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Governo Maduro prendeu 123 membros das Forças Armadas desde o início dos protestos

Em meio a grave crise, militares venezuelanos se queixam de escassez de alimentos e baixa remuneração

Desfile militar para comemorar a independência da Venezuela, em 5 de julho (fotografia cedida pela Agência Venezuelana de Notícias)
Desfile militar para comemorar a independência da Venezuela, em 5 de julho (fotografia cedida pela Agência Venezuelana de Notícias)EFE
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Pelo menos 123 membros das Forças Armadas da Venezuela foram detidos desde o início da onda de protestos contra o Governo do presidente Nicolás Maduro, sob a acusação de traição, rebelião, roubo e deserção, de acordo com documentos militares aos quais a Reuters teve acesso. Consultados pela agência, os ministérios da Informação e da Defesa não quiseram comentar essa informação.

Segundo a Reuters, a lista de detidos, entre os quais se encontram capitães, sargentos, tenentes e soldados do Exército, da Marinha, Força Aérea e Guarda Nacional, apresenta a imagem mais clara até agora da insatisfação e dissidência nas Forças Armadas da Venezuela, que possuem cerca de 150.000 membros.

Os documentos, nos quais são detalhados o número de prisioneiros, a patente, o motivo e os três presídios em que se encontram, mostram que desde abril cerca de 30 membros do Exército foram presos por desertar ou abandonar seu posto e outros 40 por rebelião, traição ou insubordinação. Os demais prisioneiros militares foram acusados de roubo.

Um grupo de 91 detidos está em Ramo Verde, uma prisão perto de Caracas na qual também se encontra preso um dos líderes da oposição, Leopoldo López. Outras duas dezenas estão na prisão de Pica, na cidade de Maturín, no nordeste do país, e oito no presídio de Santa Clara, no Estado ocidental de Táchira, perto da fronteira com a Colômbia. Três subtenentes fugiram para a Colômbia e ali pediram asilo em maio, e um homem que disse ser sargento venezuelano apareceu em um vídeo divulgado pela mídia local no mês passado, no qual declarava sua dissidência e instava seus colegas a desobedecerem os superiores “abusivos” e “corruptos”.

Em meio a uma profunda crise econômica, milhões de venezuelanos sofrem com a escassez de alimentos e a elevada inflação. Nas Forças Armadas os proventos começam com o soldo mínimo, equivalente a 12,5 dólares por mês pela taxa de câmbio do mercado negro (cerca de 42 reais), e em particular alguns militares admitem estar sendo mal pagos e mal alimentados.

Desde que a oposição começou seus protestos, há mais de três meses, vários funcionários do setor da segurança tornaram público seu descontentamento. O caso mais notório foi o do policial que roubou um helicóptero e atacou edifícios estatais na semana passada, que afirma que uma facção dentro das Forças Armadas se opõe ao Governo do presidente.

Os documentos militares aos quais a Reuters teve acesso, que cobrem as detenções até meados de junho, respaldam as afirmações dos líderes da oposição de que a ira e a dissidência entre os soldados, que vivem difíceis condições econômicas, é maior do que parece. “Isso demonstra o baixo moral e o descontentamento e, claro, a necessidade econômica”, explicou um general aposentado do Exército, ao comentar as detenções. Ele pediu que seu nome não fosse citado, por temer represálias.

Os líderes da oposição exortaram repetidamente a cúpula militar a romper com o presidente Maduro. Maduro diz ser vítima de uma “insurreição armada” orquestrada por seus adversários com o apoio do Governo dos Estados Unidos, que, segundo ele, buscam obter o controle da vasta riqueza petrolífera do país, membro da OPEP, e afirma que os altos comandantes militares estão ao seu lado.

A Guarda Nacional tem reprimido os protestos em todo o país com gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha contra jovens mascarados que, por sua vez, lançam pedras, coquetéis molotov e excrementos. Pelo menos 90 pessoas morreram desde abril. Em privado, alguns membros da Guarda Nacional reconheceram estar esgotados, mal pagos e mal alimentados, embora a maioria permaneça impassível durante os protestos e evite conversar com os jornalistas.

Maduro atribui os problemas do país a uma "guerra econômica" que a oposição está travando com o respaldo de Washington, uma posição endossada em público por altos funcionários militares. “Há muitos que estão buscando (...) alguns ‘Rambinhos’ aqui dentro das Forças Armadas, mas não vão conseguir”, disse o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, em um vídeo publicado nas redes sociais na segunda-feira, em alusão ao rumor de um golpe de Estado militar.

O policial e ator Óscar Pérez, que protagonizou o ataque de helicóptero na semana passada contra as sedes do Ministério do Interior e do Tribunal Supremo de Justiça, em Caracas, reapareceu nesta quarta-feira em uma gravação em que promete manter a luta e convoca os venezuelanos a prossegui-la nas ruas.

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