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Estados Unidos querem que cigarros não viciem

Washington anuncia plano para reduzir a nicotina no tabaco e regular os sabores preferidos pelos jovens

Pablo Ximénez de Sandoval

O Governo dos EUA anunciou na sexta-feira um plano para reduzir os níveis de tabagismo no país, que representa uma nova abordagem do problema. A Administração de Medicamentos e Alimentos (FDA, na sigla em inglês) se propõe a obrigar a reduzir o nível de nicotina dos cigarros de maneira a reduzir seu efeito viciante. As ações das grandes companhias de tabaco caíram bruscamente ao meio-dia, depois do anúncio. Esta é a primeira vez que a regulação afeta os níveis de nicotina.

AFP
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O diretor da FDA, Scott Gottlieb, se refere à nicotina no comunicado oficial como "o coração do problema e, simultaneamente, a solução" para a dependência do tabaco. "A grande maioria das mortes e das doenças atribuíveis ao tabaco é provocada pela dependência; é o único produto de consumo legal que, se utilizado como se espera, matará metade de seus usuários no longo prazo". E acrescenta: "A não ser que mudemos de rumo, 5,6 milhões de jovens morrerão prematuramente por causa do fumo".

De acordo com dados da FDA, o uso de tabaco provoca 480.000 mortes por ano e tem um custo para a sociedade em despesas médicas de 300 bilhões de dólares (cerca de 943 bilhões de reais) por ano.

O plano não tem data. O comunicado desta sexta-feira anuncia que tais orientações gerais serão concretizadas "em breve". O Governo planeja "abrir um diálogo" sobre a forma de conseguir reduzir a nicotina no tabaco para níveis não viciantes. Em sua argumentação, a FDA diz que 90% dos fumantes começaram antes dos 18 anos e que todos os dias 2.500 jovens fumam seu primeiro cigarro nos Estados Unidos. Iniciar o diálogo parece um eufemismo para o que será uma dura negociação em Washington com os lobbies do tabaco.

As novas normas não afetam a estratégia atual que prevê incluir no futuro mensagens de advertência, listas de ingredientes, informes sobre os danos reais e potenciais e a eliminação de mensagens que relativizam os danos, como light, suave e palavras semelhantes. Também propõe buscar "informação pública" para regular os "sabores atraentes para os jovens". Uma das peças centrais da nova estratégia é estudar a influência dos sabores no vício do fumo.

O objetivo da mudança de estratégia também é pressionar as empresas a se concentrarem mais no desenvolvimento de produtos menos nocivos que os cigarros, outras formas de fornecer nicotina para "aqueles adultos que ainda precisem dela". Por isso, diz, estende-se até 2021 o prazo de adaptação à regulação anterior, de 2016, de modo que as empresas possam rever seus produtos.

O impacto do anúncio do Governo foi imediatamente sentido nas cotações das ações das grandes indústrias de cigarros. As ações da Altria (Marlboro) chegaram a cair 19% e as da British American Tobacco baixaram 14%. Esta última adquiriu neste ano a norte-americana Reynolds por 50 bilhões de dólares. Como lembrou a Bloomberg, em sua argumentação a empresa mencionou o "atraente" mercado norte-americano.

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