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Coluna
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O esteio da casa está podre

Suspeitas de corrupção atingem nomes escolhidos a dedo pelo presidente Michel Temer

Michel Temer e Eliseu Padilha em Brasília: ministros do Governo resistem no cargo mesmo sob investigação.
Michel Temer e Eliseu Padilha em Brasília: ministros do Governo resistem no cargo mesmo sob investigação.Ueslei Marcelino (REUTERS)
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O presidente não eleito, Michel Temer, perdeu quatro de seus cinco assessores especiais, envolvidos em denúncias de corrupção: Sandro Mabel, Tadeu Filipelli, Rodrigo Rocha Loures e José Yunes. O assessor especial é um cargo comissionado, ocupado por pessoas de extrema confiança do presidente. Embora não tenham estatuto de ministros, na prática desfrutam de poder ainda maior, já que seus gabinetes encontram-se no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos metros de onde despacha o presidente.

Espécie de coringas, os assessores especiais servem tanto para aconselhar política e juridicamente o presidente, quanto para substituí-lo em reuniões e eventos. Eles consultam deputados e senadores para auscultar suas tendências e também ouvem empresários e movimentos sociais para encaminhar demandas. Ou seja, ao contrário de outros cargos do primeiro e segundo escalões, em geral ocupados por indicações de partidos visando alianças políticas, o assessor especial é uma escolha pessoal do presidente, baseada em camaradagem e intimidade. Portanto, Temer pode até argumentar que não tem responsabilidade pelas ações obscuras de seus ministros, mas não pode alegar ignorância a respeito do caráter de seus assessores especiais.

A mais recente defecção, entre os assessores especiais de Temer, é Sandro Mabel (Mabel por causa da marca de biscoito, da qual é proprietário). Ex-deputado por Goiás, Mabel é acusado por executivos da Odebrecht de ter recebido dinheiro de caixa 2 na campanha de 2010. Ele também é suspeito de ter feito parte de um esquema para aprovar uma medida provisória, com vistas a reduzir alíquotas do PIS/PASEP e da Cofins, em troca de dinheiro, R$ 2 milhões a serem divididos entre alguns políticos. Em sua carta de demissão, Mabel, que chamou Temer de “meu amigo”, evocou razões familiares para deixar o cargo.

Outro assessor, José Filipelli, foi exonerado após ser preso pela Polícia Federal numa operação deflagrada a partir da delação de executivos da construtora Andrade Gutierrez sobre a existência de um esquema de corrupção durante a construção do Estádio Mané Garrincha, de Brasília, para a Copa do Mundo de 2014. Segundo as investigações, o superfaturamento da obra chegou a R$ 900 milhões. Felipelli, ex-vice-governador do Distrito Federal, era considerado um dos assessores mais próximos de Temer.

O deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PR) teve sua prisão pedida pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot. Ele, que segundo denúncia de Joesley Batista, do grupo JBS, seria o nome designado pelo próprio Michel Temer para tratar de seus interesses junto ao governo, foi flagrado pela Polícia Federal recebendo uma mala com R$ 500 mil em propina. Rocha Loures é herdeiro da Nutrimental, empresa do ramo alimentício.

Já o advogado José Yunes, amigo de mais de 40 anos de Temer, deixou a assessoria do presidente, em dezembro, após denúncia do ex-executivo da Odebrecht, Claudio Mello Filho. Mello Filho afirma que teria participado de uma reunião no Palácio do Jabuti com Temer, Marcelo Odebrecht e o então deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS), quando ficou acertado apoio financeiro de R$ 10 milhões ao PMDB para a campanha eleitoral de 2014. Uma parcela do pagamento, no valor de R$ 1 milhão, teria sido entregue no escritório de Yunes, em São Paulo. Em depoimento espontâneo à Procuradoria Geral da República, Yunes confirmou que recebeu um pacote das mãos do doleiro Lúcio Funaro, que seria destinado a Eliseu Padilha, mas alega que não sabia do conteúdo nem da transação.

Atual ministro da Casa Civil, Padilha nega qualquer envolvimento com a operação, e continua prestigiado por Temer, com quem mantém relações pessoais desde a década de 1990, quando se conheceram na Câmara dos Deputados. Padilha é um campeão de sobrevivência política suprapartidária. Ministro dos Transportes durante no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, entre 1997 e 2001, assumiu noGoverno da petista Dilma Rousseff a Secretaria de Aviação Civil, entre janeiro e dezembro de 2015. Ele responde a dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de receber repasses ilegais da empreiteira Odebrecht.

Em termos de sobrevivência suprapartidária, Padilha só perde para Moreira Franco. Responsável pelo programa de concessões do governo, Moreira Franco foi nomeado ministro da Secretaria-Geral da Presidência, pasta recriada por Temer para garantir foro privilegiado ao amigo, que, como Padilha, também está sob investigação do STF. Assessor especial de Fernando Henrique, entre 1999 e 2003, foi ministro de Dilma Rousseff durante todo o seu primeiro mandato: secretário de Assuntos Estratégicos, entre janeiro de 2011 e março de 2013, e secretário da Aviação Civil, entre março de 2013 e janeiro de 2015, quando foi substituído justamente por Padilha. Moreira Franco, aliás, é sogro do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, como presidente da Câmara, é responsável por dar ou não andamento aos pedidos de impeachment de Michel Temer...

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