_
_
_
_
_
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

A luta pelo funk no Senado: a história mais brasileira nunca contada?

Projeto que pode proibir o funk será discutido no Senado. A música será defendida por Anitta, Valesca Popozuda e Romário

Tom C. Avendaño
A cantora Anitta.
A cantora Anitta.INSTAGRAM
Mais informações
“Batemos tambores, eles panelas”: Rincon Sapiência quer matar o senhor de engenho e ainda te fazer dançar
MC Carol: “Meu namorado não é otário. Homem tem que dividir tarefa”
Rico Dalasam: “O rap é homofóbico, mas também é grande”

A legislação brasileira permite que qualquer proposta que consiga angariar 20.000 apoiadores em menos de quatro meses seja, pelo menos, debatida no Senado. O que as regras não previam é que por essa fresta passasse uma história tão arquetípica como a que está sendo proporcionada por uma proposta cidadã de tornar ilegal o funk, uma música popular que, mais do que pelo seu ritmo, se define pela atitude desafiadora de seus autores e intérpretes e pelo fato de ter forte penetração no universo das favelas. Em outras palavras, é “música de pobre”, em um país marcado pela desigualdade e pelo elitismo. E, também, uma música de muito sucesso, para desgosto de muitas pessoas das classes mais altas.

O relator escolhido para encaminhar a discussão é Romário, jogador de futebol que atuou no Barcelona de Johan Cruyff nos anos noventa e foi eleito senador pelo Partido Socialista Brasileiro. Como era de esperar, Romário, que em 1994 chegou a discutir com Cruyff sobre a quantidade de saídas noturnas permitidas aos atletas e deu um fecho à questão com a famosa frase “se eu não saio, não faço gols”, já adiantou que irá votar contra a proposta.

Vários especialistas no assunto foram convidados para a sessão, ainda sem data definida, que debaterá o tema em uma comissão no Senado. Por exemplo, a cantora de funk Anitta, o maior fenômeno musical dos últimos anos no Brasil. A multifacetada comissão, verdadeira metáfora de como o país pode ser divertido fora das instituições, incluirá também uma veterana, Valesca Popozuda, e um símbolo comercial, Nego do Borel, que se tornou bastante conhecido nos últimos anos.

A mente que criou a proposta se localiza no extremo oposto desse grupo. Trata-se de Marcelo Alonso, um web designer que afirma em sua página no Facebook, entre memes homofóbicos e islamofóbicos, que o funk é “um crime de saúde pública” e que a ideia de proibi-lo não vem dele apenas, sendo, segundo suas palavras, “a vontade do povo”. Não constitui motivo de alegria o fato de que a proposta, que expressa esse espírito elitista, tenha reunido 20.000 assinaturas tão rapidamente. Tendo de enfrentar agora figuras icônicas das favelas e um ex-jogador de fama internacional, ela conseguiu –ainda que de forma muito simplificada— se transformar em uma das histórias mais brasileiras dos últimos anos.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_