de Lenny Letter, Jenni Konner e Lena Dunham, amiga de Andrey Gelman desde o colegial. Lena conta que se baseou nela para criar o personagem de Marnie em ‘Girls’.

Um dos ambientes com biblioteca
Um dos ambientes com bibliotecaDivulgação

As origens do The Wing podem ser encontradas nos primeiros clubes de mulheres surgidos no século XIX e começo do XX. “Mulheres pioneiras que se apoiavam mutuamente e também a comunidade no momento em que mais se precisava disso. Havia cerca de 600 grupos desses em Nova York e cerca de 5.000 nos Estados Unidos nos anos 30”, registra o site do espaço. Há também uma influência dos grupos feministas dos anos 70, como o W.I.T.C.H., sobretudo na identificação entre feitiçaria e feminismo e o conceito de um sabá como reunião de mulheres empoderadas. “Somos uma assembleia de bruxas, não uma irmandade”, definem-se em seu perfil no Instagram.

O projeto está crescendo. À sua sede em Manhattan se somará ainda neste semestre um outro local no Brooklin, o The Wing SoHo, que oferecerá um espaço semelhante e as mesmas possibilidades de encontros para suas sócias. Além disso, há a intenção de se expandir ainda mais. No próprio site, há uma pergunta sobre para qual lugar você gostaria de levar o The Wing, o que pode ser respondido também pelas redes sociais usando o “hashtag #BringTheWing”. As condições para pertencer ao clube são “não ter pênis”, como diz Sloane Crosley, e pagar uma mensalidade de 215 dólares (700 reais).

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_