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Cristiano Ronaldo abala o Real Madrid

Atacante provoca terremoto após confessar a seus companheiros de seleção que quer sair da Espanha

Eleonora Giovio
Cristiano Ronaldo, em um treinamento
Cristiano Ronaldo, em um treinamentoANDRE KOSTERS (EFE)

Cristiano Ronaldo está concentrado em Kazan, com a seleção portuguesa, para disputar a Copa das Confederações. Mas antes de começar sua participação, neste domingo, contra o México, o atacante do Real Madrid contou a alguns de seus companheiros que está incomodado com as acusações de fraude fiscal - é acusado de ter fraudado a Fazenda em 14,7 milhões de euros, ocultando rendas geradas na Espanha com direitos de imagem - e, cheio de raiva, confessou que quer deixar a Espanha.

"Cristiano quer abandonar a Espanha" foi o título da capa do jornal português A Bola, na última sexta-feira, provocando um terremoto no planeta futebol. De acordo com o periódico, o jogador já informou o presidente merengue, Florentino Pérez, e o diretor geral, José Ángel Sánchez, da sua intenção de sair do Real Madrid. O clube, no entanto, afirma que não recebeu nenhuma comunicação a respeito. A última vez que Cristiano apareceu no estádio e no centro de treinamentos foi no domingo, 4 de junho, dia das comemorações pela conquista da décima segunda taça de campeão da Europa, a Duodécima, junto com seus companheiros. No dia seguinte, apresentou-se na concentração da sua seleção.

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O português, de 32 anos, está incomodado porque se sente criminalizado pela acusação fiscal, e o clube está ciente desse mal estar. Mas expressa que não acredita que ele vá embora. A Bola já publicou, em 8 de junho, que o Real receberia uma oferta de 180 milhões de euros pelo português (que, até agora, não chegou). Vai sair do Real Madrid?, perguntaram-lhe naquela semana. "Não, não", contestou. Impossível? "Nada é impossível", disse. Pouco menos de uma semana depois, surgiu a denúncia da Receita Federal. O organismo baseou-se na jurisprudência do caso Messi, no qual o jogador do Barcelona foi condenado pelo Supremo a 21 meses de prisão por fraude fiscal.

O Real Madrid emitiu um comunicado, no dia seguinte à denúncia, defendendo Cristiano Ronaldo e dizendo que, entre outras coisas, estava certo que ele demonstraria sua inocência. "Temos plena confiança no nosso jogador, entendemos que ele atuou conforme a lei quanto ao cumprimento de suas obrigações fiscais". Pepe, também representado, como Cristiano, pelo agente Jorge Mendes, reclamou em uma entrevista à rádio Cope, do tratamento do clube: "Não me defenderam no caso da Fazenda". Mendes foi chamado a depor na investigação de uma suposta fraude fiscal de Falcao García, embora o representante tenha negado que esteja imputado.

Segundo os advogados de Cristiano Ronaldo, o problema é de interpretação. Defendem que não há delito e nem intenção de ocultar riqueza e que a estrutura societária que, de acordo com a Receita Federal, o jogador criou para fraudar a Fazenda, em 2010, um ano depois de chegar ao Real Madrid, já estava vigente. Concretamente, desde 2004, quando foi contratado pelo Manchester United. O próprio clube inglês, ainda de acordo com a linha de defesa do português, foi quem lhe disse que era uma prática habitual e que cumpria com a legislação do fisco britânico. Cristiano Ronaldo cedeu sua imagem para 11 patrocinadores entre 2009 e 2014.

Há alguns dias, da concentração de Portugal, o atacante do Real Madrid afirmou às câmeras da emissora de televisão Cuatro que está com a "consciência tranquila". Disse o mesmo, em outra entrevista, à La Sexta, antes da final da Champions. "Estou muito tranquilo, muito tranquilo. Sei que essas coisas se resolvem. Olho para a câmera, porque quando você faz as coisas direito, você olha para a câmera. E digo: eu durmo sempre bem", declarou o português que, mesmo assim, reconheceu que não era fácil afastar esses temas da cabeça e se concentrar apenas em jogar futebol.

"Um delinquente"

Já no estádio La Rosaleda, depois da última partida do Campeonato Espanhol, reclamou que foi tratado "como um delinquente". Reagiu assim ao ser questionado sobre o suposto gesto de segurar uma maleta que dirigiu a Gustavo Cabral, do Celta, durante a partida anterior, no Balaídos. Convencido de seu bom comportamento, Cristiano Ronaldo pediu mais carinho e mais de uma vez queixou-se do tratamento recebido na Espanha. "Não sou nenhum santo, mas também não sou o diabo", disse, em Málaga, no dia em que o Real Madrid conquistou a liga espanhola.

Cristiano, o maior goleador da história do Real, com 406 gols em 394 partidas, foi um dos protagonistas do 12º título europeu do clube da capital. Dos 12 gols que marcou nessa edição da Champions League, dez foram a partir das quartas de final. Marcou dois na Allianz Arena, contra o Bayern de Munique, três na partida de volta, no Bernabéu, mais três contra o Atlético de Madrid, no jogo de ida das semifinais, e dois contra a Juventus, na decisão de Cardiff. Fundamental na reta final da temporada, encarou o público umas duas vezes pedindo mais aplausos e menos vaias.

Segundo a France Football, o português, que ganhou a Bola de Ouro, em dezembro, e é o principal favorito para ganhá-la pela quinta vez este ano, foi o jogador de futebol com mais faturamento em 2016 (87,5 milhões contra os 76,5 de Messi). No último mês de outubro, renovou contrato com o Real Madrid até 2021 (terá 36 anos e afirmou que quer jogar até os 40), com uma cláusula de rescisão de 1 bilhão de euros. Todos os seus companheiros de equipe (Modric, Kroos, Lucas) que renovaram seus vínculos assinaram os novos documentos na sala de imprensa, acompanhados pelo diretor de relações institucionais Emilio Brutagueño. Cristiano Ronaldo pediu que a sua assinatura fosse realizada no palco de honra do estádio.

Não é a primeira vez que o português manifesta seu mal estar. Publicamente, fez isso em 2012, quando disse que estava "triste". "Por isso não comemoro os gols e o clube sabe o motivo". Agora, expressou incômodo com a Fazenda e a tempestade que criou pode resultar em um tsunami no mercado de transferências.

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