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Em declínio, secretário de Justiça de Trump responde pela trama russa no Senado

Jeff Sessions depõe hoje sobre vínculos com o Kremlin, pressões do presidente e demissão do diretor do FBI, James Comey

Jan Martínez Ahrens
O secretário de Justiça dos EUA, Jeff Sessions, fala em conferência em Atlanta em 6 de junho.
O secretário de Justiça dos EUA, Jeff Sessions, fala em conferência em Atlanta em 6 de junho.EFE

O secretário de Justiça, Jeff Sessions, um dos falcões de Donald Trump, depõe nesta terça-feira em sessão aberta no Comitê de Inteligência do Senado. Depois do depoimento explosivo, na última quinta-feira, do ex-diretor do FBI, James Comey, que acusou o presidente de tentar barrar a investigação, Sessions enfrentará um cenário hostil. Nos Estados Unidos, o cargo de secretário de Justiça acumula funções que, no Brasil, são exercidas pela Advocacia-Geral da União (AGU), pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo ministério da Justiça.

Apesar de os republicanos baixarem o tom, os senadores democratas direcionarão as baterias para a demissão de Comey, suas reuniões nebulosas com o embaixador russo em Washington e seu trabalho em campanha, durante os ciberataques do Kremlin à candidata democrata, Hillary Clinton. Qualquer equívoco de sua parte abriria uma brecha direta para o presidente dos Estados Unidos.

Sessions é uma figura em declínio. Em menos de cinco meses sofreu um dos maiores desgastes do Gabinete. O presidente se distanciou dele e sua capacidade de manobra se tornou muito limitada. Em março, após a queda do conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, o veneno da trama russa o atingiu em cheio. Quando se descobriu que tinha ocultado do Senado suas reuniões com o embaixador russo Serguéi Kislyak em Washington, Sessions negou qualquer envolvimento com o escândalo. Tomada por pura sobrevivência política, a decisão deixou o presidente vulnerável.

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O secretário de Justiça adjunto Rod J. Rosenstein ficou a cargo das investigações e de despachar sobre o assunto com o diretor do FBI, James Comey. Quando este foi destituído pelo presidente, Rosenstein também não resistiu à pressão. Diante da onda de desprestígio que ameaçava esmagá-lo, deu um passo histórico: para dissipar qualquer suspeita, nomeou investigador especial do caso o implacável Robert Mueller, diretor do FBI de 2001 a 2013. A medida, de que agora depende o futuro da presidência, foi comunicada à Casa Branca só 20 minutos antes de ser divulgada.

Tudo isso abriu um abismo entre Sessions e Trump. O homem que deveria ser o baluarte do presidente se tornou seu elo mais fraco. Não só estava inabilitado em tudo que tivesse relação com a trama russa, como também havia permitido que se abrissem as portas para um investigador especial disposto a chegar até o fim sobre o assunto. Trump concluiu que era “vítima de uma caça às bruxas”.

A crise entre ambos chegou ao ponto de o secretário de Justiça apresentar sua demissão. Não foi aceita. Mas a velha amizade estava comprometida. Quando, em 2015, Trump decidiu concorrer à Casa Branca, o então senador pelo Alabama foi um dos primeiros a oferecer apoio ao multimilionário. Era uma figura de passado racista e situada nas margens do tabuleiro político, mas a aversão ao islã, seu alarmismo migratório e a aposta nas deportações maciças fizeram deles mais que aliados. Juntos inflamaram a campanha. Com o apoio do agitador midiático Stephen Bannon e do islamofobóbico general Michael Flynn, conduziram a política dos Estados Unidos a extremos inesperados.

Essa proximidade com o candidato agora se revela tóxica. Sessions foi assessor eleitoral de Trump e, portanto, é uma figura central das investigações que procuram estabelecer se houve coordenação entre a equipe de campanha do republicano e o Kremlin durante os ataques da espionagem russa contra a candidata Hillary Clinton. Naquele período crítico, Sessions se reuniu duas vezes com o embaixador Kislyak. Encontros que, depois, quando ia ser nomeado secretário de Justiça, ocultou em suas audiências de confirmação no Senado. Essa relação com o Kremlin será um dos pontos quentes do depoimento desta terça-feira. E, com ela, a pergunta ainda sem resposta, embora insinuada por Comey, sobre se houve mais contatos com Moscou.

A postura sobre as declarações do ex-diretor do FBI também terá um papel decisivo em seu depoimento. Comey denunciou ao Comitê de Inteligência do Senado que o presidente tentou parar a investigação da trama russa. Sessions, como secretário de Justiça, foi seu chefe e, apesar de não se envolver no caso, terá de responder se estava a par das pressões e o que sabia sobre a demissão de Comey. Um equívoco, uma contradição ou simplesmente uma fissura podem abrir o caminho para tentar derrubar o presidente.

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