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Serginho: “Sempre fui povão. O vôlei salvou minha vida”

Biografia de Escadinha, como é conhecido o líbero, conta toda a trajetória de um dos maiores nomes da história do vôlei Livro será lançado em 29 de junho, quinta-feira, em São Paulo

Serginho, durante sua partida de despedida da seleção, em Brasília.
Serginho, durante sua partida de despedida da seleção, em Brasília.Divulgação (CBV)

"Tive alguns milhões de caminhos para me perder na vida. E tive um para me salvar", afirma Serginho, ou Escadinha, como é conhecido o bicampeão olímpico e da Copa do Mundo de Vôlei. Sérgio Dutra Santos nasceu no Paraná (Diamante do Norte, 15 de outubro de 1975) e cresceu em Pirituba, na periferia paulistana, onde trabalhou como empacotador, office boy e vendedor ambulante, fez muitos amigos e perdeu outros para o tráfico de drogas e a violência. Ele, acredita, foi poupado de destino similar graças ao esporte. Sua jornada é contada agora por Daniel Bortoletto no livro Degrau por degrau - A trajetória de Serginho, de Pirituba ao Olimpo, pela Editora Planeta.

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O livro, que tem lançamento previsto para a próxima quinta-feira, 29 de junho, conta a vida do atleta começando pela infância e adolescência na zona norte paulistana, na qual cresceu com Silvanei e Suezi, seus irmãos, e os pais. "Meu pai se sacrificava para trazer comida para casa. Não passávamos fome, mas às vezes a quantidade não dava para todo mundo. Se alguém estava com mais fome, o outros dava um pouco mais de sua parte", diz Nei, o mais novo dos três. "Perdemos amigos, muita gente conhecida... Um moleque ia jantar na nossa casa na terça. Na quarta ele aparecia morto. E não foram poucos", conta o caçula.

Na adolescência, Sérgio, o mais velho, começou a trabalhar para ajudar nas finanças da família. Conciliava os trabalhos com as equipes de bairro e as peneiras em grandes clubes da época, como Pirelli, Palmeiras e Banespa. Os dois últimos, inclusive, em mais de uma oportunidade. Ouviu "não" em quase todas as oportunidades, até que foi levado para um novo teste no Palmeiras. A princípio, Sílvia Souza Lima, professora responsável pela peneira, viu um garoto magrelo e de pernas finas, mas com algo a mais no olhar. E foi o que viu em Escadinha, dando a ele a chance que tanto esperava. Ele seguiu dividindo sua rotina entre bicos e treinos, mas desta vez em um clube estruturado, para não desistir dos sonhos nem deixar de ajudar os pais. Hoje considerada pelo próprio atleta como sua segunda mãe, Sílvia se impressionava com o jogador: "Não sei como ele conseguia fazer tanta coisa em 24 horas. Sabia das dificuldades dele e da família, mas ele nunca me mostrou medo nem fragilidade."

Após um ano de trabalho com o garoto de Pirituba, Sílvia foi convidada para trabalhar em Guarulhos, e levou o então ponteiro para sua nova equipe. Após uma ótima temporada - título paulista contra o Pinheiros -, no entanto, a carreira de Serginho sofreu um revés: aos 22 anos e com um filho recém-nascido - Marlon, o primeiro de três - , viu a prefeitura da cidade da Grande SP cortar os investimentos e acabar com o time de Guarulhos. "[Quando fiquei sabendo], voltei para casa chorando. Estava desesperado", conta ele, que passou a trabalhar por mais tempo para sustentar a família, e, assim, enxergava cada vez mais distante a chance de ser um grande jogador de vôlei.

Com a ajuda de Chicão, ex-companheiro de Guarulhos, conseguiu um novo teste, desta vez para o São Caetano. A vaga era para atuar como líbero, algo novo para o jovem ponteiro, que agarrou a oportunidade e se saiu muito bem na peneira, conquistando espaço numa nova posição e recebendo 650 reais por mês, um salário que supria as necessidades da família. Em pouco tempo, se tornou titular e, a partir dali, sua carreira deslancharia.

Depois da equipe do ABC paulista, onde conquistou um quinto lugar - feito inesperado devido ao orçamento do clube -, Escadinha ainda atuaria por Suzano e Banespa até sua primeira convocação para a seleção brasileira, em 2001. Na escrete nacional, conquistou a Olimpíada de Atenas, em 2004, sete Ligas Mundiais, duas Copas do Mundo, entre outros títulos, até a Rio 2016, sua última competição, na qual sagrou-se bicampeão olímpico após bater a Itália por 3 x 0 . “Sempre fui povão. Brasileiro, lutador, sofredor. Só tenho gratidão ao voleibol”, disse Serginho, depois de sua despedida da seleção, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, na vitória por 3 x 1 contra Portugal, em setembro de 2016, diante de 40.000 pessoas.

Bruninho, capitão da seleção na conquista da Olimpíada, comenta: "O exemplo dele foi mais que fundamental. Aos quarenta anos, treinava mais que todo mundo. 'Não é possível', eu pensava. Não tem como não se contagiar com alguém assim. Escada lidera pelas ações. Ele me transmitia muita segurança." Após o título, o Presidente, um dos apelidos de Sérgio, foi eleito o melhor líbero e MVP (melhor jogador da competição) dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Familiares, amigos e antigos treinadores de Escadinha ajudam Bortoletto, jornalista especializado na modalidade, a narrar a história de um dos maiores nomes e tido por muitos como o melhor líbero da história do voleibol mundial. A biografia de Serginho, recém-contratado para o novo time do clube do coração no futebol, o Corinthians, aos 41 anos, será lançada às 19h desta quinta-feira, 29 de junho, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo.

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