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Eleições no Reino Unido
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Dois candidatos do passado para um futuro pobre, irrelevante e obscuro

Os anglo-saxões deixaram de ser um exemplo democrático para o mundo – se é que alguma vez já foram

Imagens da campanha dos candidatos Theresa May e Jeremy Corbyn, candidatos que disputam as eleições no Reino Unido, nesta quinta-feira.
Imagens da campanha dos candidatos Theresa May e Jeremy Corbyn, candidatos que disputam as eleições no Reino Unido, nesta quinta-feira.REUTERS

Tão antigas as democracias, tão admirável o progresso científico, tão dominante sua língua, mas hoje Reino Unido e Estados Unidos estão fazendo papel de ridículo diante do mundo. Para Donald Trump já não sobram adjetivos; a realidade absurda supera qualquer possibilidade de paródia. O espetáculo político que os britânicos estão apresentando talvez não seja tão grotesco, mas é quase que igualmente confuso. Os anglo-saxões deixaram de ser – se é que alguma vez foram – um exemplo democrático para o mundo.

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Tanto o trabalhista Jeremy Corbyn como a conservadora Theresa May são os principais candidatos nas eleições britânicas desta quinta-feira. Para mim, parece impossível votar em qualquer um dos dois.

Ambos estão ancorados no passado: Corbyn no dos sonhos revolucionários cubanos, sandinistas, chavistas; May em uma imaginária era dourada imperial na qual as classes sociais sabiam qual era seu lugar no mundo, os ricos comiam sanduíches de pepino, os pobres, tortas de carne e rim, e os europeus não tinham contaminado a velha Albion com suas Spanish tapas, vinhos de Rioja, panetone, prosecco e outras influências culturais nocivas.

Sem querer, May se apresenta como uma rígida diretora escolar; Corbyn, como um desligado professor de geografia. Mas no fundo May teme as crianças sob seu comando, ou seja, seu eleitorado. E Corbyn não tem a menor ideia de como impor ordem na sala de aula nem possui qualquer tática para ajudar seus alunos a serem aprovados nos exames.

Ambos prometem, claro, prosperidade e igualdade: May à base de cortes, Corbyn, com mais gastos públicos. Poucos acreditam neles. Em parte porque não convencem como líderes, mas principalmente porque nenhum dos dois ofereceu alguma ideia concreta de como pretendem tirar o país da confusão colossal em que se meteu com o voto a favor do Brexit no referendo do ano passado.

Não faz sentido falarem do que vão fazer com as aposentadorias ou com a saúde pública quando não oferecem nenhum plano que mostre com que diabos o Reino Unido vai sair da União Europeia sem que a economia desabe. Se não há dinheiro nos cofres públicos, qualquer conversa sobre a futura prosperidade ou igualdade é pura fumaça.

A banalidade da campanha eleitoral britânica é fruto das deficiências de May e Corbyn, mas, para ser minimamente justo com eles, a decisão de seus compatriotas de sair da União Europeia colocou os dois em uma situação impossível. Repetem os mantras eleitorais habituais, tentam projetar otimismo, mas os dois sabem – May com mais clareza, porque possui mais informações – que há pouco a ser feito. O futuro do Reino Unido fora da Europa é pobre, irrelevante e obscuro.

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