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Trump gera polêmica ao se atribuir “plenos poderes para perdoar” crimes

Afirmação aumenta temor de que o presidente dos EUA esteja preparando um indulto Medida poderia beneficiar sua família e ele próprio no caso da trama russa

Jan Martínez Ahrens
Donald Trump na manhã deste sábado.
Donald Trump na manhã deste sábado.AFP
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O sinal amarelo foi aceso. As suspeitas de que Donald Trump possa decidir perdoar seus parentes, funcionários e até ele próprio no caso da trama russa aumentaram. Em um tuíte postado na manhã deste sábado, o presidente dos Estados Unidos atribui a si mesmo “plenos poderes para perdoar”. Embora o mandatário não se refira a nenhum caso concretamente, a informação não passou despercebida. Há alguns dias os meios de comunicação norte-americanos têm noticiado que Trump vem tendo reuniões com seus assessores jurídicos para saber quais são os limites do indulto presidencial. Considerando a autoridade de que ele é investido, sua concessão conhece poucos obstáculos no caso de terceiros, mas há fortes dúvidas no que se refere ao perdão para si mesmo. A medida careceria de precedentes concretos e, de todo modo, significaria um escândalo dificilmente assimilável em uma democracia baseada da divisão de poderes e no respeito à lei.

Nesse contexto, a frase de Donald Trump (“Mesmo que todo mundo concorde que o presidente tem plenos poderes para perdoar, por que pensar nisso se até agora o único crime são os vazamentos contra nós?”) está destinada a alimentar a discussão. Ele não só defende que seus poderes são plenos, como também afirma que “todo mundo concorda” com isso, referindo-se a um consenso que inexiste na realidade.

Os assessores da Casa Branca tentaram minimizar a importância da questão. Para eles, as reuniões realizadas tinham um caráter apenas “teórico”. A suspeita, porém, vem também de outra direção. O Salão Oval adotou uma mudança em sua estratégia relativa à trama russa e passou a questionar o trabalho do procurador especial, Robert Mueller. Ele foi atacado por causa da suposta parcialidade de seus assistentes, e a Casa Branca avalia que Mueller estaria ignorando o período em que a investigação sobre a interferência eleitoral russa esteve sob o comando de Barack Obama.

Essa virada estratégica coincidiu com mudanças na própria equipe jurídica e com a sensação, cada vez mais clara, de que Mueller, que comandou o FBI durante 13 anos, investiga o presidente e seus próximos não só pela suposta colaboração com o Kremlin em sua campanha contra Hillary Clinton, mas também pela questão de seus conflitos de interesse financeiros. Nesse sentido, o procurador especial já solicitou oficialmente informações sobre as contas dos familiares do presidente e presume-se que esteja analisando também as conexões entre o seu império e empresas vinculadas à Rússia. Se os temores da Casa Branca se confirmarem, uma dupla crise seria então inaugurada. Uma legal e baseada em um elemento tão líquido no universo Trump como o dinheiro. E outra política, por causa dos prejuízos que causaria aos republicanos a imagem nixoneana de um presidente em confronto aberto com o procurador especial.

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