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O ‘cosplay’ não tem idade, como mostra esta brasileira de 60 anos

Tia Sol, uma dona de casa, começou acompanhando sua filha nas convenções de ‘cosplay’

Tom C. Avendaño
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Solange Amorim, uma dona de casa sexagenária de Manaus (AM), insiste que não sabe costurar bem. “Só sei me atrapalhar”, repete algumas vezes durante a entrevista com o EL PAÍS. Não é o que pensam as centenas de pessoas que, nos últimos três anos, aplaudiram a arte que vem exibindo nas convenções de cosplay, essas reuniões de pessoas caracterizadas como personagens da cultura pop, ligados especialmente ao universo dos quadrinhos e que é normalmente associado aos jovens.

Na Internet, ela também tem uma legião de admiradores usando o nome de Tia Sol, principalmente desde que publicou no seu perfil no Facebook, em 12 de julho, uma coleção de poses com suas obras, que foi compartilhada mais de 17.000 vezes. Nelas, aparece vestida como a dona do Piu-Piu, a avó de Moana, a Bruxa Onilda, o Dungeonmaster de Dungeons & Dragons, Yubaba de A Viagem de Chihiro, a Fada-Madrinha de Shrek...

Cada fantasia, isoladamente, surpreende pela quantidade de detalhes e pelo fato de realmente se parecerem com os personagens. Mas o conjunto também impressiona. Todos os 12 personagens mantêm o nível, ainda que imitem gêneros bem diferentes. Não há uma caracterização que resista a Tia Sol. “Só costuro no meu tempo livre”, repete. “Sou mãe de três filhos. Cozinho e faço bolos. Nos momentos livres, me aventuro um pouco com trabalhos manuais. Passo mais tempo cuidando da minha mãe, que tem 82 anos”.

Quando insistimos, ela parece incrédula diante do número de seguidores que conquistou nestes últimos dias, talvez porque não se esquece de que o que a levou a esse mundo foi uma aposta. “Eu frequentava convenções de cosplay para acompanhar minha filha, porque ela adora. Um dia uma amiga me disse não acreditar que eu teria coragem de aparecer caracterizada em um evento. Eu respondi que se ela me pagasse pela roupa, eu iria. Fui vestida como a vovozinha do Piu-Piu e fui muito bem recebida. Por isso, não parei”, recorda.

Segundo ela, o que a atrai não são as fantasias em si, mas as pessoas. “Eu gosto de ver a alegria das pessoas quando me veem caracterizada. Elas se aproximam de mim e me dizem que eu as fiz voltarem à infância. Isso me leva a continuar com meus cosplays”. Assim, Solange se transformou em Tia Sol (“porque muita gente acredita que minha alegria é como um raio de sol, e foi assim que começaram a me chamar”). Fui desenvolvendo um estilo próprio, de personagens infantis. “Gosto muito dos clássicos, trazer de volta rostos esquecidos. E também tenho que me ver no personagem, como Kaede, mestra Genkai [da série InuYasha]”.

Teve grandes sucessos: “Muriel [de Coragem, o Cão Covarde]”, exclama com entusiasmo. Teve frustrações: “Rita Repulsa [dos Power Rangers]”, suspira. Outra grande marca de Tia Sol é que não é partidária de seguir as indicações que circulam na internet para cada caracterização, mas sim prefere criá-las do zero. “Quando escolho um personagem, vou com a ideia até uma costureira que me ajuda e assim finco pé nos detalhes que quero. Ela faz os esboços e eu aprovo. Depois ela me ajuda a preparar a roupa. Como eu disse, não costuro muito bem”.

Muitos veem nessa dedicação o segredo para seu sucesso, mas também representa um notável gasto de tempo. “Cada caracterização leva um mês, se for algo simples. Se não, estamos falando de três meses”.

No momento da entrevista, Solange fala de dois planos para o futuro. Primeiro, voltar a encarar a fantasia de Rita Repulsa, que tantos problemas traz. “Ainda tenho que acrescentar algumas coisas porque quero usá-la em uma convenção em setembro”, afirma. E, por último, aproveitar a fama enquanto dure ao lado de seus filhos. “Sempre estão me dizendo que adoram tudo o que eu faço. Sempre me dizem: ‘Mãe, o que queremos é que você seja feliz’.”.

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