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A modelo negra que incentiva sentir orgulho da pele escura

“Pensei em clarear minha pele para que os homens me achassem atraente”, reconhece a sudanesa Nyakim Gatwech. Mudou de opinião

Emilio Sánchez Hidalgo

Em março, um motorista do Uber perguntou à modelo do Sudão do Sul Nyakim Gatwech se clarearia sua pele por 10.000 dólares (cerca de 32.600 reais). Segundo relata no Instagram, a modelo começou a rir tanto que não conseguia nem responder. “Por que diabos iria querer clarear esta preciosa melanina com a qual Deus me abençoou? Então, ele me perguntou se eu via a cor da minha pele como uma bênção.” A resposta de Gatwech foi clara: “Com certeza”.

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Desde que contou a anedota no Instagram, a modelo de 24 anos ganhou fama graças aos vários artigos escritos sobre ela na imprensa. Seus seguidores, 240.000 na rede social de compartilhamento de fotos e vídeos, começaram a chamá-la de Rainha da Escuridão, um apelido que ela recebeu com grande orgulho, como escreve nos textos que acompanham suas fotografias. “Adoro. Sou tão grata a todos que me apoiaram escrevendo sobre mim... Todos somos bonitos, seja qual for a cor da nossa pele. Por que o escuro deve ser ruim? Aceite quem você é e ame a si mesmo.

A atitude de Gatwech não é apenas uma resposta ao mundo da moda ou do cinema. Sua mensagem é dirigida principalmente à multidão de mulheres africanas que não têm orgulho de sua cor da pele, optando por cremes branqueadores que podem ser prejudiciais à saúde.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o perigoso efeito desses cremes em um relatório em 2011. Esses cosméticos podem causar câncer no sangue, de fígado e dos rins, bem como uma doença grave de pele chamada ocronose. Os cremes são usados principalmente por mulheres, porque os homens teriam preferência pela pele clara, segundo um artigo publicado pela BBC.

“Não se sabe ao certo a origem desta crença na África, mas pesquisadores a relacionam com a história colonial do continente, onde a pele branca era o epítome da beleza. Alguns também sugerem que as pessoas dos ‘países marrons’ tendem a menosprezar a pele mais escura”, destaca a reportagem da rede britânica.

Segundo a OMS, a Nigéria é o país onde mais mulheres usam esse tipo de creme: 77%. São muito comuns em outros países africanos como Mali, Togo, Senegal e África do Sul, e também na Ásia, onde 60% das mulheres na Índia usam cremes clareadores. Gatwech responde a todas essas mulheres mostrando-se muito orgulhosa de si mesma: “A beleza está no espectador. Represento uma nação de guerreiros. Minhas raízes são muito profundas!”.

Em uma entrevista para o Yahoo, a modelo diz que “considerou” branquear a pele em uma ocasião, mas essa ideia não durou muito tempo: “Aquele taxista não foi o primeiro que me perguntou se eu pensava em clarear minha pele. Na escola, me diziam que eu era negra como o inferno; que tomasse um banho. Houve um momento em minha vida em que pensei em clarear minha pele para que os homens me achassem atraente e para evitar insultos”.

“À medida que fui crescendo, aprendi a me amar e a ignorar aqueles que me faziam sentir mal. Minha mensagem para minhas irmãs — em referência à mulheres negras — é que sua aparência não importa, contanto que você se sinta bonita por dentro”, acrescentou a modelo.

Não cedeu às humilhações e, anos mais tarde, começou a exercer sua profissão como modelo nos Estados Unidos. Os comentários em sua conta no Instagram aplaudem sua determinação de ajudar as mulheres a se aceitarem como são. Muitos de seus seguidores lhe dão outros apelidos que ela adota com carinho, como Rainha Núbia ou Menina Chocolate.

Em 2016, outra modelo de pele muito escura ganhou as manchetes ao enviar uma mensagem semelhante à de Gatwech. Khoudia Diop, do Senegal, chamou a atenção dos meios de comunicação em todo o mundo defendendo a cor de sua pele. Diop, assim como Gatwech, diz que sofreu bullying na escola.

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