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Centenas de detidos na Rússia nas manifestações contra a corrupção

Os protestos, estendidos a todo o país, foram convocados pelo oposicionista Navalny, também preso

Pilar Bonet
Polícia russa prende um dos manifestantes em Moscou.
Polícia russa prende um dos manifestantes em Moscou.SERGEI KARPUKHIN (REUTERS)

Centenas de pessoas foram detidas na Rússia por participar de protestos contra a corrupção que, sob o lema “exigimos resposta”, tinham sido convocados em Moscou, São Petersburgo e outras cidades pelo político oposicionista Alexei Navalny por ocasião do feriado nacional desta segunda-feira. Na capital a manifestação transcorreu sem Navalny, que foi preso ao sair de sua casa. Os protestos, na mesma linha dos realizados em 26 de março, levaram às ruas milhares de descontentes (4.500 em Moscou e 3.500 em São Petersburgo, segundo o Ministério do Interior), em grande parte estudantes.

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Em Moscou, as autoridades deslocaram um grande contingente de forças, com efetivos das tropas de intervenção especial, OMON (subordinadas à Guarda Nacional), e até mesmo recrutas. As estimativas sobre a quantidade de detidos, segundo o Ministério do Interior, são de 150 em Moscou e de 500 em São Petersburgo, embora a publicação OVD-Info apresente cifras que chegam a 750 e 900, respectivamente.

O dia foi de contrastes. Na rua Tverskaya, em pleno centro da capital, enfrentavam-se os manifestantes, que agitavam bandeiras tricolores russas, e policiais que iam enchendo furgões com os presos e os enviando às delegacias: no Kremlin, em um ambiente solene, o presidente Vladimir Putin entregava os prêmios nacionais a cidadãos russos que se destacaram na ciência e na cultura, distribuía os primeiros passaportes a um grupo de adolescentes e recebia, como anfitrião, a elite convidada à grande recepção anual (em tendas nos jardins do Kremlin) por ocasião do “dia da Rússia”.

Polícia russa detém em Moscou um manifestante que usa uma camiseta com a foto do oposicionista Navalny.
Polícia russa detém em Moscou um manifestante que usa uma camiseta com a foto do oposicionista Navalny.TATYANA MAKEYEVA (REUTERS)

Os manifestantes gritavam slogans como “Fora, czar”, “Putin ladrão”, “A Rússia será livre”, “Somos o poder”, e “Renuncie Medvedev” (o chefe do Governo, Dmitri Medvedev, a quem Navalny acusa de ser o beneficiário de uma opaca trama financeira baseada em fundos beneficentes). A rua Tverskaya, a principal da cidade, tinha sido fechada ao tráfego para a realização de um passeio popular por cenários históricos reconstruídos, cabanas e barracas de campanha, barricadas e barreiras contra tanques, por onde circulavam animadores fantasiados de cavaleiros medievais e guerreiros em cota de malha, soldados do século XIX, da guerra contra Napoleão, e militares da Segunda Guerra Mundial. Para completar o teatro do absurdo, diante da prefeitura artistas com perucas e trajes do século XVIII dançavam e davam aulas de minueto.

Navalny, que pode ser condenado a 30 dias de prisão, tinha recebido permissão municipal para a manifestação em outro lugar da cidade, a avenida Sakharov, mas no domingo à noite anunciou que estava transferindo o ato para a rua Tverskaya, onde a autorização lhe havia sido negada, porque, segundo ele, várias empresas se negavam a instalar o palco e o equipamento necessário no primeiro local. O chefe do Serviço Federal de Segurança, Alexandr Bortnikov, qualificou de “provocação” a mudança de localização, e a decisão de Navalny dividiu os manifestantes, entre os quais se incluem os líderes forjados no movimento contra os planos de derrubada de casas. Alguns alegavam ser preciso fazer valer os direitos (limitados administrativamente) dos cidadãos de se manifestarem livremente no espírito da Constituição e outros temiam expor as pessoas à repressão dos órgãos de manutenção da ordem pública. No final, ocorreram os dois protestos e em ambos houve detidos.

A deputada municipal Yulia Galiamina, ativista contra as demolições, compareceu em ambos e disse ter sido fortemente espancada pela polícia. Segundo Galiamina, a polícia prendeu seu marido, depois de quebrar os óculos dele e golpeá-lo. Também houve manifestações de protesto em Vladivostok, onde quatro cossacos bateram em um participante e dez pessoas foram presas, e em dezenas de cidades russas, entre as quais Novosibirsk, Ekaterimburgo, Barnauli, Rostov do Don, Tula e Kaliningrado. O “dia da Rússia” comemora a proclamação da soberania do país (em relação à URSS), ocorrida no Kremlin em 12 de junho de 1990, quando Boris Yeltsin (na época, chefe do Parlamento russo) buscava obter do líder da União Soviética, Mikhail Gorbachov, mais poderes para a Rússia.

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