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Um exame do cérebro mostra onde se esconde a compaixão humana

A empatia pela dor alheia ativa os mesmos padrões cerebrais em várias pessoas

Miguel Ángel Criado
O pequeno Omran, de cinco anos, sobreviveu a um bombardeio na cidade síria de Alepo em agosto do ano passado.
O pequeno Omran, de cinco anos, sobreviveu a um bombardeio na cidade síria de Alepo em agosto do ano passado.ALEPPO MEDIA CENTER (AP)

A imagem do pequeno Omran, coberto de pó e ensanguentado, que abre esta matéria, provoca na maioria das pessoas uma intensa empatia. A fotografia do pobre Aylan, com sua camiseta vermelha e suas calças azuis, sem vida em uma praia turca, também suscita imensa empatia. Mas são empatias diferentes. A primeira gera compaixão, solidariedade e vontade de ajudar Omran. A segunda, dor, angústia e até vontade de olhar para o outro lado. Um estudo mostra agora as bases cerebrais das duas emoções.

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A empatia é um mecanismo neuronal básico nos humanos. Nas comunidades primitivas, essa capacidade de interpretar os estados mentais do outro e colocar-se em seu lugar servia para saber se os que se aproximavam do grupo tinham boas ou más intenções. A empatia é fundamental para as relações humanas. Tanto que, com exceção de psicopatas e determinados autistas, todos os humanos são seres empáticos. Um grupo de pesquisadores dos EUA estudou em que parte do cérebro se gera e se é igual em diferentes pessoas.

Os cérebros de 66 voluntários foram submetidos a exames de ressonância magnética funcional enquanto ouviam testemunhos reais de dramas humanos, alguns com final feliz, outros não. Fora do equipamento, os voluntários tiveram de avaliar como cada história os fez sentir. A primeira coisa que comprovaram é que a empatia não se restringe a uma região determinada do cérebro – muitas interferem, e com funções bem diferentes. “O cérebro não é um sistema de módulos no qual há uma região encarregada da empatia. Trata-se de um processo distribuído”, diz o diretor do laboratório de neurociência da Universidade do Colorado, em Boulder (EUA), e coautor do estudo, Tor Wager.

A partir da empatia despertada pelas histórias, os pesquisadores puderam apreciar dois padrões bem diferenciados entre a que tem a ver com a solidariedade e a compaixão e a angústia empática. Da primeira participam regiões cerebrais como o córtex pré-frontal ventromedial e o córtex medial orbito-frontal, relacionados aos processos com os quais o cérebro avalia algo. “As mesmas regiões que interferem na avaliação da comida ou do dinheiro aparecem envolvidas em nosso estudo quanto à avaliação do bem-estar dos outros”, explica Yoni Ashar, membro do grupo de Wager e principal autor do estudo.

No entanto, histórias como a de um veterano de guerra que acaba mendigando nas ruas ou a de um doente de câncer que acaba mal, que despertam mais angústia do que compaixão, ativam outras regiões do cérebro, como o córtex pré-motor e o córtex somatossensorial primário. Ambas são conhecidas por participar dos processos chamados de espelho. “As regiões cerebrais que aparecem de preferência relacionadas à angústia empática também são ativadas enquanto experimentamos ou observamos ações, sensações e expressões faciais”, comenta Ashar.

Mas o resultado que mais chamou a atenção deste trabalho publicado na revista Neuron é que todas as pessoas examinadas demonstram padrões cerebrais muito semelhantes quando empatizam com os protagonistas de cada história. Apesar de a emoção ser muito pessoal, o padrão de ativação é comum. De fato, puderam usar esses padrões como marcadores para prever como outro grupo de 200 pessoas, cujo cérebro não foi escaneado, avaliaria as mesmas histórias ouvidas pelo primeiro. Os pesquisadores acreditam que esses padrões podem, no futuro, ser úteis na detecção de transtornos como a psicopatia.

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