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Arábia Saudita, Emirados Árabes, Bahrein e Egito cortam relações com Catar por “apoio ao terrorismo”

Ministério do Exterior catariano reprova a decisão, que considera “injustificada”

Ángeles Espinosa
Trump troca aperto de mão com o emir do Catar, o xeque Tamim, em sua visita à capital saudita, em 21 de maio.
Trump troca aperto de mão com o emir do Catar, o xeque Tamim, em sua visita à capital saudita, em 21 de maio.MANDEL NGAN (AFP)
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As divergências do Catar com seus vizinhos eclodiram nesta segunda-feira. A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos (EAU), o Bahrein e o Egito romperam relações diplomáticas com o pequeno e rico Estado do Golfo Pérsico, depois de dez dias de crescente tensão. Riad, que acusa Doha de estimular o terrorismo por causa de seu apoio ao islamismo político, também fechou sua fronteira – a única saída terrestre do emirado. O Catar negou as alegações e acusa os demais países de uma tentativa “inaceitável” de submetê-lo à sua tutela. Além da queda da bolsa de valores catariana, o atrito provocou uma alta do petróleo e o cancelamento de vários voos regionais.

A ação combinada desses países, aliados sob a liderança saudita, é uma tentativa clara de isolar o Catar, que sempre manteve certa independência em suas políticas regionais. Os quatro Estados, a quem se uniram o governo iemenita de Abdrabbo Mansur Hadi (que vive na Arábia Saudita) e o governo do leste da Líbia (apadrinhado pelos EAU), anunciaram o fechamento de seus espaços aéreos, portos e aeroportos às companhias catarianas. Além disso, as três petromonarquias  também proibiram seus cidadãos de viajarem para o Catar, e deram duas semanas para que catarianos abandonem seus territórios.

Pouco depois da notícia sobre a ruptura dos laços, as companhias aéreas Etihad, Emirates, FlyDubai e Saudia deixaram de viajar para Doha. A Arábia Saudita e seus aliados também informaram que vão tomar medidas para tentar que países e companhias parceiras bloqueiem o trânsito de e para o Catar através de seu espaço aéreo. Tal medida ameaça os voos da Catar Airways, a segunda maior companhia aérea da região, atrás da Emirates.

O eventual bloqueio ao espaço aéreo catariano e o fechamento da fronteira saudita – a única terrestre do Catar – ameaça o abastecimento de alimentos ao país, que se prepara para sediar a Copa do Mundo de 2022. Não está claro como a decisão pode afetar a base que os Estados Unidos têm no pequeno emirado, ainda que, sem dúvida, coloca Washington na difícil situação de ter que escolher entre um lado e o outro. O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, declarou na Austrália, onde está em visita, que a disputa não vai afetar a luta contra o jihadismo, e que Washington incentivou seus aliados no Golfo a resolverem suas diferenças, segundo a Reuters.

Por enquanto, o Catar se encontra expulso da coalizão militar dirigida pela Arábia Saudita no Iêmen, de onde fornecia vários aviões para bombardear os rebeldes Huthi. O enfrentamento diplomático também provocou a queda da bolsa de Doha e estimulou a alta do petróleo nos mercados internacionais.

“São medidas injustificadas e sem fundamento”, queixou-se o Ministério das Relações Exteriores do Catar em um comunicado obtido pela agência AFP. Para Doha, há “um objetivo claro: colocar o Estado [do Catar] sob tutela, o que constitui uma violação de sua soberania” e é “absolutamente inaceitável”.

O texto oficial lembra que o respeito à soberania é um dos princípios da carta do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), o foro que o Catar integra, junto com Arábia Saudita, EAU, Bahrein, Kuwait e Omã. Mas, apesar das tentativas de estabelecer uma posição comum diante dos desafios regionais – como as primaveras árabes, a ascensão do islamismo e, sobretudo, a ameaça representada pelo Irã -, as diferenças parecem incontornáveis.

Enquanto Riad, Abu Dhabi e Manama se mostraram especialmente combativos diante de Teerã, Doha, Kuwait e Mascate se inclinam – com maior ou menor intensidade – para o diálogo com o Irã. No entanto, foi novamente o Catar que despertou o mal-estar, após a recente visita do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Arábia Saudita.

Não está claro que ocorreu durante a reunião que os seis líderes do CCG tiveram com Trump. Dois dias depois, o emir do Catar, o xeque Tamim, estava no centro de uma estranha polêmica por causa de algumas declarações – negadas por Doha – nas quais ele teria criticado a frente anti-iraniana adotada no encontro e se mostrado cético em relação ao Governo Trump. As divergências não são novas. Já em 2014, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Bahrein retiraram seus embaixadores de Doha, mas na atual ocasião as medidas anunciadas apontam para outro nível.

A Arábia Saudita decidiu romper relações com Doha para “proteger sua segurança nacional dos perigos do terrorismo e do extremismo”, afirmou uma fonte oficial citada pela agência saudita SPA ao anunciar a notícia. São palavras muito duras em um momento em que os atentados ocorridos no Reino Unido fizeram alguns políticos europeus deixarem de lado o discurso politicamente correto e apontar para o extremismo religioso derivado da versão saudita do islamismo, o wahabismo.

A imprensa dos EAU têm informado insistentemente que o Catar não foi capaz de conter aqueles indivíduos que apoiam o terrorismo dentro do país. As autoridades bloquearam todos os veículos de comunicação catarianos, inclusive a rede de televisão Al Jazeera. Durante o fim de semana, a imprensa do país relatou o vazamento de e-mails atribuídos ao embaixador dos EAU em Washington, nos quais aparentemente se destaca sua conivência com uma campanha contra o Catar.

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