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Ana Julia, 12 anos, a primeira menina a integrar a seleção de futebol do Barcelona

Sem time feminino na escolinha do time catalão, a atleta brasileira joga com a equipe masculina

Ana Julia, na escola do FC Barcelona em São Paulo.
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As dificuldades do futebol feminino no Brasil, entre falta de estrutura e aporte financeiro, passam despercebidas pela grande maioria dos que amam o esporte mais popular do planeta. A situação é ainda pior nas categorias de base, que não entregam às meninas o mesmo suporte dado aos garotos. Por isso, diante dos obstáculos enfrentados pelas jovens jogadoras, histórias como a de Ana Julia se destacam. Aos 12 anos, após passar por testes técnicos, ela atua no time masculino de uma das escolas oficiais do FC Barcelona no Brasil, superando o desnível físico de um gênero para outro. A pequena atleta atingiu uma marca histórica: foi a primeira garota a chegar à seleção paulista das escolinhas do clube catalão. "Me sinto um exemplo. Vou inspirar muitas meninas a não desistir e tentar cada vez mais", diz Ana, visitada pela reportagem do EL PAÍS em um de seus treinos na escolinha do Barça, na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. "Fiquei muito feliz [de chegar à seleção]. Porque, além de tudo que aprendo com a escolinha, eu consegui chegar a um nível que a maioria dos meninos não consegue", afirma a animada garota.

O pai de Ana, Antônio Mendonça, não esconde o orgulho da cria e lamenta não haver não haver equipes de base para mulheres: "Procuramos por times para ela, mas infelizmente não tinha quase nada. É triste que o futebol feminino receba pouca atenção e apoio", conta.

A jovem estrela - Ana já deu autógrafos aos colegas de escola, no Tatuapé, após "driblar um montão de meninos e fazer um montão de gols num só treino" - tenta enxergar o lado bom da falta de estrutura para as jovens que, como ela, querem ingressar no futebol: "Acho chato não ter espaço para as meninas na base, mas eu até prefiro continuar com os meninos por enquanto. Se consigo jogar de igual pra igual com eles, que têm mais força no corpo, vou me sair bem quando estiver mais velha e jogar com as mulheres." A jovem pretende ser "a melhor do mundo", e é admiradora de Marta, dona de cinco Bolas de Ouro – e tida por muitos como a maior jogadora da história do futebol feminino –, a quem também quer superar.

Ana Julia disputa a bola com um colega de equipe.
Ana Julia disputa a bola com um colega de equipe.G. P.

Perguntado sobre a possibilidade de formar um time feminino, o diretor das escolinhas do Barcelona no Brasil, Agustin Peraita, afirma que, de 1050 alunos em São Paulo, "são apenas cerca de dez meninas. Queríamos ter um time feminino, mas não dá para montar uma equipe porque a procura ainda é baixa e as garotas que estão aqui são de idades diferentes." Assim como o pai de Ana, ele também demonstra admiração pela jovem jogadora: "Ela chegou na seletiva do fim de 2015, foi evoluindo de etapa em etapa, até que, no mês passado, chegou à seleção de São Paulo. Uma menina de 12 anos na seleção da idade dela, que tem muito bom nível, foi muito relevante para todo mundo. É algo inédito."

Agustin afirma que, a princípio, a reação dos garotos foi de estranheza. "Não vou dizer que é natural desde o começo, mas vai melhorando. Quando eles começam a conviver, a cooperar, a treinar junto com ela e com as outras, tudo muda.".

Assim como a filha, Antônio também acha que a história pode ser um ótimo exemplo: "O que ela nos ensina é que, numa brincadeira de criança, esse preconceito está nos adultos. Ela joga com os meninos, e ali não existe distinção de gênero."

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