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A guerra contra o tráfico atinge a Cidade do México

Sudeste da capital viveu horas de pânico durante confronto com membros do cartel de Tláhuac

Pablo Ferri
Uma das avenidas bloqueadas na Cidade do México.
Uma das avenidas bloqueadas na Cidade do México.PEDRO PARDO (AFP)
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Na quinta-feira, a guerra contra o tráfico de drogas atingiu a Cidade do México. Uma guerra de baixa intensidade, de impacto moderado. A Marinha do México enfrentou membros de um cartel de drogas em um bairro pobre da capital. A pouco mais de meia hora de metrô do centro da cidade. A vinte minutos do museu Frida Kahlo. Oito supostos delinquentes foram mortos, incluindo seu líder. Em um comunicado divulgado à tarde, a Marinha explicou que foram os criminosos que atacaram e eles simplesmente responderam. Sem conhecer a lista completa, as autoridades confiscaram “várias armas pesadas”.

A operação da quinta-feira lembra entre outras a de Tepic, no Estado de Nayarit. Em fevereiro, membros de elite da Marinha terminaram com os remanescentes do cartel dos Beltrán Leyva no noroeste do país. Apoiados por um helicóptero, que chegou a disparar contra os membros do bando, os marinheiros abateram 12 pessoas. Como na Cidade do México, o evento de Tepic foi rápido, de uma precisão cirúrgica.

Surpreendidos, os membros do grupo criminoso sequestraram caminhões e micro-ônibus que colocaram atravessados nas avenidas próximas e incendiaram, bloqueando-as. Outros fecharam ruas circundantes com seus mototáxis. São imagens raramente vistas na capital, comuns nas cidades do norte como Reynosa e Matamoros, mas inesperadas no centro político e econômico do país. A polícia da capital prendeu 16 pessoas. A procuradoria os acusa de sabotagem, danos à propriedade e ataques às vias de comunicação.

Apesar do espetacular deslocamento da Marinha, da Polícia Federal e da local, o prefeito da Cidade do México, Miguel Ángel Mancera, minimizou o evento. Mancera disse que os mortos não pertenciam a nenhum cartel, mas a um grupo de “traficantes menores”. O prefeito evitou se referir aos bloqueios. Nesta sexta-feira, algumas das escolas da região que ainda têm aulas estão fechadas.

O confronto começou na parte da manhã. O lugar, um bairro de Tláhuac no sudeste da capital. Ángel García explica que por volta das 11h saiu de sua casa para buscar água. Chegou ao comércio e viu como chegavam os efetivos da Marinha pela esquina da rua. “Logo depois começou o tiroteio, foram uns cinco ou dez minutos”, diz. Os marinheiros chegaram correndo, diz Angel, e ele ficou na loja, onde tinha ido encher sua garrafa de água.

Três horas mais tarde, Angel ainda esperava a permissão para ir para casa. Continuava ali, a dois quarteirões, com sua garrafa vazia.

Centenas de marinheiros, policiais federais e locais tomaram quatro ruas do pequeno bairro de La Conchita. Um helicóptero da Marinha sobrevoou a área por horas. Por enquanto não se sabe em quantas casas houve enfrentamentos, ou se aconteceram na rua, em algum comércio... Ángel diz que depois do meio-dia, quando já estava esperando na rua para voltar para sua casa, ouviu uns rapazes, “os dos mototáxis”, dizendo que iam “fazer bagunça”.

Em seu comunicado, a Marinha informou que um dos oito mortos é Felipe de Jesús Pérez, conhecido como El Ojos, líder do grupo criminoso. El Ojos era o chefe do cartel de Tláhuac. De acordo com a imprensa mexicana, o cartel de Tláhuac vendia drogas na Universidade Nacional Autônoma do México, UNAM, e controlava a entrada sudeste da cidade.

Javier, outro morador do bairro, explicou que El Ojos tinha uma casa segura em La Conchita. “Mas tem várias outras, no bairro Del Mar, em Coyoacán, em vários lugares”. Javier, que prefere omitir seu sobrenome, disse que “agora vai ser uma confusão. Não mataram qualquer um.”

A sombra do crime organizado na capital mexicana se intensificou nos últimos anos. Apesar dos repetidos desmentidos por parte das autoridades locais, episódios como a ação da Marinha, o braço do Estado mexicano mais especializado e eficiente na luta contra o tráfico, são um sintoma forte.

No México há, de acordo com a PGR (Procuradoria), nove grandes cartéis, que por sua vez se subdividem em uma galáxia de mais de 40 subgrupos, alguns deles com autonomia quase completa. A decapitação das grandes máfias – Sinaloa, Zetas, Beltrán Leyva – e o surgimento de novos atores – Jalisco Nueva Generación – foi abonando o crescimento destes pequenos bandos, distantes dos velhos códigos do submundo e imersos em todo tipo de variantes criminais: sequestro, roubo, tráfico de pessoas, extorsão.

O Estado do México, o imenso território que ocupa a capital, é a entidade onde mais assassinatos são registrados e sede de vários cartéis. Relatórios da polícia federal revelados pela imprensa mexicana nos últimos anos confirmam a porosidade das fronteiras: as portas dos Beltrán Leyva são Iztapalapa, Chalco e Neza; pelo lado de Huixquilucan e Naucalpan está a Família Michoacan; enquanto Ecatepec e Texcoco são o caminho dos Los Zetas.

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